Racismo Institucional e Vivência Universitária: reflexões sobre a saúde mental de estudantes negros e quilombolas em uma universidade pública
Universidade, Política de Ações Afirmativas, Saúde Mental, Permanência, Estudantes
As pesquisas sobre saúde mental no ambiente universitário por vezes não levam em consideração aspectos sociais que influenciam na vivência acadêmica dos estudantes, a exemplo, do racismo, machismo e LGBTfobia. A negligência desses fatores impede que as políticas universitárias de permanência e de promoção de saúde mental contemplem a realidade experienciada pelos diversos sujeitos que compõem a universidade. O racismo, como fenômeno estruturante da sociedade brasileira, estabelece privilégios e desvantagens com base na identificação racial dos sujeitos e se reproduz também no âmbito institucional. Desse modo, impacta no acesso a recursos materiais e simbólicos de pessoas não brancas em diferentes contextos, o que inclui a universidade. Com base nessa compreensão, este trabalho de conclusão tem como principal objetivo compreender como o racismo institucional influencia a permanência universitária e a saúde mental de estudantes negros e quilombolas na universidade. Como objetivos específicos, busca: a) descrever como o sofrimento psíquico decorrente do racismo institucional afeta a vida emocional, social, psicológica e a formação dos estudantes negros e quilombolas; b) identificar estratégias de enfrentamento ao racismo institucional construídas pelos discentes; c) elaborar estratégias que permitam o acolhimento e a solução de situações discriminatórias na universidade; d) instrumentalizar a universidade para combater o racismo institucional e seus efeitos na saúde mental da comunidade universitária. O trabalho de conclusão é composto por três artigos, os quais dialogam entre si. O primeiro artigo, de cunho teórico, se propõe a refletir sobre os impactos do racismo no processo de sofrimento psíquico em universitários negros e utiliza como referência os estudos de intelectuais negras e negros. Discute como o racismo institucional organiza as relações nas instituições de ensino e considera que sua identificação pode produzir a desnaturalização das violências e a quebra de mecanismos de silenciamento. Conclui pela relevância de historicizar as conquistas do povo negro. No segundo artigo é proposta uma revisão bibliográfica por meio da utilização combinada das palavras-chave: estudantes negros, permanência universitária, universidade, relações étnico-raciais e cotas nas plataformas: SciElo, LILACS e Banco de Teses e Dissertações CAPES. Tem como objetivo discutir como o racismo institucional pode influenciar a permanência de estudantes negros e quilombolas na universidade. Os dados foram organizados em duas categorias: estratégias estudantis para permanência na universidade e programas institucionais para permanência de estudantes, sendo possível apreender estratégias formais e informais de enfrentamento ao racismo institucional. Foi possível identificar a necessidade de desenvolvimento de políticas universitárias que considerem aspectos étnico-raciais de modo a combater o racismo institucional. O terceiro artigo tem como objetivo apresentar o resultado da pesquisa realizada com os estudantes autodeclarados negros e quilombolas do Instituto Multidisciplinar em Saúde, campus Anísio Teixeira, da Universidade Federal da Bahia (IMS-CAT/UFBA), em Vitória da Conquista. Foi realizado um estudo qualitativo, descritivo no período de agosto a outubro de 2021, quando foram realizadas oficinas online com alunos de diversos cursos. A análise das oficinas permitiu concluir que o racismo institucional é vivenciado de forma direta por meio do epistemicídio e da discriminação em decorrência da pertença quilombola, bem como se apresenta de forma indireta por meio da limitada informação a respeito da política de ações afirmativas. Concluímos, então, pela necessidade de investimento em um programa de permanência que atrele fatores de ordem financeira e psicossocial ao enfrentamento do racismo institucional e que envolva toda a comunidade acadêmica. Em seguida, como produto decorrente de um mestrado profissional, apresentamos a proposta de um programa institucional para acolhimento de estudantes negros e quilombolas na universidade e para enfrentamento do racismo institucional.