Palavras-chave: curadoria artística, poética processual, natureza da criatividade, INSURGÊNCIA, ENCANTAMENTO, zapatismo

RESUMO

ACCIOLY LIMA, A. Curandeiria artística: INSURGÊNCIA e ENCANTAMENTO criativos numa trans-versia poético-curadora em tempos de tormenta. 2023. Tese (Doutorado em Difusão do Conhecimento), Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2023.

Partindo do pressuposto de que a atividade curatorial pode ser vivenciada enquanto poética processual, Curandeiria Artística nomeia uma poética curatorial contemporânea na sua indissociável relação com a ancestralidade, aqui indagada na sua dimensão eminentemente criativa. Trata-se de um estudo sobre a natureza da criatividade manifestada num percurso que se faz fazendo, em ato, com INSURGÊNCIA e ENCANTAMENTO criativos, a partir da (com)sagração dos encontros com artistas, colegas, professores, coletivos, movimentos sociais, etc. Em tempos de isolamento social imposto pela pandemia do Covid-19, muitos dos encontros são aqui (com)sagrados pela memória re-criadora, cuja ética-estética curandeira se constrói num tempo que dança. Ao som de canções de um exílio performático do Brasil vivenciado em Chiapas-México durante a assunção do bolsonarismo, a trans-versia aqui narrada passa pelos territórios autônomos e rebeldes soerguidos pelo movimento Zapatista a partir da INSURGÊNCIA armada de 1994. Embalada por um devir-zapatista, a autora desta tese se auto define acadêmica INSURGENTE na via de uma INSURGÊNCIA acadêmica descolonizadora, que, no intento de re-encantar a experiência acadêmica, abdica performaticamente ao título de doutora optando pela auto-titulação de “curandeiria artística”. Restos de uma trajetória acadêmica-profissional se fazem rastros de um trans-versia errante que, no esforço de construir um onirismo contemporâneo, apela para devaneios e delírios poéticos em tempos tormentosos. O termo “tormenta” é apropriado das análises e dos diagnósticos do movimento Zapatista que afirma estarmos diante do eminente colapso do sistema capitalista, consubstanciado nos edifícios epistemológicos coloniais e patriarcais. Tempos tormentosos se confundem nesta construção com a denominação “tempos traumáticos”, a partir de uma apropriação da teoria psicanalítica do traumático, cujo paradoxo é aqui explorado. Se, por um lado, a experiência traumática em si não pode ser narrada (já que ao esgarçar o simbólico expõe o real enquanto impossibilidade de representação), o apelo à criatividade se faz INSURGENTE e necessário para que o mal-estar dos nossos tempos seja testemunhado e curado. Apelando para o êxtase criativo e para o transe performático, na vitalidade da sua manifestação em ato a partir da assunção de um corpo-possesso, a experiência-forte aqui testemunhada trans-versa dimensões heterógenas da experiência humana, indecisas entre os campos do sagrado, do erotismo e da poesia. Os filósofos franceses Georges Bataille e Henri Bergson, deglutidos antropofagicamente, são importantes aliados, entretanto, é a filosofia do próprio apropriado de Dante Galeffi que consubstancia a guerrilha criativa aqui proposta.