MERGULHANDO NAS ÁGUAS DAS EMOÇÕES: A DINÂMICA DO CICLO DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NAS RELAÇÕES AFETIVO-AMOROSAS DE MULHERES NEGRAS
Raça; Gênero; Emoções; Ciclo da Violência
Neste estudo são apresentadas reflexões a respeito das implicações entre raça, gênero e emoções no processo de permanência de mulheres negras em situação de violência doméstica. De metodologia qualitativa, o estudo partiu do método construtivo-interpretativo para construir e interpretar as informações, também utilizou-se das teorias feministas de gênero e raça, estudos sobre raça e da teoria da subjetividade da psicologia histórico-cultural para fazer uma leitura interdisciplinar sobre o fenômeno. Realizou-se conversações com duas mulheres negras, cisgênero, sem filhas/os o ex-parceiro da relação em que viveu violência doméstica, independentes financeiramente, que residiam no interior do Estado da Bahia. Os dados foram analisados a partir do método construtivo-interpretativo, através dos instrumentos "sistemas conversacionais" e "complemento de frases", que foram elaborados de acordo com os objetivos da pesquisa. O ciclo da violência pode ser visto como importante ferramenta para evidenciar os aspectos emocionais envolvidos na dinâmica dos relacionamentos com violência doméstica, que aliados aos conceitos de gênero e raça possivelmente constituem os vínculos afetivos dentro destas relações. Ressalta-se que dentre as mulheres, as negras estão em situação de maior vulnerabilidade em função da intersecção do sexismo e racismo ainda presentes em nossa sociedade. A literatura aponta que a permanência no ciclo da violência afeta negativamente a vida das mulheres e sua saúde mental, denunciando a situação de extrema vulnerabilidade social e emocional onde as mesmas se encontram. Concluiu-se que a difícil decisão de romper o ciclo envolve uma diversidade de aspectos que constituem a violência doméstica, onde há uma busca por acolhimento e afeto por parte dessas mulheres, já que em suas vidas há pouco ou nenhuma oferta de amor, o que as torna mais vulneráveis. Romper com a lógica do amor branco romântico-burguês e construir maneiras de amar e formar comunidade pautadas em valores africanos é um caminho possível para o combate a vivência desta violência na vida de mulheres negras.