BOTE AS MÃO PRO CÉU E AGRADEÇA POR NÃO SER UMA TRANS NEGRA: HISTÓRIAS DE VIDA DE MULHERES TRANS E TRAVESTIS NEGRAS DE SALVADOR E REGIÃO METROPOLITANA
Travestis, Mulheres Trans, Transfobia, Racismo, Interseccional, História de Vida.
As estatísticas apontam que travestis no Brasil tem expectativa de vida de 35 anos. A cada 24 horas uma mulher trans ou travesti é assassinada no país, porém esses dados de mortes referem-se as travestis brancas, para as pardas e negras essa a média de vida é reduzida para 27 anos, o que acentua o seu lugar de vulnerabilidade. Ao refletir acerca da história e expectativa de vida da população trans negra é imprescindível colocar em evidência o efeito do racismo e transfobia nas suas trajetórias. Para tanto, não podemos pensar o racismo e transfobia como fenômenos isolados nestes corpos - é preciso analisar numa perspectiva interseccional que enfatiza o cruzamento dos marcadores sociais que colocam essas sujeitas em outra posição, de modo a refletir nas construções de gêneros e corpos numa perspectiva trans e racial. Para ajudar a entrelaçar a teoria interseccional e trajetórias de vidas redijo as histórias de quatro mulheres trans negras que relatam suas vivências desde a infância até a fase adulta, marcadas pelos episódios de racismo, transfobia - ou como elas relatam, apanhando sem nem saber o porquê. Para exame das narrativas optei por análise do discurso, o qual me permitiu explorar um pouco mais as falas das minhas colaboradoras. Nessa pesquisa encontrei como resultado as violências vivenciadas em todas as etapas da vida e do seu cotidiano, efeitos das violências, a baixa expectativa de vida e projeção do futuro. Por outro lado, encontro também nas suas narrativas, mulheres que promovem o diferencial social mexendo nas estruturas sociais e que divergem do lugar que nossa sociedade, imbricada de estruturas sociais marcadas, espera que travestis e mulheres trans ocupem.