Repercussões da fusão de grupos educacionais de ensino superior privado com fins lucrativos para qualidade acadêmica institucional.
Educação Superior. Fusão e Aquisição. Indicadores de qualidade.
O presente trabalho questionou de que forma os indicadores oficiais conseguem indicar a relação entre operações econômicas de fusão/aquisição e qualidade acadêmica e institucional. A análise teve foco no curso de Licenciatura em Pedagogia no período que marca a maior fusão já ocorrida no Brasil entre os grupos Anhanguera e Kroton (Cogna). No âmbito teórico a análise é fundamentada nas contribuições de autores como: Verhine (2010,2022,2023); Verhine & Dantas (2003, 2006, 2020, 2021); Ruas (2015); Morosoni (1999, 2001, 2008, 2009, 2014, 2016, 2017); Cunha (2017); Souza (2017); Santos (2010); Sampaio (2000, 2009, 2011); Oliveira (2009) Sguissardi (2008); Sobrinho (2000,2003); Chaves (2010); CM Consultoria (2015); Hoper Consultoria (2021); Coelho (2023); Marques (2013); Dante (2014), CADE (2016); entre outros que problematizaram discussões sobre qualidade na educação superior, expansão e privatização do ensino superior, fusões e aquisições nesse segmento, bem como políticas públicas que sustentaram esses processos. Ao longo do período analisado na pesquisa, foi evidente que as atividades econômicas priorizaram a busca pela eficiência operacional. Além disso, os esforços de expansão e consolidação do mercado tiveram impacto direto na qualidade acadêmica com resultados aquém do padrão aceitável pelos instrumentos regulatórios. Foi utilizada a Teoria Neoinstitucional de Scott (2014) como uma perspectiva para a análise dos dados. Esta teoria examina como as instituições de ensino são moldadas pelas normas e práticas do ambiente em que estão inseridas. Ela considera as fusões como fenômenos influenciados por diversas forças institucionais, incluindo normas e valores culturais, pressões regulatórias, competitivas e o fenômeno do isomorfismo. A pesquisa indica que após um processo de fusão, o grupo consolidador, busca aumentar a velocidade de criação e incorporação de uma nova cultura, e o isomorfismo deixa de ser um processo para ser parte da estratégia organizacional. A metodologia emprega uma abordagem de métodos mistos, integrando técnicas qualitativas e quantitativas para uma análise mais completa. Inclui um estudo de caso sobre o maior grupo econômico do setor, pesquisa exploratória, levantamento documental dos grupos Anhanguera e Kroton, utilização de indicadores de qualidade do INEP/MEC, bem como a criação de um Business Intelligence (BI) para análises comparativas pré e pós-fusão. Os resultados indicaram que as fusões, embora inicialmente orientadas por objetivos econômicos e administrativos, acabam por ser moldadas e restringidas por forças institucionais mais amplas seguindo o isomorfismo mimético. Isso se manifesta na forma como as instituições fundidas se adaptam (ou não) às expectativas de qualidade e excelência acadêmica, que são parte integrante do ambiente educacional. Apesar do isomorfismo coercitivo e normativo latentes nesses processos, foi constatado o declínio dos resultados institucionais após as fusões, o que indica a priorização da eficiência operacional e a busca pela ampliação de mercado como uma prática incompatível com a política de qualidade normatizada pelo SINAES. Em última análise, os resultados, vistos através da lente da Teoria Neoinstitucional, sugerem que as fusões no ensino superior devem ser cuidadosamente monitoradas. Isso ressalta a necessidade de políticas regulatórias e práticas de governança que garantam padrões mínimos de qualidade, salvaguardando assim o compromisso social do ensino superior brasileiro.