ARTICULAÇÕES DE “ÚTEROS” FECUNDOS, BANHADOS COM ÁGUAS DE FETO E AFETO EM MAYA ANGELOU E CONCEIÇÃO EVARISTO
Útero-cabeceira. Útero-cabaça. Útero-voz. Escrita-trança. Escrita-gestada escrevivente.
Esta escrita-gestada escrevivente é uma leitura-correnteza de experiências de maternidades nas Améfricas (GONZALEZ, 1988a), em textos literários de Maya Angelou (2010, 2018a, 2018b), Conceição Evaristo (2016a, 2016b) e de outras escritoras negras. Molho essa investigação também com as minhas memórias de uma comunidade de mulheres que me acompanham nessa trança criativa. Apresento como questão de pesquisa: como e por que as escrevivências evidentes nas obras escolhidas como corpora de pesquisa fecundam uma escrita matripotente? Como objetivo geral: evidenciar como as escrevivências presentes nos corpora escolhidos herdam um legado que pretendem fecundar uma nova travessia de interpretação sobre maternidades negras na literatura das Améfricas. Para atingir tal objetivo geral, os seguintes objetivos específicos foram necessários: i) articular a escrita de “úteros” fecundos de Maya Angelou e Conceição Evaristo, por meio das cartografias de temas, elementos, atravessamentos e cenas de maternidades negras; ii) identificar como o processo de engravidar, gestar, nutrir e cuidar das crianças, o próprio lugar da instituição maternidade para mulheres negras está relacionado a uma série de direitos sequestrados; iii) descrever nessas escritas matripontes como e por que as maternidades e as maternagens aparecem sob o ponto de vista e com o corpo de mulheres negras, mesmo diante das precariedades de existência e das solidões cotidianas; iiii) examinar nessas escrevivências diaspóricas de maternidades negras as categorias estéticas-literárias de úteros-fala como lugar do afeto, lealdade, liberdade, ancestralidade e do amor, dado o significado político, social e afetivo dessas práticas; Para tanto, cocrio de joelhos com a matripotência de Oyěwùmí (2016), a noção de escrita-trança como alinhavo metodológico das memórias ancestrais tecidas e retecidas nesse movimento embrionário de retorno à nossa casa-uterina, por meio de contrações solares escreviventes (EVARISTO, 2007; 2020) e interseccionais (CRENSHAW, 2002; COLLINS, 2017; AKOTIRENE, 2018). Ao longo de cada mapa, traçado, rota de palavras, os movimentos foram de quebrar re-presas, irromper com as escritas-águas as camadas que solidificaram (e solidificam) o edifício da maternidade. O trançado dessa leitura cosmopercetiva (OYĚWÙMÍ, 2002), é uma crítica literária negra sobre maternidade como uma gestação, em que cada trimestre/seção teve tubas uterinas que alimentaram o embrião epistêmico em fase de crescimento: i) no primeiro trimestre, relacionei a imagem do útero-primeiro, como uma potência de continuidade ancestral com a imagem do útero-cabeceira, nascente, uma fonte de vida para a comunidade, mesmo vilipendiado, controlado, mutilado, não cessou e nem cessa suas águas deslizantes; ii) no segundo trimestre, busquei alinhavar com a imagem do útero-cabaça como essas mães negras guardam/espalham/sopram a vida diante das mais diversas situações: fome, miséria, pobreza, violência e solidões; e, por fim, iii) no terceiro trimestre, através do útero-fala como lugar de cura, fortaleza, invenção e alegria, reverenciei as grandes mães por me ajudarem a entender que a maternidade é metodologia de vida que pulsa nos ventres negros.