A desdramatização no cinema de fluxo: reinvenções da forma dramática no cinema contemporâneo
Desdramatização; forma dramática; cinema de fluxo; cinema contemporâneo.
Este estudo propõe-se a identificar uma linhagem de constante tensão que atravessa o cinema desde seu nascimento até os dias atuais: uma luta travada entre a racionalidade da intriga e o efeito sensível da imagem, entre a representação da ação e o movimento puro. Essa tensão parece tomar corpo de maneira radical nas primeiras vanguardas francesas, ao se buscar inserir o cinema dentro do sistema das artes, sendo a narrativa vista, por vezes, como um entrave para que se tornasse uma “verdadeira arte”. Esse embate entre mythos e ópsis parece encontrar uma relativa harmonia no cinema clássico, no qual a mise en scène é a maneira de atingir a maior expressividade do drama na imagem, embora também aí enfrentando abalos da narrativa: as cenas musicais, as gags e o suspense tinham como efeito suspender a intriga em prol de cenas puramente sensoriais. Ao atingir o cinema moderno e suas experimentações com a própria intriga, essa tensão constitutiva encontra-se com a crise da noção de mise en scène, chegando até o cinema de fluxo e ao slow cinema, no qual a intriga se transforma num fio mínimo, às vezes reduzida a uma pequena situação, para que os filmes se façam através dos planos como blocos de sensações.