A gestão encarnada do conhecimento científico-acadêmico: Cartografias de grupos de pesquisa em gênero, sexualidade e queer na Bahia (2009-2019)
pesquisador/a encarnado/a; gestão do conhecimento científico-acadêmico; grupos de pesquisa; cartografia; gênero; sexualidades; queer
Na última década, aconteceu um crescimento expressivo na produção de conhecimento científico sobre gênero, sexualidades e queer no Brasil e, especialmente, na Bahia. Essa guinada quantitativa e qualitativa é decorrente de uma política de governo (2003-2016) que possibilitou a emergência de um cenário favorável à institucionalização dos temas, à formação e consolidação de grupos de pesquisas nas universidades ainda que de modo precário. Esta tese compreende um esforço de estabelecer conexões e rupturas entre o saber fazer desses estudos em grupos de pesquisas com a gestão do conhecimento, um campo cujas formulações teóricas, quase sempre, estão voltadas para a proposta neoliberal, para o lucro e a competitividade das empresas. O objetivo é cartografar os processos de produção, gestão e difusão de conhecimento científico mediante a trajetória dos líderes de dez grupos de pesquisas sobre gêneros, sexualidades e queer na Bahia entre os anos de 2009 e 2019. Para acessar e compreender esse modus operandi, assumo a perspectiva do “Pesquisador Encarnado”, uma modelagem experimental e teórico-analítica construída no acontecer do grupo de pesquisa Enlace da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), nas experiências pessoais e no diálogo com as epistemologias feministas. Para tanto, lanço mão de uma abordagem qualitativa a partir de uma bricolagem de diferentes técnicas e instrumentos que inclui entrevistas semiestruturadas, fontes documentais como o Diretório de grupos de pesquisas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e outras textualidades culturais. Em sintonia com o saber fazer do cartógrafo em sua política de invenção, construo um campo problemático com vistas a ampliar o estatuto teórico-epistemológico da gestão do conhecimento desde uma terceira via, entre as lógicas capitalistas de mercado, o compromisso político com a vida, as justiças e a ciência colaborativa. Os resultados levaram em conta a especificidade dos sujeitos, dos contextos e do conhecimento produzido para chegar à conclusão de que esses grupos de pesquisas se juntam pela reverberação de temas candentes que organizam suas existências. A análise evidenciou uma ideia de gestão como fenômeno cognitivo encarnado em, pelo menos, três dimensões fundamentais – a gestão da vida, a gestão epistêmica e os aspectos organizacionais das existências coletivas em grupos de pesquisas.