Léxico marginal: malandragem e mudança linguística
Marginalidade. Malandragem. Léxico. Linguística Histórica. Ressignificação.
O fenômeno da marginalização permite uma ampla reflexão acerca da sociedade brasileira. A partir dele, é possível identificar uma série de processos que repercutem na língua, dentre eles a estereotipação, que se revela como uma contundente forma de opressão contra segmentos excluídos da sociedade. Nesse sentido, designações como “malandro” aparecem como marcadores do estigma atribuído a determinadas pessoas. Apesar disso, um outro processo emerge em contraposição: a ressignificação, pela qual os próprios setores discriminados reagem à pecha que lhes é atribuída. Diante disso, a pesquisa aqui empreendida buscou compreender, paralelamente, tanto a mudança envolvendo as unidades lexicais analisadas como as próprias condições, fatores e circunstâncias que emolduraram esse processo ao longo da história, o que motivou a busca por variados referenciais das ciências sociais. Além disso, filiando-se à Linguística Histórica, este trabalho buscou operar um amplo corpus – com destaque àquele disponível na Hemeroteca, plataforma da Biblioteca Nacional Digital –, o que permitiu a análise de textos e de documentos que perpassam três séculos, desde o XIX até o atual, trafegando desde jornais de economia dos anos 1810 até letras de funk que tocavam na segunda década do presente século. Com essa premissa, a análise das unidades se dará na extensão e diversidade da própria sociedade que a utilizou e transformou, não se restringindo a uma perspectiva oficialesca e elitista. Nesse sentido, para muito além dos dicionários, contemplaram-se os jornais, bem como as canções de compositores comuns, dos morros e favelas do Brasil. Especulou-se, acerca disso, a existência de um “modo comum histórico” para algumas unidades lexicais, que, dessa maneira, requereram uma categoria igualmente interdisciplinar, proposta com o nome de “campo sociolexical”, a fim de abarcar unidades que passam por uma trajetória comum, associada a um mesmo processo social.