DO MANGUEZAL ÀS "CASAS": as Múltiplas Dimensões do Trabalho das Mulheres Marisqueiras no território quilombola de Santiago do Iguape
Palavras-chave: Marisqueiras; Manguezal; Maré; Quilombos; Território; Trabalho; Racismo.
Este trabalho discute as relações entre a vida produtiva e reprodutiva das mulheres marisqueiras inseridas na cadeia produtiva da pesca e/ou mariscagem na Comunidade Quilombola de Santiago do Iguape, localizada no município de Cachoeira (BA). O texto expõe análises resultantes de uma pesquisa de natureza qualitativa, composta por entrevistas com mulheres marisqueiras e por uma imersão no território de Santiago do Iguape com o objetivo de acompanhar o trabalho dessas mulheres, que vai do manguezal e se estende até as casas. A partir de uma abordagem teórico-metodológica centrada no campo dos debates feministas negro e materialista e das análises marxistas sobre a escravidão e o racismo na formação social brasileira, a tese descreve o trabalho das marisqueiras e analisa algumas de suas dimensões: a ligação entre a produção e os ciclos da maré, demarcando a jornada de trabalho; a relação entre a memória e o corpo no aprendizado das técnicas de captura dos mariscos; a presença do território do manguezal entrelaçando as vidas que pulsam na lama; o atravessamento do espaço da casa pelas etapas do beneficiamento das espécies capturadas. Com base nessas reflexões, a tese argumenta que as mulheres marisqueiras enfrentam jornadas intermitentes o que revela a divisão sexual e racial do trabalho presente na cadeia produtiva da pesca e/ou mariscagem. Do mesmo modo, aponta a desproteção social e a precarização do trabalho das mulheres, evidenciada na falta de instrumentos e/ou ferramentas que garantam segurança e condições laborais dignas, elementos que revelam a ausência do Estado na garantia de políticas públicas voltadas para essas trabalhadoras. Ademais, toda a argumentação procura reconstruir o contexto mais amplo e destrutivo do capitalismo financeirizado, expresso especialmente nos ataques aos territórios tradicionais, aos corpos e vidas de inúmeros grupos populacionais, que se tornam alvos de profunda exploração e violações múltiplas.