MEMÓRIAS DA BAHIA ESCRAVAGISTA DO SÉCULO XIX EM UM DEFEITO DE COR
Escravização: História; Memória: Resistência
Este trabalho objetiva analisar o romance Um defeito de cor (2006) de Ana Maria Gonçalves de modo a identificar como é representa ficcionalmente a escravização na Bahia do século XIX. Devido às sistemáticas tentativas de apagamento do período escravocrata, simultaneamente às tentativas de abrandamento das violências dessa tenebrosa mácula da história da humanidade, há a necessidade de se atentar para os discursos que visem mostrar este lado encoberto. Um defeito de cor se insere nessa perspectiva, pois a partir das memórias da personagem principal, há a ressignificação do período histórico que foi construído pela versão do colonizador, trazendo à tona séculos de silenciamento. A narrativa em questão se configura como um importante material de análise política, social e cultural dos povos negros, e, ainda que seja uma obra ficcional, seus personagens refletem todo um contexto de conflitos, anseios pessoais, coletivos e organização social dos afro-brasileiros. Faz-se necessário salientar que este trabalho não se detém na reflexão da barbárie em si desse período, que já é suficientemente conhecida por nós, mas nas estratégias de sobrevivência e resistência que os personagens lançaram mão, seja através de revoltas individuais e coletivas, fugas, formação de quilombos etc. Para uma melhor compreensão do romance e sua intersecção entre a história e a ficção, utilizarei o conceito de metaficção historiográfica, empregado para definir o romance ficcional que se respalda em fatos históricos para a construção de sua trama, essas narrativas utilizam partes da História como elementos da narrativa, mas não possuem, necessariamente, o mesmo comprometimento com o real que uma pesquisa historiográfica oficial teria. Palavras-chave: Escravização; História; Memória; Resistência.