MULHERES FEIRANTES E SUAS DECISÕES REPRODUTIVAS
Autonomia Reprodutiva; Gênero e Geração; Transmissão Intergeracional.
Essa dissertação apresenta resultados de pesquisa desenvolvida com mulheres feirantes da cidade de Teixeira de Freitas-Ba. Nosso objetivo principal foi analisar, a partir da relação intra gênero, o modo como as intenções reprodutivas de algumas mulheres foram ou não influenciadas pela relação com suas mães e como essa influência mediou suas experiências reprodutivas. Para construção de nossa análise, dialogamos com teorias de Gênero e Geração elaboradas especialmente por Scott (1990) e Britto da Motta (2010), respectivamente. Além dessas, também foram importantes os estudos de Cláudia Andrade (2012) sobre Semelhanças Geracionais e Transmissão Intergeracional assim como os trabalhos de Botton et al. (2012) sobre os Papéis Parentais nas Famílias aonde analisam aspectos transgeracionais e de gênero. Amparamo-nos também nos estudos Scaffo (2013) sobre a transmissão geracional psíquica dos protocolos de gênero e na construção teórica sobre a categoria da Autonomia Reprodutiva de Upadhyay et al. (2014). Nosso aparato teórico sobre autonomia reprodutiva e poder de decisão reprodutiva parte do princípio que compreende a auto eficácia como a crença na capacidade da mulher em decidir e controlar as questões relacionadas ao uso de contraceptivos, gravidez e a maternidade. A partir dessas elucubrações buscamos investigar também o poder de tomada de decisão das mães e filhas/mães para saber quem tem a palavra principal sobre a sua vida reprodutiva e perceber a capacidade de comunicação dessas mulheres com as pessoas influentes em suas vidas além de buscar saber se elas sentem-se confortáveis conversando sobre tais questões. O estudo e prática da autonomia reprodutiva são fundamentais para o exercício dos Direitos Sexuais e Reprodutivos. Por exemplo, ter autonomia nesse sentido significa que as mulheres podem controlar se e quando engravidar, se e quando praticar contracepção, e qual método usar e se e quando continuar a gravidez. Nossos resultados sugerem que a transmissão intergeracional opera de forma direta quando corresponde à influência dos valores e das atitudes das mães sobre as filhas através dos processos de socialização familiar. As filhas tendem a modelar seu comportamento a partir da convivência com as mães assim como tendem a imitarem mais a conduta das suas mães do que dos pais atendendo ao que é esperado, permitido e consentido do papel a ser desempenhado por elas, especialmente com relação à decisão reprodutiva ou, como em todos os casos que são apresentados, à aceitação e convívio com as demandas definidas por seu papel social de gênero. Em termos práticos e teóricos apontamos para a necessidade da incorporação masculina nos assuntos reprodutivos e destacamos a utilidade da categoria gênero na análise das relações sociais entre homens e mulheres.