SMARTBODIES. CORPO, TECNOLOGIAS VESTÍVEIS E PEFORMATIVIDADE ALGORÍTMICA
Um estudo exploratório sobre os modos heurísticos de corporar na plataforma Fitbit
Teoria Ator-Rede, Computação Vestível, Fitbit, Performatividade algorítmica, Corpo
A tese investiga a relação entre corpo e tecnologias vestíveis, explorando as agências que ganham relevo nessa associação e produzem as experiências de dataficação das atividades físicas. Como objeto empírico, elegeu-se a Fitbit, que figura entre as três maiores empresas no mercado global de wearables. Foram investigados os temas de 221.388 mil (47,4%) tópicos de discussão dos 466.758 mil disponíveis na rede social da marca, dos quais se extraíram 542 depoimentos sobre as experiências de monitoramento corporal de 288 usuários. Adicionalmente, foram explorados os modos de funcionamento dos dois produtos mais populares da Fitbit – charge HR em 2015, Charge 2 em 2016-2017 –; além dos documentos de patentes, termos de privacidade, notas de imprensa, relatórios financeiros e conteúdo publicitário disponível no website da plataforma. Os procedimentos envolveram o uso de ferramentas digitais para captura de dados – web crawlers – e protocolos de análise focada de conteúdos no software Atlas.ti. Amparada nos princípios da Teoria Ator-rede e nas abordagens neomaterialistas, as análises realizadas definem o corpo e as coisas inteligentes a partir das ações que ambos exercem sob a mediação algorítmica comum a essas associações. Com base na exploração dos mecanismos operacionais das Fitbits e do mapeamento das práticas de monitoramento dos usuários, propõe-se que os dispositivos vestíveis estabelecem conexões com o corpo que se particularizam em função de três características centrais: o aspecto algoritmicamente performativo da relação; a capacidade de aprendizagem e mimetização das ações produzidas durante a interação; e o caráter experimental e heuristicamente controlado das experiências de uso. A tese apresentada é que os modos de agir dessas associações criam condições para que os corpos e as coisas inteligentes se construam em processos de aprendizagem mútua, produzindo o que denominamos Smartbodies: instaurações (bio)infocomunicacionais que se realizam pela sensibilização dos corpos e sensores aos métodos de captura, análise e visualização de dados implementados na computação vestível. O Smartbody representa duas consequências importantes da relação entre tecnologia digital e corpo na atualidade: a tradução das experiências de aquisição corporal em acontecimentos digitalmente rastreáveis; e a instauração de corpos que, aprendendo a ser afetados pelos métodos algorítmicos, passam a se relacionar com o mundo por intermédio de repertórios modelados computacionalmente. Diante da presença cada vez mais diluída desses objetos inteligentes no cotidiano, espera-se que as abordagens investigativas adotadas neste trabalho possam fornecer um instrumental teórico-metodológico para a análise futura de outros fenômenos da comunicação na cultura digital.