Banca de DEFESA: GIZANE RIBEIRO DE SANTANA

Uma banca de DEFESA de DOUTORADO foi cadastrada pelo programa.
DISCENTE : GIZANE RIBEIRO DE SANTANA
DATA : 07/05/2021
HORA: 09:30
LOCAL: via plataforma RNP
TÍTULO:

Entre o fazer e o comer: Uma etnografia com trabalhadores da comida de rua no Recôncavo da Bahia


PALAVRAS-CHAVES:

Alimentos de Rua; Setor Informal; Etnografia; Trabalho Precário; Segurança Alimentar e Nutricional


PÁGINAS: 198
RESUMO:

A tese debruça-se sobre a temática da comida de rua, no intuito de compreender o contexto e as acepções a respeito das práticas que circundam as formas do fazer comida e de comercializá-las nas vias públicas, a partir de um estudo etnográfico com trabalhadores deste comércio, em Santo Antônio de Jesus, Recôncavo da Bahia. Ainda que a comida de rua represente um relevante constructo socioeconômico internacional e constitua um objeto de estudo transdisciplinar, parte expressiva das análises sobre essa temática no Brasil, mesmo na América Latina, se concentra no campo biomédico, o qual muitas vezes desconsidera o protagonismo dos trabalhadores em suas pesquisas. Distintamente, a presente tese analisa um microcosmo social da comida de rua e insere os agentes sociais implicados neste comércio como tradutores desse fenômeno para pesquisa, lançando mão do diálogo entre as Ciências da Saúde e Nutrição e as Ciências Sociais e Humanas, para compreender o objeto. Esses elementos e os resultados alcançados buscam contribuir para oferecer outras perspectivas investigativas sobre a comida de rua no Brasil. Os produtos da tese contemplam assim um capítulo de livro e um ensaio, que remontam um ‘estado da arte’; e mais dois artigos científicos originários da pesquisa empírica etnográfica. O capítulo apresenta uma revisão de literatura que objetivou analisar as abordagens teóricas e metodológicas que fundamentam a produção de saberes no campo da comida de rua no Brasil. Ao analisar essas distintas dimensões, evidenciou-se que, a respeito de uma implicação replicante das ciências biomédicas e da perspectiva microscópica das abordagens analítico-compreensivas, ambos podem atuar paralelos e complementares, para se pensar a formação de um campo de saberes na comida de rua que agrupe uma perspectiva multidisciplinar, mas também embebida por saberes empíricos e históricos. O primeiro artigo, de cunho ensaístico, traz uma reflexão teórica acerca do processo de institucionalização da comida de rua nas tessituras de uma Modernidade Ocidental. Nesta discussão, problematizou-se que o comércio da comida no espaço urbano, expresso no descritor ‘comida de rua’, emergiu na Antiguidade e foi adquirindo contornos institucionais ao se estruturar social, econômica e culturalmente, com o advento da sociedade moderna, sob a qual atua como elemento ressignificador, mas, ao mesmo tempo, remodela-se nas recorrentes transformações dessa Modernidade. Os dois artigos seguintes derivam da incursão etnográfica na cidade de Santo Antônio de Jesus, Recôncavo da Bahia, território eleito por conveniência e, ao mesmo tempo, pela importância econômica na região. A fase de campo durou sete meses, entre 2018 e 2019. O material empírico produzido, com uso das técnicas de entrevistas não estruturadas, observações sistemáticas, participantes, diário de campo acolhido por meio de gravações de áudio e fontes alternativas (jornais, livros e sites), foi tratado de acordo com procedimentos descritos em Poupart et al. (2014) e Kaufman (2018). O corpus empírico reunido propiciou as descrições etnográficas, cuja análise interpretativa seguiu os escritos de Clifford Geertz (2008; 2014). Da apreciação desse material, emergiram categorias analíticas, que reconfiguraram o direcionamento da tese, a saber, o microempreendedor na comida de rua, interpretado como a transição do ambulante ao empreendedor na comida de rua em SAJ, que foi discutida no segundo artigo a partir da implementação e ressonâncias em torno da estratégia de intervenção: Programa SAJ Legal, que reproduziu uma ideologia neoliberal, com a multiplicação dos mecanismos de precarização no trabalho, por ela “formalizados” para regular a comida de rua. O terceiro artigo vislumbrou a analogia entre ambulantes e artífices (Sennett, 2015), desvelada na desenvoltura dos fazeres manuais complexos, que envolviam habilidades, saberes herdados e técnicas apreendidas, outrossim, astúcias, estratégias e o engajamento social, incutidos ao trabalho, executado por uma rede familiar. Nesta, demarcou-se a precarização do trabalho ambulante, incluindo familiares e subempregados, bem como a contradição implicada na responsabilidade de produzir uma comida, permeada pela SAN e, ao mesmo tempo, encontrar-se em um lugar de invisibilidade social, perante essa e outras políticas públicas brasileiras. Desses percursos analíticos, a tese reuniu elementos para desvelar um processo de trabalho invisibilizado em torno da comida de rua, cujas práticas transitavam do espaço doméstico à urbe, nas etapas de aquisição, pré-preparo e cocção da comida. Essas práticas, agregadoras de saberes e fazeres múltiplos, articulavam mente e corpo, amoldando artífices ambulantes. O comércio da comida de rua em SAJ, permeado por mecanismos ideológicos de regulação estatal, reproduziu um cenário de precarização no mundo do trabalho. Ao descortinar o contexto, enredado entre o fazer e o comer na comida de rua, a tese desvelou ainda que, embora colecione uma rede complexa de fazeres em seu trabalho, os ambulantes e suas famílias ressoam como entes excluídos do regime trabalhista legal e desassistidos em termos de Saúde e de Segurança Alimentar e Nutricional, enquanto que as políticas públicas voltadas ao segmento, marcadamente, priorizam uma suposta ordem, a inocuidade e a segurança da comida para o consumidor. Por tais compreensões, conclui-se que a comida de rua requer políticas e estratégias inclusivas, nas quais os ambulantes possam atuar como partícipes ativos do processo.


MEMBROS DA BANCA:
Interno(a) - 1095648 - LIGIA AMPARO DA SILVA SANTOS
Interno(a) - 287774 - RYZIA DE CASSIA VIEIRA CARDOSO
Externo(a) ao Programa - 2279561 - MONICA ANGELIM GOMES DE LIMA
Externo(a) à Instituição - MÔNICA CHAVES ABDALA - UFU
Externo(a) à Instituição - VIVIANE VEDANA - UFSC
Notícia cadastrada em: 25/03/2021 15:04
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