Fatores socioambientais, desigualdades & insegurança alimentar: análise por geoprocessamento em um município nordestino.
Insegurança Alimentar, Segurança Alimentar e Nutricional, Desigualdade, Território, Análise espacial
Trata-se de um estudo transversal, que visa avaliar a situação da segurança e os níveis de insegurança alimentar nos diferentes territórios da cidade de Salvador, considerando fatores demográficos e socioambientais na perspectiva das desigualdades. Este estudo utilizou os dados da Pesquisa Qualidade do Ambiente Urbano de Salvador - QUALISalvador. As análises foram realizadas em 15.171 domicílios georreferenciados, selecionados por aleatoriedade em 160 bairros da cidade de Salvador. A variável de exposição principal foi a situação de insegurança alimentar nos domicílios avaliada através da Escala Brasileira de Insegurança Alimentar. As variáveis demográficas e socioambientais utilizadas foram selecionadas do questionário de 62 perguntas utilizado na pesquisa. Foi realizada análise descritiva das características da população investigada, posteriormente análises bivariadas. A magnitude da associação entre insegurança alimentar e possíveis fatores preditores foi estimado pelo cálculo da razão de chances (Odds Ratio, OR), adotando-se o intervalo de confiança a 95% (IC95%). Também foram realizadas análises utilizando a regressão logística multinomial. Permaneceram no modelo as variáveis que mostraram níveis de significância estatística, segundo um P < 0,05. Utilizou-se a análise de Cluster para compreender o perfil dos territórios intra urbano de Salvador que estão associados a situação de insegurança alimentar grave. A prevalência de insegurança alimentar em Salvador foi de 40,96%, observando grande diferença entre as macrozonas: Orla Atlântica (25,8%), Área Urbana Consolidada (33,0%), Subúrbio (45,7%) e Miolo (47,9%). Para Salvador, os nove fatores demográficos e socioambientais analisados apresentaram associação com IAL e/ou IAMG: o responsável pelo domicílio ser do sexo feminino (IAL: OR 1,17; IC95% 1,08-1,27; IAMG: OR 1,54; IC95% 1,40-1,70), cor da pele diferente de branca (IAL: OR 1,17; IC95% 1,04-1,33; IAMG: OR 1,46; IC95% 1,24-1,72), faixa etária de 30 a 59 anos (IAL: OR 1,46; IC95% 1,33-1,60; IAMG: OR 1,48; IC95% 1,33-1,64), ter até quatro anos de estudo (IAL: OR 2,00; IC95% 1.61-2,47; IAMG: OR 4,94; IC95% 3,83-6,35), a renda familiar per capita de até 1/2 salário mínimo (IAL: OR 2,62; IC95% 2,37-2,93; IAMG: OR 4,03; IC95% 3,53-4,60), presença de menor de 5 anos no domicílio (IAL: OR 1,29; IC95% 1,16-1,44; IAMG: OR 1,10; IC95% 0,97-1,25), mais de 2 habitantes por dormitório (IAL: OR 1,16; IC95% 1,05-1,29; IAMG: OR 1,46; IC95% 1,30-1,63), fornecimento de água intermitente ou não possuir ligação à rede (IAL: OR 1,49; IC95% 1,35-1,65; IAMG: OR 1,76; IC95% 1,58-1,96), e considerar a condição do ambiente urbano do bairro onde mora como ruim (IAL: OR 1,57; IC95% 1,36- 1,81; IAMG: OR 2,03; IC95% 1,73-2,38). As macrozonas apresentaram número de fatores associados diferentes: Miolo (nove), Subúrbio (oito), Área Urbana Consolidada (sete), e Orla Atlântica (seis). Ao analisar a sobreposição de fatores demográficos e socioambientais percebese uma segregação socioespacial no território. Bairros que tiveram maior acumulo de fatores de vulnerabilidade apresentaram as maiores prevalências de insegurança alimentar grave. Assim, a situação de insegurança alimentar sofre influência do território e sua infraestrutura. A garantia da Segurança Alimentar e Nutricional depende de múltiplas determinações, sociais, econômicas, domiciliares, culturais e ambientais para ser estabelecida. A análise do homem e seu meio amplia o olhar para a dimensão do território, e a relação com a insegurança alimentar contribui para melhor monitoramento e ações que visem a garantia da segurança alimentar e nutricional.