Sonhando um mundo por vir: a psicanálise literária como método teórico, clínico, político e poético
Psicanálise; Literatura; Psicanálise literária.
O que é psicanálise literária? É a partir dessa pergunta que nasce esta tese de doutoramento. Trata-se de uma expressão criada por Lucia Castello Branco para fazer alusão à psicanálise que tem na letra o seu principal operador teórico e, na literatura, aliada à psicanálise, os fundamentos que sustentam uma prática da letra. Sabemos que as articulações entre literatura e psicanálise não são recentes, elas acontecem desde o comecinho da psicanálise com Freud, e depois com Lacan, e continuam acontecendo com aqueles que, seguindo os percursos freudiano e lacaniano, buscam fazer uma ponte epistemológica entre esses dois campos. O campo relacional entre literatura e psicanálise não é, portanto, uma novidade, inédita aqui é a supressão da conjunção “e”, na medida em que ao chamar esse encontro de psicanálise literária, adjetivamos a psicanálise e dessubstantivamos a literatura a fim de propor uma nova abordagem para os estudos tanto da literatura quanto da psicanálise, buscando definir princípios éticos, políticos e poéticos que possam oferecer a esses dois campos (e ao mundo) novos modos de leitura, escuta, escrita e interpretação (do mundo). Nesse sentido, ao se questionar como o dispositivo da psicanálise literária pode operar no texto literário e na clínica psicanalítica, esta pesquisa estabelece conexões transversais não apenas entre a literatura e a psicanálise, ou entre textos literários e uma leitura psicanalítica implicada com estes, mas também entre estudos culturais e posicionamentos éticos e políticos. O corpus é composto principalmente pelas obras de Clarice Lispector e Carolina Maria de Jesus, sobretudo porque Clarice e Carolina são – e devem ser cada vez mais reconhecidas como – intérpretes literárias de um povo, o povo brasileiro, e de um tempo, que é, simultaneamente, o tempo em que viveram, escreveram e publicaram os seus livros e o atual, o nosso. Trata-se de uma pesquisa atravessada pelo afeto, do desejo de criação de um espaço de vida ao mesmo tempo institucional, textual e amoroso em que literatura e psicanálise possam convergir neste mundo em queda, sonhando um mundo por vir.