A ESTRANGEIRIDADE DA INFÂNCIA EM POR QUE A CRIANÇA COZINHA NA POLENTA, DE AGLAJA VETERANYI
Infância. Circo. Migração. Literatura Menor. Literatura de língua alemã.
É num cenário instável, onde o picadeiro e as luzes do circo mais parecem um pesadelo, que se ambienta a narrativa de Por que a criança cozinha na polenta (2004), escrita pela artista e poeta romena Aglaja Veteranyi. Nela, uma família de atores circenses percorre a Europa Central, tal como nômades, fugindo do regime ditatorial de Nicolae Ceaușescu, na Romênia. A narradora, uma menina, dá voz aos seus medos e fantasias infantis, enquanto descobre que crescer é também lidar com o que há de hostil, decadente e perturbador à sua volta. O circo, onde vive a protagonista, apresenta-se não como local de deslumbramento, zombarias e diversão – imagem a qual nos habituamos, através das representações tão fortemente perpetuadas em nosso imaginário –, mas enquanto caótico espaço de permanente ameaça e horror, nos limites do qual a criança cria estratégias de sobrevivência, reconstruindo, pelas vias da imaginação, um refúgio individual. No presente trabalho, busca-se provocar leituras de modo a entender como a experiência circense e nômade ativam a infância em Por que a criança cozinha na polenta. Acionando as noções de “desvio”, “margem” e “fronteiras”, presentes nos aspectos tanto temáticos quanto formais da poética de Aglaja Veteranyi, a dissertação seguirá pelas rotas do modelo cartográfico deleuziano, no exercício de um devir-infância – o qual se efetiva na medida em que liga as particularidades e potencialidades do ser criança à condição de artista à margem e estrangeiro.