SABERES, CONHECIMENTO E PRÁTICAS MEDICINAIS TRADICIONAIS NA COSMOVISÃO INDÍGENA DOS POVOS ORIGINÁRIOS KARIRI-XOCÓ, FULNI-Ô E FULKAXÓ: UMA ANÁLISE COGNITIVA
medicina tradicional indígena, saberes, difusão do conhecimento, Kariri-xocó, Fulni-ô, Fulkaxó, análise cognitiva.
A produção de saúde, na contemporaneidade, está constituída por saberes e tecnologias de diferentes naturezas. Com a emergência e a hegemonia dos saberes biomédicos, diferentes racionalidades, saberes e práticas de produção de saúde, inclusive muito anteriores à biomedicina, foi sendo naturalizada a concepção de que a saúde se relaciona ao corpo biológico e é voltada à essa dimensão que as iniciativas de cuidado são predominantemente voltadas. Entretanto, coexistem diferentes formas de compreender a saúde, seja nas dimensões de sua racionalidade, seja na articulação de saberes tradicionais e ancestrais. A coexistência é constrangida, frequentemente, por estratégias de difusão que hierarquizam os saberes e as práticas e, não raro, combatem e exterminam aqueles que não respondem à vigência atual, como os saberes da medicina tradicional indígena. Esta pesquisa tem como objetivo principal compreender as práticas, saberes e conhecimentos indígenas por meio de sua medicina tradicional. Esses saberes e as práticas que eles embasam articulam-se com a natureza, constituindo um ambiente multirreferencial de aprendizagem e possibilitando a produção e difusão de conhecimentos oportunos para a sociedade. O campo empírico foi desenvolvido por meio da observação e vivência das práticas dos povos Kariri-Xocó, Fulni-ô e Fulkaxó, sendo realizada predominantemente na Reserva Thá-fene em Lauro de Freitas-Bahia. O problema de pesquisa foi como a difusão do conhecimento da medicina tradicional indígena pode contribuir para promoção da saúde e qualidade de vida das pessoas? Para dar conta de alcançar este intento e analisar as informações produzidas no campo empírico, foram escolhidos como trilha metodológica a perspectiva multirreferencial. Foram utilizadas como técnicas de coleta de dados a análise documental, a pesquisa bibliográfica e a investigação participante. Os dados foram produzidos por meio de grupo focal, observação e diário de campo, registrados em gravador, máquina fotográfica e filmadora. Os dados foram tratados por meio de triangulação de fontes. Para embasar o estudo, foram produzidos diálogos com teorias originadas de autores indígenas, teóricos da complexidade, multirreferencialidade, polilógica, do campo morfogenético e de formulações sobre a energia plantas, que permitem a compreensão da natureza e sua relação com o ser humano como entidade biológica, social, afetiva, psicológica/emocional, espiritual, que são constituintes da diversidade de corpos. Entre os principais resultados produzidos, destacam-se a elaboração de uma representação gráfica em forma de mandala/constelação fito galáctica, que representa o conjunto de saberes, práticas e conhecimentos que orientam os processos saúde-doença-cuidado na perspectiva indígena, a constituição, em interação com os indígenas, de um espaço/conjunto de referencias e ações, chamado “OWCA AYAM”, concebido como um espaço multireferencial de aprendizagem (AMA), e destinado ao cuidado e ações educativas em saúde, na perspectiva indígena, o que vem possibilitando o desenvolvimento de ações intersetoriais envolvendo o cuidado em saúde, a educação não formal e o exercício da cidadania. O desenvolvimento deste estudo propiciou a abertura de diálogos e ações que transcendem à produção científica, o que certamente não se esgotará com o final formal deste estudo.