Exposição precoce aos metais potencialmente tóxicos, determinantes sociais e crescimento fetal.
Metais potencialmente tóxicos, peso ao nascer, neurodesevolvimento, determinantes sociais, Modelo bioecológico de Bronfenbrenner’s.
Introdução: Durante a gestação e a infância, as crianças são mais vulneráveis à toxicidade dos metais potencialmente tóxicos (MPT). As condições sociais desfavoráveis favorecem a exposição aos MPTs, além de influenciar seu impacto no desenvolvimento infantil; por exemplo, o neurodesenvolvimento (ND) e o crescimento fetal (CF). Considerando este aspecto social da poluição ambiental, um crescente corpo da literatura recomenda uma perspectiva multidimensional e integrado para investigar a toxicidade de poluentes como os MPTs, além de encorajar mais pesquisas em países de baixo e media renda (LMICs). Objetivos: Para os três estudos independentes: Artigo 1) Apresentar um modelo conceitual que permita integrar as características sociais e biológicas das crianças durante a gravidez e a infância para melhor explicar a neurotoxicidade dos MPTs; Artigo 2) investigar a exposição aos MPTs das gestantes recrutadas da coorte DSAN, e os fatores associados a tais exposições; Artigo 3) investigar associação entre a exposição a cada metais e o peso ao nascer das crianças além de averiguar possível efeitos combinados destes metais no peso ao nascer. Métodos: Artigo 1) A partir da perspectiva do Modelo Bioecológico de Bronfenbrenner (MBB) estendido ao mundo físico, desenvolveu-se um modelo conceitual que integra características sociais e biológicas no estudo da neurotoxicidade dos MPTs; Artigo 2) Dados sociodemográficos e hábitos gerais foram coletados por questionários aplicados às 163 gestantes dos municípios de Aratuípe e de Nazaré das Farinhas, incluídas na coorte DSAN-12M. Investigamos os determinantes da exposição ao chumbo (Pb), cádmio (Cd), arsênico (As) e manganês (Mn). Medimos os níveis desses metais no sangue (PbS e CdS), no cabelo (AsC e MnC), nas unhas dos pés (MnUp) e as taxas de deposição do Pb na poeira (TxPb) em suas casas por espectrofotometria de absorção atômica em forno de grafite (EAAFG). Artigo 3) Investigamos a relação entre a exposição materna ao chumbo (Pb), cádmio (Cd), manganês (Mn) e peso ao nascer (PN) de 74 recém-nascidos. O sangue foi coletado durante o segundo trimestre da gravidez para determinar os níveis de Pb (PbS) e Cd (CdS), enquanto o cabelo (MnC) e as unhas dos pés (MnUp) foram usados para Mn. As amostras foram analisadas por espectrofotometria de absorção atômica em forno de grafite (EAAFG). Dados sociodemográficos, idade gestacional (IG) e PN foram coletados a partir de questionários e prontuários da maternidade. Resultados Artigo 1) O conceito de MBB que estrutura o contexto social em quatro níveis (micro, meso, exo e macrosisstema) que influencia o desenvolvimento pela relação gene-social, foi estendido ao ambiente físico, onde atuam os MPTs. Considerando a plausibilidade biológica das interações gene-ambiente (social e físico), apresentamos como fatores biológicos e sociais podem influenciar conjuntamente com os MPTs o neurodesenvolvimento infantil. Artigo 2) Dos quatro metais avaliados, o Cd apresentou uma situação preocupante, com até 61,1% (IC 95%: 52.4–69.3) das gestantes apresentando níveis de CdS acima das referências sugeridas na literatura. No entanto, o As não foi detectado em quase 97% delas enquanto poucas tinham níveis de PbS (5.1; 95% CI: 2.1–10.1%) e de MnC ou MnH, (4.3; 95% CI: 2.3–10.1%) elevados. O baixo nível socioeconômico, a queima de lixo doméstico, ser passivo fumante, a multiparidade e reformar sua residência foram fatores associados aos níveis elevados de Mn, Pb e Cd nas participantes. Artigo 3) Considerando os recém-nascidos incluídos na análise, as medianas (Percentil25–Percentil75) de PbS, CdS, MnC e MnUp foram, respectivamente, 0,9 (0,5–1,8) μg/dL; 0,54 (0,1–0,8) μg/L; 0,18 (0,1–0,4) μg/g e 0,65 (0,37–1,22) μg/g. Meninas e meninos apresentaram respectivamente, como médios (desvio padrão) do PN 3.067 (426,3) e 3.442 (431) gramas. Encontramos influência dos MPTs no PN segundo o sexo; pois a correlação inversa entre a MnUp e a razão PN/IG foi somente nas meninas (rho= –0,478; p=0,018). Embora a relação do PN com o CdS não tenha sido estatisticamente significativa, a regressão linear hierárquica (Beta= –2,08; IC95% -4,58 a 0,41) sugeriu um efeito fetotóxico. Conclusões: A parte teórica deste trabalho apresentou uma perspectiva da saúde ambiental baseado em modelos teóricos das ciências humanas para ter uma abordagem mais ampla para estudar toxicidade de poluentes em seres humanos. Este olhar é ainda mais importante em países em desenvolvimento como o Brasil. Em relação à investigação exploratória encontramos baixo exposição ao Pb e Mn em conjunto com alto nível de Cd nas gestantes recrutadas pelo estudo DSAN-12M. Evidenciamos a ameaça que representam estes os MPTs para a crescimento fetal demostrando assim a urgência de se implementar o biomonitoramento especialmente em populações em situações de vulnerabilidade social.