TRAVESSIAS PELO MAR DA EXPERIÊNCIA:O papel da experiência na construção do sujeito, na determinação da identidade e como resposta à crise dos sistemas de peritos
experiência, narrativas, crise de sistema de peritos, identidade.
A presente tese explora o uso da experiência vivida como instrumento de construção e organização de diferentes tipos de discurso, desde o artístico até o acadêmico, na contemporaneidade. O fenômeno observado é amplo e forte, não se restringindo apenas ao universo da representação e das reflexões teóricas, mas atingindo também os discursos que sustentam a vida social e cotidiana dos indivíduos. Acredita-se que há uma relação entre a força desse fenômeno e as inúmeras crises pelas quais o mundo contemporâneo passa, principalmente as crises dos sistemas peritos, que organizavam a vida dos indivíduos e os processos de entendimento do mundo. A crise epistemológica, que faz parte dessa crise de peritos, aparece, nessa leitura, como elemento fundamental para o uso da experiência vivida como forma de conhecer e dar sentido às coisas. A configuração da produção contemporânea se dá a partir de um diálogo direto com as urgências do nosso tempo, assim como a ficção mais tradicional foi fruto de uma determinada configuração histórica e social. O trabalho realizado nesta tese é resultado de um diálogo entre diferentes obras e elaborações discursivas e os trabalhos de teóricos e acadêmicos de diversas áreas do conhecimento, que pensam principalmente sobre organização social, a relação entre as estruturas sociais e a produção artística e teórica, além de questões identitárias. Conclui-se, a partir deste estudo, que o uso da experiência vivida como instrumento de construção e organização de diferentes tipos de discurso é uma resposta às crises profundas e abundantes que atravessam nossa vida e nossos afetos. Este fenômeno não deixa de considerar as questões de plataformização da vida e os interesses midiáticos, mas para além das questões tecnológicas, performáticas e de espetacularização do 'eu', a experiência aparece como uma forma aparentemente não mediada de conhecer e dar sentido às coisas, trazendo, portanto, elementos de autenticidade, legitimidade e ética.