“BOTAR FIGURAS”: ENCENAR ENTREMEIOS EM DESFIGURAÇÕES
FORMAÇÃO NA / PARA CENA DE UMA “CÍNICA” DANÇA PESSOAL
Entremeios, desfiguração, dança pessoal, multirreferencialidade e Etnocenologia.
Esta tese é a relatabilidade (Coulon), de uma dança pessoal como pesquisa, guiada pelo pensamento qualitativo multirreferencial (Borba, 1997). O estudo situa o procedimento criativo do espetáculo/projeto/pesquisa intitulado: Entremeios Desfigurações, implicado nas matrizes estéticas do Guerreiro de Alagoas, e na formação de artistas da cena. Entremeios são curtas representações dramáticas, ou figuras, presentes no Guerreiro de Alagoas. A investigação embasa o sujeito, o trajeto e o objeto (Bião, 2007), na proposição de uma “cínica” dança. A contextualização para fazer a minha “cínica” dança, partiu da assimilação do termo: dança pessoal, difundido pelo grupo LUME, o dançarino como idealizador e construtor do seu corpo cênico que se realiza como prática de pesquisa. O estudo responde as seguintes indagações: Seria possível a construção dessa dança pessoal, não sendo o corpo do dançarino pesquisador treinado no Butoh, e ainda, sem experienciar a dança pessoal, ocorrida no espaço LUME? Os entremeios, no Guerreiro Alagoano, teriam a mesma função do entremez português e espanhol, vistos como uma descontração, como divertimentos, entre apresentações mais longas? O Guerreiro Alagoano pode ser utilizado como facilitador educacional, de que maneira? As questões foram confrontadas pelas hipóteses, sustentadas no corpo da tese. A metodologia ocorreu no âmbito da pesquisa qualitativa enfatizando o caráter subjetivo do objeto, suas particularidades e experiências individuais (Pádua, 2012). O treinamento individual atingiu a organização das corporalidades entremeios, sistematizadas e direcionadas como etnométodos (Coulon), em exercícios de preparação corporal, aplicados ao ensino da dança, na busca de um corpo autoral, tanto meu, quanto dos educandos. Desse modo, problematiza o pesquisador, o seu trajeto e o objeto, entremeios, em sua circunscrição nas danças tradicionais brasileiras. O caminho para os métodos foi estruturado em etapas: análise bibliográfica, documental e empírica; registro do processo criativo, diários de bordo; entrevistas com brincantes e pesquisadores, vídeo do processo criativo; a análise do treinamento; na aplicação em oficinas de corpo, para estudantes de dança e atores, em espaços de formação. A linha teórica norteadora, em seu caráter transdisciplinar é a abordagem Multirreferencial, de Jacques Ardoino (1927-2015), transversalizados por outros saberes, como, a Etnometodologia (Coulon, 1995) e a Etnocenologia, plantando semente nos conceitos do movimento cínico da Antiguidade (Caze). A experiência em criação/desfiguração e formação com os entremeios, de uma maneira geral, vem reverberando como um trabalho independente e contemporâneo, que se utiliza das potências desses lugares de identidades, entre os quais, eu transito, examinando os limites pedagógicos e artísticos, dessas figurações/desfigurações, da minha memória corporal.