O papel de fatores comportamentais e ecológicos no ajuste de mamíferos a ambientes desafiadores
socialidade, impactos humanos, risco de extinção, habilidades cognitivas
O contexto ambiental é determinante para a persistência das espécies. As rápidas mudanças ambientais advindas das atividades humanas, por exemplo, têm levado a alterações comportamentais de animais, que tentam se ajustar a essas mudanças, mas caso o ajuste não seja possível, populações podem declinar ou mesmo espécies podem ser extintas. Portanto, é importante identificarmos os fatores comportamentais que potencialmente favorecem ou desfavorecem as espécies diante desses impactos. Um dos fatores comportamentais que pode ser afetado pelas características ambientais é o grau de socialidade das espécies. Algumas evidências apontam que diferenças em componentes sociais estão associados a distintas habilidades cognitivas. A literatura também traz evidências de que maiores habilidades cognitivas podem ajudar a lidar com desafios ambientais. Neste contexto, temos como objetivo na presente tese avaliar o potencial papel de componentes sociais no risco de extinção de espécies de mamíferos (capítulo 1), e compreender os possíveis mecanismos envolvidos, especificamente, se as diferentes habilidades cognitivas são preditas por diferenças em componentes sociais, dieta ou longevidade de espécies de primatas (capítulo 2). Os pressupostos da relação entre socialidade e cognição são baseados em proxies como o tamanho do grupo e do cérebro, respectivamente, e consideramos medidas de outros aspectos sociais, bem como medidas comportamentais para testar as hipóteses de forma mais direta e completa, através de estudos comparativos com base em dados da literatura e bases de dados, considerando as filogenias. Encontramos que, de fato, características sociais são importantes para o risco de extinção de mamíferos, já que espécies com cuidado biparental e com comportamento sexual promíscuo possuem menor risco de extinção. Ademais, grupos sociais maiores e espécie com laços sociais e relações de dominância possuem maior risco de extinção que tamanhos de grupo menores e espécies solitárias, respectivamente. No entanto, encontramos que apenas maior longevidade se associou a maiores habilidades cognitivas em primatas. Discutimos os mecanismos sociais e ecológicos que possivelmente desfavorecem a persistência das espécies, e destacamos algumas lacunas de informações na literatura relevantes para os estudos da evolução da cognição e da ecologia evolutiva e ecologia comportamental, além de trazemos sugestões para estudos futuros com base em nosso processo de pesquisa.