O AVESSO DO ESPAÇO DOMÉSTICO MODERNO: DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO E A PRODUÇÃO HABITACIONAL DE INTERESSE SOCIAL
Divisão sexual do trabalho. Habitação moderna de interesse social. Arquitetura moderna. Sintaxe Espacial. Teoria Feminista.
Como a organização espacial das habitações modernas de interesse social afeta a ideia de exclusividade feminina na realização das tarefas domésticas? A presente dissertação parte deste questionamento para investigar a influência da divisão sexual do trabalho na produção e nos modos de uso e apropriação do espaço doméstico moderno em conjuntos habitacionais de interesse social, propondo uma análise crítica feminista das propriedades morfológicas dos seguintes objetos arquitetônicos que apresentam espaços coletivos de serviços domésticos: Conjunto Habitacional Mendes de Moraes, popularmente conhecido como Pedregulho (Afonso Reidy e Carmem Portinho, 1946-1953), situado na cidade do Rio de Janeiro, Conjunto Habitacional Armando de Arruda, denominado como Japurá (Eduardo Kneese de Melo, 1947), localizado na cidade de São Paulo, e Conjunto Residencial Salvador, intitulado popularmente como IAPI (Hélio Cavalcanti Uchoa, 1948), construído na cidade de Salvador. Esta investigação evidencia que a apropriação do espaço doméstico e a produção arquitetônica habitacional são elementos influenciados (e que também reproduzem) pelas relações sociais de sexo. A reprodução social, entendida como reprodução da força de trabalho e sustentação do cotidiano, é largamente ancorada no trabalho não remunerado de mulheres na esfera privada e não pode ficar à margem do debate do processo projetual, nem da elaboração dos espaços domésticos. Diante das poucas reflexões sobre a temática, esta dissertação pretende colaborar no debate sobre as correlações entre as dinâmicas das relações sociais de sexo e a produção habitacional arquitetônica. No contexto em que se inserem, os estudos sintáticos, associados à ótica feminista, confirmaram as prerrogativas textuais para as unidades habitacionais modernas e revelaram que o simples fato de ser mulher induz uma ocupação e apropriação dos espaços de forma diferenciada, uma vez que as dinâmicas que envolvem a divisão sexual do trabalho estruturam a morfologia das habitações de interesse social.