“AQUILOMBADA RESISTO. FORJEMOS UM MUNDO NOVO!” Escrevivências de Mulheres Negras Ativistas do Campo da Saúde da População Negra da Bahia
Mulheres Negras. Saúde da População Negra. Ativismo. Feminismo Negro. Escrevivência.
“Aquilombada resisto. Forjemos um mundo novo!”. Esse é um trecho que ecoa em toda a escrita desta tese. Trecho de uma música que faz parte do meu tornar-se ativista e a nossa forma de organização: aquilombadas. Escreviver sobre mulheres negras ativistas vem do desejo em referenciar a nossa ancestralidade, visibilizar escrevivências que rompe com o destino organizado pelo racismo antinegro e potencializar as existências de mulheres construtoras de um mundo novo. O ativismo se insere, nesse sentido, enquanto uma estratégia crucial de enfrentamento à sociedade antinegra e racista. A atuação das mulheres negras ativistas caminha em torno das articulações em rede no processo de consolidação do Bem-Viver. Forjar novas formas (e resgatar as já organizadas) de vida é um desafio para todos os grupos que acreditam em justiça social. Em vista do resgate aos saberes do povo negro, a postura política e epistemológica que assumimos neste trabalho foi a partir da lente interseccional. Olhamos a realidade social a partir do fenômeno interseccional porque nos dá a possibilidade de encarar com responsabilidade e coerência as iniquidades em saúde, como o racismo produz as negligências, e quais corpos são invisibilizados e passíveis de morte. E além, e sobretudo, a lente interseccional nos permite o espaço do protagonismo coletivo, retirar a cortina da invisibilidade e dizer em alto e bom som: somos mulheres potências, somos mulheres trovões! Posto isso, a tese tem o objetivo de analisar trajetórias de mulheres negras cuja atuação (no estado da Bahia) tem contribuído para a produção de conhecimentos, políticas públicas e/ou práticas ancestrais de cuidados voltados para a saúde da população negra. Para tal, lançou mão da metodologia feminista e antirracista, através da ferramenta da Escrevivência, cunhada pela escritora Conceição Evaristo. As escrevivências percorreram trajetórias – com suas singularidades e vivências comuns – que passam pelo tornar-se ativista, protagonista e referência no campo da Saúde da População Negra, o existir e resistir para o Bem-Viver, o semear das práticas ancestrais de cuidado, além de os caminhos trilhados para a construção de uma Saúde Coletiva antirracista. Busquei ampliar assim o olhar da Saúde Coletiva sobre o seu próprio campo de luta e sua história, buscando conferir visibilidade às muitas mulheres que também lutaram pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e pela Reforma Sanitária e por justiça social. A Saúde Coletiva precisa reconhecer outras vozes e outros sujeitos que estavam na linha de frente e foram silenciadas(os) e invisibilizadas(os) pelo fato de que o grupo racial branco é o principal reconhecido como protagonistas da área. É, portanto, um trabalho de reparação histórica e de mudança de perspectiva. As Escrevivências aqui contadas marcam territórios de lutas, histórias, potências, existências e corpos que ainda resistem apesar de toda adversidade, e resistem porque há circularidade, há coletivo, há refúgios e estratégias de sobrevivência necessárias para existir nesse mundo. A roda segue girando. “[...] sorrir enquanto luta é uma forma de confundir os inimigos”, nos informa Sérgio Vaz em sua poesia. Sorrir é uma das armas contra o racismo, viver é uma arma poderosa! Bem-Viver é possível? Não temos respostas. Mas enquanto não naturalizarmos o genocídio, a morte cotidiana, enquanto denunciarmos a necropolítica que estrutura o projeto de morte desse país, enquanto estivermos lutando por um mundo sem racismo, seguiremos essa utopia. Aquilombadas resistimos. Forjemos um mundo novo!