Reprodução e Resistência na Vida Cotidiana: Uma análise a partir das Experiências de Mulheres em Grupos Comunitários
Organizações comunitárias. Mulheres populares. Vida Cotidiana. Feminismo Popular.
A presente tese reflete sobre a relação entre organizações comunitárias protagonizadas por mulheres em bairros periféricos e movimentos de mulheres e feministas assim como movimentos populares mistos (homens e mulheres). Se propõe a investigar a constituição destas organizações a partir do território em que estão localizadas, Região Metropolitana do Recife/Pernambuco e a dinâmica da vida cotidiana das mulheres que organizam estes grupos. A investigação se deu a partir de alguns eixos principais, foram eles: a discussão sobre a vida cotidiana e tempo das mulheres em atividades consideradas políticas e domésticas; como as dimensões de raça, classe e gênero se relacionam e como se dá a relação entre as organizações comunitárias e os movimentos de mulheres e feministas; a discussão acerca do protagonismo das mulheres nestes grupos que se organizam nos bairros periféricos e a reprodução e resistência diante às desigualdades e injustiças sociais. Percebemos que a forma como as mulheres se organizam nestes lugares está imbricada ao próprio processo de formação social, histórica e econômica das cidades de Recife e Olinda assim como do estado de Pernambuco. As mulheres protagonistas deste tipo de organização política são as mulheres negras, residentes dos bairros populares deste contexto urbano. Assim, o lugar ocupado por este grupo social no mercado de trabalho, índices socioeconômicos assim como no território significam uma conservação de elementos provenientes do processo de colonização local. A tese aqui defendida se constitui da afirmação de que no contexto brasileiro e, especificamente na Região Metropolitana do Recife, este tipo de organização comunitária pode ser considerada como um tipo de expressão de feminismo popular, em que o local de moradia está diretamente relacionado ao protagonismo das mulheres nestas organizações. Representam, portanto, resistência à permanência das desigualdades de raça, gênero e classe e, constituem importante elemento na autodefinição das mulheres enquanto sujeitas históricas, políticas e coletivas. Afirmamos ainda que as organizações comunitárias protagonizadas por mulheres, no contexto brasileiro assim como na Região Metropolitana do Recife, significam uma importante forma de mobilização e politização das mulheres e que em ambos os grupos pesquisados elas se autodefinem como construtoras do feminismo. Assim, destacamos a importância deste tipo de organização tanto no que se refere aos processos organizativos das mulheres quanto para a organização política em geral, que se propõe a vitórias concretas e processo de formação de consciência crítica e transformadora.