Intervenção Precoce com crianças nascidas com a Síndrome Congênita do Zika Vírus: dinâmicas de regulação afetivo-semiótica construídas por profissionais de saúde
Intervenção precoce. Profissionais de saúde. Síndrome Congênita do Zika Vírus. Regulação afetivo-semiótica. Psicologia do desenvolvimento.
Entre os anos de 2015 e 2016, emergiu no Brasil uma epidemia de nascimentos de crianças com a Síndrome Congênita do Zika Vírus (SCZV). Até o ano de 2018, foram contabilizadas 3.279 crianças com esta síndrome, das quais 550 estão no estado da Bahia. A síndrome é caracterizada por múltiplas deficiências e malformações e reduzido desenvolvimento cognitivo. O governo brasileiro preconizou a assistência em saúde pautada na estimulação precoce, dedicada ao cuidado multidisciplinar das crianças de zero aos três anos de idade, promovendo o desenvolvimento infantil em situações nas quais um risco é apresentado. Neste estudo buscouse compreender o fenômeno a partir da experiência vivida por profissionais da intervenção precoce dedicados à assistência das crianças com a SCVZ e suas famílias. Assim, através da Psicologia Semiótico-Cultural, objetivou-se identificar e analisar as estratégias de regulação afetivo-semióticas construídas por profissionais da intervenção precoce no acompanhamento de crianças nascidas com a SCZV e suas famílias. Realizaram-se entrevistas narrativas com dez profissionais que atuam em uma equipe multidisciplinar de intervenção precoce de uma instituição pública de saúde na cidade do Salvador/BA. Na análise destas narrativas, dedicouse especial atenção à compreensão dos processos de construção de significados, intersubjetividade, ação simbólica e experiência afetiva. Assim, investigou-se como estes processos repercutiram na regulação afetivo-semiótica das profissionais, bem como nas práticas de intervenção precoce com as crianças com a SCZV e suas famílias. Como resultado das análises compreendeu-se que a emergência da SCZV se deu enquanto uma experiência inquietante para as profissionais da equipe, e demandou delas um trabalho afetivo-cognitivo na busca pela construção de novos significados que dessem conta desta vivência. Ademais, a intersubjetividade e afetividade revelaram-se enquanto promotores da autorregulação semiótica das participantes, contribuindo para a construção de práticas mais adequadas. A forma como a regulação afetivo-semiótica se deu com as profissionais também teve repercussões nas expectativas de futuro construídas sobre o desenvolvimento das crianças.