“Vivo a minha vida, dou risada, fulereio quando eu guento eu sambo, to pelo meio, e é isso aí”: uma cartografia cultural do bairro da Engomadeira.
Território, Engomadeira, Manifestações Culturais Negras, Cartografia Cultural, Performance.
O presente estudo tem por objetivo traçar uma cartografia cultural desapegada dos elementos técnicos/tradicionais da geografia; para isso propõe elaborar narrativas sobre o bairro da Engomadeira - localizado na região do miolo central da cidade de Salvador/BA. A partir das perspectivas oralizadas de moradoras e moradores do bairro, desenho aproximações entre as histórias contadas sobre o território da Engomadeira, e um arcabouço conceitual acerca do território e da habitação. Num segundo momento, detenho-me em manifestações culturais negras do bairro - capoeira, as festas do Terreiro Viva Deus Filho, e a Parada LGBTQIA+, com ênfase nas expressões destas manifestações evidenciadas nas interlocuções da pesquisa. No que concerne à última seção do trabalho, proponho alargar as tramas da cartografia cultural através da performance no breakdance apresentada pelos b-boys no/do bairro. As seções foram construídas em torno do questionamento dos modos como as cartografias culturais negras da Engomadeira contam e são contadas o/no território, tendo como ferramentas metodológicas a entrevista semiestruturada, a cartografia cultural, e a performance; e como base teórica destacam-se as referências de Milton Santos, Gabriela Leandro Pereira, Jörn Seemann, Leda Maria Martins, Muniz Sodré, bell hooks, Fred Moten etc. A partir das narrativas das interlocutoras e dos interlocutores, compreendo que as experiências negras, nas expressões culturais destacadas, evidenciam maneiras radicais de viver a cidade. Todas passam por uma ética/estética espiralar de modos negros de viver/fazer a cidade, desde as formas de habitação, que têm a herança quilombola como pano de fundo na geografia do território até as manifestações religiosas e/ou recreativas.