Avaliação de Níveis Basais de Butirilcolinesterase em Amostra da População de Salvador e o Perfil Epidemiológico das Exposições a Agrotóxicos na Bahia (2017 a 2019)
butirilcolinesterase; colinesterase; organofosforados; intoxicação; agrotóxicos
INTRODUÇÃO: As intoxicações exógenas constituem um importante problema de saúde pública mundial, com significativos desafios para os gestores dessa área, tendo os agrotóxicos como um dos principais agentes causais. O conhecimento do perfil epidemiológico deste agravo no estado da Bahia consiste em ferramenta importante para a tomada de decisão pelos órgãos da saúde pública, portanto, os sistemas de informação precisam dispor de dados de qualidade e confiáveis. No campo do diagnóstico laboratorial, a Butirilcolinesterase (BChE) constitui um indicador biológico relevante no diagnóstico e monitoramento dessas intoxicações. OBJETIVOS: O presente estudo tem como objetivos investigar os valores basais da atividade da BChE em amostra da população de Salvador, levando em consideração os fatores que podem interferir na atividade enzimática, e caracterizar o perfil dos casos de exposição a agrotóxicos no estado da Bahia no período de 2017 a 2019, identificando a frequência das intoxicações envolvendo substâncias inibidoras da colinesterase. MÉTODOS: O presente estudo é constituído de duas etapas. A primeira consiste em um estudo descritivo, quantitativo, com abordagem transversal. A amostra foi constituída de voluntários doadores de sangue em hemocentro do estado. A segunda etapa trata-se de estudo observacional descritivo do tipo transversal, considerando o agregado de dados relativos às intoxicações exógenas registradas na Bahia no período de 2017 a 2019, utilizando-se de dados secundários e abordagem quantitativa. RESULTADOS: O presente estudo permitiu validar a metodologia utilizada pelo Laboratório de Análises Toxicológicas (Labtox) do Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia (CIATox-BA), além de possibilitar conhecer os níveis basais da butirilcolinesterase em amostra da população de Salvador, que tem apresentado atividade entre 6.000 a 20.500 U/L, com uma média mais baixa no sexo feminino. Os valores obtidos para o sexo masculino foram de 9.300 U/L a 18.400U/L e 8.200 U/L a 18.800 U/L para o feminino. No que concerne aos dados epidemiológicos, este estudo permitiu identificar a ocorrência de inconsistências e incompletitude em ambos os sistemas de informação, além de indicar uma subnotificação no Sinan de 46,7%, apesar da compulsoriedade da notificação do agravo estudado. Verificou-se a ocorrência de 2.853 intoxicações por agrotóxicos, onde 51,0% foram do sexo masculino e 48,7% do sexo feminino. As ocorrências predominaram em residências (59,7%) e a tentativa de suicídio foi a principal circunstância (48,4%). A letalidade encontrada foi de 2,4%, sendo maior no sexo masculino. Os ingredientes ativos mais frequentes foram os inseticidas inibidores de colinesterase. CONCLUSÃO: Os resultados aqui obtidos deixam claro que, apesar da subnotificação, a intoxicação por agrotóxico não limita-se à zona rural, à lavoura, ao sexo masculino ou aos adultos, requerendo uma ação mais ampla dos poderes públicos, evidenciando-se também a necessidade de melhor qualificar a alimentação dos sistemas de informação. Além disto, a alta frequência dos inibidores de colinesterase sinaliza que a BChE ainda tem o seu papel importante como indicador biológico na exposição aos agrotóxicos, independente do ambiente de exposição.