E EU NÃO SOU UMA ESCRITORA?
Vozes-mulheres renomeando lugares de existência
na escrita de autoria negro-feminina
Cena literária contemporânea, autoria negro-feminina,
inespecificidade, campo expandido das artes.
Esta pesquisa discute como escritoras negras usam diversas manobras estéticas na cena
literária contemporânea, por meio de um jogo de escrita performático, para construir seus
projetos literários que se distanciam da tradição canônica e fazem conexões com outras
linguagens artísticas. Para tanto, pretendo investigar como essas produções deslocam a escrita
literária, buscando driblar, tensionar e subverter os espaços de invisibilidade e silenciamentos
impostos historicamente a essas autorias por uma sociedade moldada por sistemas coloniais,
patriarcais, misóginos e racistas. Concentrarei minha análise nos projetos poéticos das
escritoras baianas Deisiane Barbosa e Luciany Aparecida, cujos investimentos literários
adotam estéticas de difícil categorização, extrapolando os limites estabelecidos e
transbordando para um fora de si (Garramuño, 2014). Essas propostas desafiam o modelo
canônico de literatura, provocam uma suspensão na recepção e desestabilizam o papel da
crítica, que se vê diante de obras consideradas “frutos estranhos”, necessitando de ferramentas
teóricas distintas para sua leitura e interpretação. Como uma professora-pesquisadora negra,
atravessada por essas subjetividades, decidi incorporar como metodologia a escrevivência de
Evaristo (2017), explorando uma experiência de escrita expandida com viés autobiográfico
para melhor leitura e compreensão desses projetos. Para tanto, estabelecerei diálogos com
teorias e pensamentos críticos que me auxiliarão na análise do corpus selecionado, incluindo
conceitos de uma diversidade de intelectuais, como performance e tempo espiralar (Leda
Maria Martins, 2021), inespecificidade e campo expandido das artes (Garramuño, 2014),
memória (Kilomba, 2019), interseccionalidade de gênero/raça (Santiago, 2012), feminismos
negros (hooks, 2020), entre outros.