CURSO DOS SINTOMAS DE ASMA ENTRE A INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA: USOS, LIMITES E PERSPECTIVAS DE ESTRATÉGIAS DE ANÁLISE EM ESTUDOS LONGITUDINAIS
Análise de Transição Latente, Dados longitudinais, Dados faltantes, Sintomas de asma.
Apesar dos esforços para identificar fatores de risco/proteção para a asma/sintomas de asma, a etiologia da doença permanece pouco compreendida, bem como a sua dinâmica ao longo do tempo, especialmente na transição da infância para a adolescência. Inicialmente, realizou-se uma revisão sistemática sobre o uso de métodos estatísticos em estudos longitudinais de asma nos últimos 20 anos. Identificaram-se 45 estudos epidemiológicos, que demonstraram uma utilização incipiente de métodos estatísticos para dados longitudinais com medidas repetidas do desfecho e, por conseguinte, de estudos que avaliaram longitudinalmente os fatores de risco associados à ocorrência de asma/sintomas de asma em diversas fases da vida, como infância e adolescência. Seguiu-se com um estudo envolvendo dados longitudinais de asma provenientes do Projeto Social Changes, Asthma and Allergy in Latin América (SCAALA-Salvador), com participantes acompanhados desde a infância até a adolescência, com o intuito de avaliar os fatores de risco associados à ocorrência longitudinal de asma/sintomas de asma da infância à adolescência, através da aplicação de três técnicas estatísticas avançadas para modelagem de dados com medidas repetidas. Adicionalmente, avaliou-se o impacto da presença de dados faltantes na análise dos dados longitudinais de asma, bem como o uso da imputação múltipla como estratégia para lidar com os dados ausentes em covariáveis e no desfecho, considerando diferentes percentuais e mecanismos de dados faltantes, No geral, as estimativas dos modelos logístico GEE e logístico multinível foram consistentes na mesma direção, demonstrando o efeito deletério da atopia, asma materna e transtorno mental comum materno na ocorrência dos sintomas de asma ao longo do tempo. As análises com dados ausentes e imputação múltipla demonstraram que a presença de missing na covariável é mais prejudicial do que o missing no desfecho, e que, se uma única variável apresenta alto percentual de dado faltante as estimativas obtidas com o uso da imputação podem ser inválidas. Por fim, utilizou-se a Análise de Classes Latentes (LCA, Latent Class Analysis) para definir fenótipos de asma na infância e adolescência, assim como Análise de Transição Latente (LTA, Latent Transition Analysis) para explorar os padrões longitudinais dos sintomas de asma, avaliando as transições entre tais fenótipos e o efeito de preditores que foram associados à ocorrência longitudinal de sintomas de asma. Os fenótipos encontrados foram nomeados de “Saudável” e “Sintomático”. Cerca de 5% de indivíduos saudáveis na infância passaram a ser sintomáticos na meia infância, o mesmo tendo sido observado na transição da meia infância para a adolescência. Transtorno mental comum materno foi apontado como fator de risco para estados menos saudáveis tanto na infância quanto na adolescência. Estudos longitudinais são essenciais para o estudo da asma, uma vez que a sua história natural permanece pouco compreendida, assim como ainda não há consenso sobre os fatores que contribuem para a sua dinâmica ao longo do tempo. Sendo a asma a doença mais comum na infância, e responsável por altos custos para o sistema de saúde, a identificação de fatores associados pode contribuir substancialmente para formulação de estratégias visando não só a prevenção da doença, mas seu controle ao longo do desenvolvimento infantil e na adolescência.