Do Quarto de despejo aos Becos da memória: espaços de dor e resistência em Carolina Maria de Jesus e Conceição Evaristo
Carolina Maria de Jesus; Conceição Evaristo; Escreviviência; Favela; Espaço
Esta pesquisa se debruça sobre as obras Quarto de despejo: diário de uma favelada (1960) de Carolina Maria de Jesus, e Becos da memória, de Conceição Evaristo (2006), a fim de analisar a as representações da favela, buscando-se perceber até que ponto esta emerge como espaço de (des)afetos e de pertencimento ou não para as pessoas que nela vivem. Percebe-se que há um processo de desfavelamento tanto em uma obra como em outra. Buscar-se-á entender como ele ocorre, por que razões e suas repercussões em ambas as narrativas. No caso de Carolina de Jesus, estender-se-á a análise até a obra Casa de alvenaria, visto conter as repercussões da sua mudança da favela, um desejo veementemente acalentado e confessado pela escritora-narradora ao longo da sua fala em Quarto de despejo. Como se trata de textos de autoria negra feminina, ancorados na memória, o conceito de escrevivência servirá de operador crítico para a leitura deles. Paralelamente a tais investigações, observar-se-á também como a escrita é empregada pelas escritoras como arma de resistência e de enfrentamento aos obstáculos e de denúncia das mazelas vividas por elas na condição de mulheres negras e pobres bem como por seus pares favelados representados nos romances. O suporte teórico da geografia humanista, a partir de conceitos como espaço e lugar, topofilia e topofobia (OLIVEIRA, 2017; RELPH, 1979; TUAN, 2012, 2018) e estudos sobre a favela (VALLADARES, 2005; KELH, 2010; ZALUAR; ALVITO, 2019) serão acessados para a análise das relações das pessoas com o espaço.