Ações para despertar outros mundos: a participação como tática poética na arte latino-americana.
arte; participação; ação; saber-do-corpo, poiesis decoloniais; aiesthesis decoloniais;
A presente investigação aborda ações participativas propostas por artistas latino-americanes na contemporaneidade. Estas mostram-se como poderosas formulações para o que aqui percebemos como dimensão central nos movimentos/práticas de descolonização da arte, dos corpos, dos sujeitos, das subjetividades e, centralmente, da vida: a potência de liberação das sensibilidades. As propostas investigadas problematizam a própria arte como tecnologia de perpetuação do paradigma estético europeu, desbancam a lógica do capital, deslocam a ideia da arte como disciplina/técnica, e, principalmente, provocam permeabilidades - acesso ao saber-do-corpo. Aqui, a abertura poética é vista como forma de impulsar gestos de criação e cooperação, em consequência, como modo de provocar transformações nas políticas de subjetivação próprias à modernidade/colonialidade. A pesquisa inscreve-se no campo das artes e observa proposições que convidam o ‘espectador’ ao ato poético, prática aqui entendida como corpolítica - por desafiar o instituído e projetar futuros desviantes. Entre os objetivos da tese destacam-se a identificação, descrição e estudo de propostas, a articulação entre ações das décadas de 1960/70 e atuais, a reflexão em torno às estratégias empregadas para o convite ao encontro e à criação, a observação de seus impulsos e intenções, bem como de que urgências despontam. Para a abordagem destas questões, o referencial teórico foi composto por vozes de artistas, pensadores da performance, da arte contemporânea, da arte latino-americana, dos conceitualismos e da opção decolonial. As ações observadas foram identificadas em festivais, encontros, catálogos e plataformas virtuais de eventos; foram utilizados depoimentos, realizadas entrevistas com artistas/propositores, bem como experiências práticas que compõem o corpo da investigação. Ao estudar estas proposições, explicitou-se que a participação é tática poética que irrompe do desejo des artistas de despertar outros mundos neste mundo. O entendimento da vida como criação é impulso para a formulação de tais operações poéticas. Assim, as ações observadas convocam o espectador a fazer/pensar a ‘obra’, transformando-a e, em consequência, a agir sobre o mundo. Um devir criador de diferença, de singularidades, subjetividades outras, composições de realidade coletivamente e processualmente produzidas.