Esse quilombo é nosso: a memória ancestral no corpo de mulheres negras na capoeira angola
mulher negra; capoeira angola; educação não formal
Antes de tudo, peço a agô (licença) de meus ancestrais para compartilhar histórias que nos pertencem. Essa breve mandinga introduz a dissertação em andamento, que explora processos educativos emergindo dos corpos de mulheres negras angoleiras em Salvador, Bahia, Brasil. O objetivo é investigar como as narrativas da corporeidade dessas mulheres negras refletem as memórias ancestrais através da capoeira angola e como esses saberes se traduzem em práticas educativas. Optei pela pesquisa-ação como a melhor abordagem metodológica, construindo este estudo por meio de ação empírica, demonstrando que espaços de educação, mesmo informais, fortalecem as identidades culturais dessas mulheres e suas comunidades. No contexto social, parto do pressuposto de que as mulheres negras, na sociedade e nos espaços capoeiranos, enfrentam sobreposição de dois marcadores sociais, resultando em opressões mais intensas, seja pelo patriarcado ou pelo racismo. Agacho-me diante dos berimbaus para refletir sobre a interseção de gênero e racialidade ao abordar a historiografia da mulher na capoeira. A estrutura social racista e sexista nos instiga a repensar essas trajetórias na encruzilhada racial e de gênero, evitando que essas histórias sejam contadas de uma perspectiva única que anula a existência feminina ao longo dessas jornadas de gingas e resistências. Para dar ritmo a essa construção, outras quatro mulheres compartilharam suas vidas e aprendizados: Mestra Jararaca, ContraMestra Brisa do Mar, Larissa Almeira e Jéssica Paranaguá.