Apoio matricial na atenção básica: sentidos produzidos por psicólogas em um município no interior da Bahia
apoio matricial, psicologia, práticas discursivas, produção de sentidos, construcionismo social.
O Apoio Matricial é um modelo para reorganização da gestão e do cuidado no campo da Saúde, tendo como fundamento a articulação democrática e humanizada entre equipes multiprofissionais, que atuam prestando suporte assistencial e pedagógico a equipes de referência. Tem por objetivo produzir uma assistência assentada no princípio da integralidade ao envolver profissionais de saúde, comunidade, família e pessoas no planejamento de ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde, superando barreiras estruturais do Sistema Único de Saúde. O Apoio Matricial foi incorporado às políticas públicas de saúde brasileiras de alcance nacional através da criação dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família (NASF), instituídos com o objetivo de fortalecer a Atenção Básica através do suporte especializado às equipes de Saúde da Família. Desta maneira a Atenção Básica se tornou campo de trabalho para psicólogos/as em todo o país. Adotando a perspectiva das práticas discursivas e produção de sentidos no campo da psicologia social inspirado no movimento construcionista, esta pesquisa teve como objetivo compreender os sentidos produzidos pelos/as psicólogos/as atuantes no contexto de uma equipe multiprofissional da Atenção Básica, no interior da Bahia, sobre o Apoio Matricial à luz das práticas discursivas apresentadas por documentos oficiais de orientação técnica que norteiam sua prática. Inicialmente, foram analisadas práticas discursivas presentes em cartilhas do Ministério da Saúde e Conselho Federal de Psicologia, documentos de domínio público que serviram para difundir orientações técnicas sobre Apoio Matricial aos/às psicólogos/as em todo território nacional. A discussão sobre os documentos de domínio público evidenciou a relação entre determinadas agendas políticas e o maior ou menor investimento no cuidado democrático e humanizado para qualificação da Atenção Básica. Foram também realizadas entrevistas com duas psicólogas de uma equipe NASF de uma cidade interiorana do estado da Bahia destacando suas trajetórias profissionais, e os desafios e potencialidades inerentes ao trabalho em equipe, às práticas intersetoriais, ao trabalho em territórios atravessados por vulnerabilidades e ao contexto de desmonte do SUS, sobretudo na Atenção Básica. Assim, a análise dos documentos de domínio público e das entrevistas permitiram compreender que o investimento político vislumbrado nas mudanças estruturais que ocorreram na organização das equipes com a instituição do NASF, somado à preocupação para reorientar suas práticas com base na circulação de cartilhas com conteúdo técnico/científico, foram fatores importantes para o desenho de trajetórias profissionais profícuas às propostas do NASF. Entretanto, o atual momento político está produzindo descontinuidades significativas com iniciativas que desestimulam a assistência segundo a racionalidade do Apoio Matricial. Alem disso, destacamos que uma das contribuições singulares no presente estudo foi a constatação que, a existência um solo fértil estruturado para operar segundos os princípios do SUS, contribuiu para que as psicólogas ofertassem práticas mais próximas das demandas da população e das diretrizes pertinentes a esta tarefa.