(DES)CONSTRUÇÕES SUBJETIVAS DA MATERNIDADE POR MULHERES COM HISTÓRICO DE PERDAS PERINATAIS EM UM HOSPITAL UNIVERSITÁRIO: UM ESTUDO PSICANALÍTICO
Maternidade; perda perinatal; mulheres; psicanálise; luto.
Este estudo teve como objetivo analisar, por meio da escuta clínica de mulheres em um Hospital Universitário do Sistema Único de Saúde (SUS), de que modo a relação estabelecida com a maternidade é afetada pela vivência de perdas perinatais, de maneira a esclarecer os atravessamentos desta experiência na formação de novas coordenadas do desejo pela maternidade em um contexto no qual a reprodução biológica e social sofre tantas mudanças. Para tanto, foram construídos cinco casos clínicos a partir do trabalho com conteúdos de prontuários e registros psicológicos de pacientes atendidas pela pesquisadora. Esses dados foram analisados utilizando como referencial a teoria psicanalítica de Freud e Lacan. Como achados, verificou-se que experiências de perda perinatal causaram fortes impactos na subjetividade das mulheres, que se confrontaram com circunstâncias complicadoras à realização dos trabalhos de luto, muitas vezes atualizados a partir de novos encontros com a maternidade. Pôde-se perceber que novas gestações foram experenciadas por elas como uma “corda bamba”, na qual buscavam se equilibrar entre o desejo pela maternidade e o medo de repetir a vivência anterior, frequentemente imaginarizada como falta e/ou falha enquanto mulher. Discutiu-se ainda sobre o valor atribuído ao semblante materno e impactos de sua perda, fortemente influenciados por ideais da cultura em torno da maternidade, subjetivados de modo diverso pelas mulheres a depender de marcadores como classe e raça. O trabalho analítico se mostrou importante via de elaboração destas experiências, favorecendo a singularização do desejo destas mulheres pela maternidade e seu valoroso reconhecimento na posição parental. Espera-se com este estudo ampliar o conhecimento acerca destas experiências cuja falta de reconhecimento social produz impactos psíquicos negativos, facilitar o aprimoramento do trabalho analítico e multiprofissional voltado a esse público nas distintas etapas de seus itinerários terapêuticos, bem como estimular a revisão de práticas assistenciais que não incluem a relevância psicossocial destas experiências de perda nas tomadas de decisão no âmbito do cuidado à saúde.