'EU MATEI MEU MARIDO': UM ESTUDO SOBRE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA, INSUFICIÊNCIAS DO ESTADO E O DIREITO DAS MULHERES À AUTODEFESA.
autodefesa; sistema de justiça criminal; violência conjugal; criminologia; mulheres
Trata-se de análise interdisciplinar e partindo de um paradigma feminista antirracista, do uso da autodefesa como forma de sobrevivência por mulheres em situação de violência, tensionando a sua relação com o Estado e com o Sistema de Justiça Criminal. Qual a relação entre as insuficiências do Estado no enfrentamento da violência conjugal contra mulheres e o uso da autodefesa? Para responder essa questão, analisei quatro casos de mulheres negras que mataram companheiros agressores na Bahia, selecionadas a partir de coleta de dados junto ao Conjunto Penal Feminino de Salvador/BA entre 2012 e 2019. Com abordagem qualitativa e multirreferencial, sempre partindo das entrevistas semiestruturadas realizadas com três das participantes para direcionar a revisão bibliográfica, o levantamento de dados quantitativos pertinentes e, ao final, a análise dos autos judiciais de cada uma das mulheres selecionadas bem como relato a observação direta realizada da sessão de julgamento de um dos casos. Inicio o caminho pela análise interseccional da dinâmica da violência conjugal, questionando o engessamento das mulheres no papel de vítimas passivas e explicação fornecida pela learned helplessness theory , passo pela compreensão do Estado como um corresponsável pela persistência da violência conjugal contra as mulheres, para chegar ao tratamento jurídico dado pelo Sistema de Justiça Criminal aos casos de autodefesa violenta feminina. Os resultados encontrados sugerem a necessidade de uma teoria feminista antirracista e decolonial do direito à autodefesa.