CONTRIBUIÇÕES DAS TEORIAS DE ORGANISMOS PARA O CURRÍCULO DE BIOLOGIA DO ENSINO MÉDIO
Ensino de biologia, organização, transposição didática
A presente tese tem por objetivo derivar implicações das teorias do organismo para o currículo de Biologia do ensino médio. Estruturada no formato multipaper, ela é composta por dois artigos. O primeiro artigo é intitulado “Como tratar do organismo no ensino médio de biologia: implicações para o currículo” e se insere num esforço mais amplo de estabelecer critérios para seleção de conteúdos conceituais para o currículo de Biologia. Nele, mostramos como os currículos atuais tratam os organismos de forma fragmentada, enfatizando as diferenças entre os grupos filogenéticos e trazendo um grande número de conceitos muito específicos. Argumentamos que, se queremos um ensino interdisciplinar de Biologia que não a reduza à Química e à Física e que permita uma compreensão integrada dos organismos e do que todos eles têm em comum, devemos buscar nas teorias do organismo recursos para reformular os currículos. Analisamos então a teoria geral do organismo proposta por Zamer e Scheiner e a teoria do grupo ORGANISM, identificando os conceitos estruturantes destas teorias, e propomos com base neles quatro objetivos de aprendizagem que podem servir de base para estruturar parcialmente o currículo de Biologia em torno do conceito de organismo. O segundo artigo, intitulado “A Teoria da Autonomia e a descontinuidade conceitual entre sistemas e linhagens: uma primeira aproximação” é uma contribuição original à Teoria da Autonomia (integrante do esforço do grupo ORGANISM) no âmbito da filosofia da biologia. Analisamos aspectos da teoria do ponto de vista da descontinuidade conceitual entre a Biologia de sistemas e a Biologia de linhagens apontada por Caponi. Mostramos como a descontinuidade traz problemas à concepção de variação adotada pela teoria e como o tratamento unificado das funções intrageracionais e das funções intergeracionais significa tratar das funções (e, por extensão, das restrições) como classes. Neste segundo caso, o status ontológico da organização como regime causal não redutível às partes de um sistema ficaria ameaçado. Sendo um trabalho de filosofia da Biologia, a contribuição para o ensino se dá de maneira indireta ao contribuir para tornar a Teoria da Autonomia mais robusta, além de esclarecer alguns de seus fundamentos e conceitos principais, o que contribui para que ela seja didaticamente transposta.