Histórias de violências não contadas: a institucionalização como mecanismo de acirramento da subordinação de mulheres velhas negras soteropolitanas
institucionalização; velhices; mulheres; tecnologias de gênero; raça
A presente pesquisa-ação objetivou conhecer a modalidade de proteção social ofertada as velhices das mulheres residentes em domicílios coletivos de longa permanência em Salvador, cuja natureza jurídica autodeclarada fosse: sem fins lucrativos. Para tanto, antes de mais nada, alicercei-me na epistemologia feminista e nortei-me na abordagem qualitativa das ciências sociais. A cartografia construída através das visitas institucionais, sinalizou-me qual o Distrito Sanitário da cidade abarcava maior número de entidades sem fins lucrativos, conduziu-me ao encontro da única Instituição que atendia o cumprimento integral das normativas de funcionamento e a presença do fenômeno da feminização da velhice. Na qual, ao adentrar identifiquei a necessidade da análise interseccional, porquanto além de serem velhas e da classe trabalhadora subalterna, as residentes eram negras. Logo, a construção dos capítulos I, II, II está recortada por breves comparações/diferenciações acerca do envelhecer para mulheres brancas e negras. O capítulo I apresenta a formulação da construção social da velhice sob a influência das tecnologias de gênero, da divisão sexual do trabalho e do racismo estrutural na sociedade; o capítulo II faço um passeio pelos direitos sociais conquistados pelas mulheres( não sem luta , nem sem dor) a partir do sufrágio até os dias atuais ressaltando a participação (apagada da história) das mulheres velhas nestas conquistas, ameaçadas na contemporaneidade; no capítulo III compartilho com os/as leitores(as) os caminhos percorridos, em detalhes, para construir esta dissertação, ressaltando a importância de elencar sempre a legislação social, as políticas públicas à literatura durante a pesquisa. Ainda no capítulo III, destaco a escolha pela história oral como método de coleta de dados junto as informantes, sendo suas narrativas avaliadas pela teoria da análise do discurso a partir do sociograma. Nas anedotas finais, expresso toda a apreensão da etnografia feminista em olhar conjunto ao delas, que revelaram-me os impactos positivos, a saber: amenizar a ausência sociofamiliar, manutenção das relações analógicas entre as residentes/visitantes e principalmente o acesso ao CARE. No tocante aos impactos negativos elas reconhecem a ausência de autonomia como o pior aspecto, mas relatam aceitarem a permuta deste Direito pela sobrevida com o mínimo de dignidade. Diante do exposto, torna-se evidente que, na verdade, as problemáticas rotuladas à velhice são o murmuro da elite diante da impossibilidade de apregoar-se nas costas ou nas tetas da mulher velha.