À FLOR DA PELE: DESEJO HOMOSSEXUAL, GÊNERO E CORPORALIDADE NAS NARRATIVAS DE
CASSANDRA RIOS (1950-1980)
Lesbianidade. Sexualidade. Cassandra Rios.
Busco me aproximar desse movimento, mapeando quais noções em torno da lesbianidade e do gênero são construídas nas narrativas A noite tem mais luzes (196-) e Eu sou uma lésbica (2006 [1980]). Tomando como ponto de partida algumas cenas que são tecidas através da perspectiva das suas personagens protagonistas, Pascale e Flávia, respectivamente, tento compreender a maneira pela qual desenvolvem a percepção do próprio
amor/desejo e de si(s), assim como mobilizam noções que estavam disponíveis à época em torno da lesbianidade e instauram certo regime de (in)visibilidades relacionado à vivência da sexualidade. Buscando fazer uma leitura do texto cassandriano que privilegie o diálogo com outras produções, principalmente aquelas elaboradas em meio ao feminismo lésbico, em torno das lesbianidades, e de outras produções que estavam em circulação no período e/ou que atravessam e constituem o tecido narrativo, pois penso que é possível situar dessa maneira a produção da autora de modo mais justo frente às questões e aos debates de seu tempo. Acredito também que, confluindo junto a elas, outras leituras e produções mais contemporâneas, escolhidas pelas afinidades eletivas em torno do tema ou dos afetos que me mobilizam, como o trecho do poema da escritora, pesquisadora e tradutora negra tatiana nascimento (2020) que abre esta seção, se faz aqui desejo em investir na polifonia e na articulação de outros tempos, espaços e vozes mais plurais. A leitura assim proposta tenta escapar, em alguma medida, da lógica linear, até porque a própria percepção e vivência da temporalidade na qual as (es, os) oprimidas (es, os) estão inseridas (es, os) se constrói a partir de uma percepção que confere certa atemporalidade aos sistemas de opressão que nos constituem e dos estereótipos que atravessam as nossas identidades.