CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES NO BRASIL EM MOVIMENTO DE GLAUBER ROCHA [1964 A 1968]: DO POPULAR AO POPULISMO
Sertão; Beatismo; Cangaço; Popular; Populismo.
Nos decênios de 1950 e 1960, num contexto marcado pelo tensionamento político e pela consolidação de diferentes leituras acerca da formação, história e cultura do Brasil, múltiplos foram os discursos de nacionalidade, a respeito dos quais houve intensa repercussão/debate na imprensa, nos meios acadêmicos e na arte. A tese do Brasil popular esteve projetada no discurso histórico, literário e social desde a década de 1920 e foi teorizada com mais ênfase na década de 1950, a partir do debate propagado no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (ISEB). A visão do país populista se concretizou no acalorado debate da política nacional de meados do século XX e foi aportada como tese nos estudos das ciências sociais no decurso da década de 1960 como marca mais emblemática da política brasileira daquele período. Esse debate binômico calcinou a alocução nacional bifurcada entre o ideal de reforma do Estado e a denúncia da demagogia política e alienação das massas. A proposta desta tese é investigar o movimento de continuidade e descontinuidade entre popular e populismo nos filmes Deus e o diabo na terra do sol (1964), Maranhão 66 (1966), Terra em transe e O dragão da maldade contra o santo guerreiro (1969), do cineasta baiano Glauber Rocha, à luz da crônica histórica, da memória coletiva popular e das teses sociológicas contemporâneas às essas narrativas fílmicas. Os enredos cindidos entre a perspectiva revolucionária e o pessimismo/frustração, os personagens populares ora tendendo para a militância política e social, ora tangidos pela alienação, os líderes políticos e populares convergindo para a luta contra opressão ou transversalizados pela demagogia são fatores basilares para a composição de um contínuo-descontínuo na representação da luta e da repressão, da resistência e da censura, da resiliência e da resignação, da bifurcação entre o popular e o populismo no discurso de nacionalidade propositado pelo autor baiano em sua filmografia entre 1964 e 1969.