Autonomia reprodutiva de mulheres quilombolas e participação dos parceiros em suas escolhas reprodutivas.
Mulheres quilombolas; parceiros; participação; escolha; autonomia reprodutiva
A autonomia reprodutiva de mulheres quilombolas é uma temática que ainda pouco estudada, principalmente no que concerne à compreensão acerca da participação dos parceiros nas escolhas reprodutivas dessas mulheres. A presente pesquisa integra um projeto guarda-chuva composto por quatro teses sobre autonomia reprodutiva de mulheres quilombolas e trabalhadoras rurais nos estados da Bahia e Pernambuco. O estudo em questão visa preencher a lacuna existente quanto aos estudos de gênero, raça e saúde com mulheres quilombolas no campo dos estudos em saúde sexual e reprodutiva. Esta investigação teve por objetivo geral analisar a autonomia reprodutiva de mulheres e a participação dos parceiros em suas escolhas reprodutivas e específicos : caracterizar as mulheres quilombolas quanto ao perfil social, sexual e reprodutivo das comunidades de Giral Grande e Porto da Pedra; identificar aspectos sociais, econômicos, culturais e familiares que influenciam nas escolhas e na autonomia reprodutiva das mulheres quilombolas; discutir a participação dos parceiros nas escolhas reprodutivas das mulheres quilombolas. A pesquisa foi realizada com 60 mulheres quilombolas em idade reprodutiva adulta entre 18 e 49 anos, com experiência reprodutiva, que já possuíram ou possuem parceiros, em duas comunidades rurais quilombolas de Giral Grande e Porto da Pedra, localizada no Município de Maragogipe no Recôncavo Baiano. Trata-se de estudo quantitativo de cunho epidemiológico analítico, observacional, de Corte Transversal. Para a análise dos dados coletados utilizou-se procedimentos da estatística descritiva para expressar os resultados como frequências absolutas e relativas, médias, medianas, desvios padrão (DP), amplitudes interquartis (AIQ), valores mínimos e máximos. A normalidade dos dados foi aferida por meio dos testes Shapiro-Wilk e Kolmogorov-Smirnov, enquanto que, a homocedasticidade foi testada pelo teste de Levene. Comparações entre dois grupos foram realizadas pelos testes Mann-Whitney ou t de Student para amostras independentes, ao passo que, comparações entre três grupos foram realizadas por intermédio dos testes Kruskal-Wallis ou análise de variância (ANOVA) one-way. As correlações de Spearman e Pearson foram usadas para verificar associações entre idade e autonomia reprodutiva. O nível de significância adotado no estudo foi de 5% (α = 0,05) e todas as análises foram realizadas no IBM SPSS Statistics para Windows (IBM SPSS. 21.0, 2012, Armonk, NY: IBM Corp.). Os resultados da pesquisa demonstram que mulheres quilombolas do território do Guaí, Maragogipe, apresentaram elevada autonomia reprodutiva, principalmente nos domínios tomada de decisão e ausência de coerção. Mulheres que se autodeclararam pretas apresentaram maior autonomia reprodutiva relacionada a “ausência de coerção”, comparadas as mulheres de outras cores/raças. O trabalho realizado de forma autônoma, impactou negativamente a autonomia reprodutiva geral das mulheres quilombolas. As experiências de gestação e de parto foram fatores associados a menor autonomia reprodutiva nos constructos “ausência de coerção”, “comunicação” e “autonomia reprodutiva total.