ESTADO ANTROPOMÉTRICO, AUTOPERCEPÇÃO DO
PESO E CONSUMO ALIMENTAR EM ADOLESCENTES DE
ESCOLAS PÚBLICAS DE SALVADOR.
Salvador
Estado antropométrico, padrão alimentar, imagem corporal, adolescentes, índice de
massa corpórea, consumo alimentar
ANDRADE, Vanessa Maggitti Bezerril Andrade. Estado Antropométrico, Autopercepção do
Peso e Consumo Alimentar em Adolescentes de Escolas Públicas de Salvador. Dissertação
(Mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Salvador, Bahia, 2018.
Introdução: Há aumento significativo do número de crianças e adolescentes com sobrepeso e
obesidade no mundo. Mudanças do consumo alimentar aliadas ao sedentarismo e outros
hábitos de vida são tidas como causas potenciais desse cenário. Paradoxalmente, a mídia
pressiona pela idealização de uma aparência corporal mais magra. Nessas circunstâncias, a
percepção em relação aos padrões de peso dos adolescentes pode ser facilmente afetada. A
complexa relação entre o valor real do peso e a imagem corporal é importante fator de
influência na saúde do adolescente. Poucos estudos avaliaram a interação entre o estado
antropométrico, a imagem corporal e o padrão alimentar de maneira sistemática, inclusive no
Brasil.
Objetivo: Avaliar a associação entre a divergência na imagem corporal real e percebida,
segundo o estado antropométrico, e o consumo alimentar de adolescentes matriculados em
escolas públicas de Salvador, Bahia.
Métodos: Trata-se de um estudo de corte transversal realizado em 23 escolas públicas de
Salvador (Bahia), que avaliou 1496 adolescentes selecionados aleatoriamente pelo processo
de amostragem por aglomerados em dois estágios, primeiro a escola e segundo o aluno. A
coleta de informações demográficas, da condição econômica, do estado antropométrico, do
consumo alimentar e da autopercepção do peso foi realizada. Para a coleta da informação do
consumo alimentar foi utilizado o Questionário de Frequência alimentar semi-quantitativo. O
padrão de consumo alimentar foi considerado o desfecho analítico e foi avaliado pela análise
de clusters. Modelo de regressão logística foi adotado para avaliar associações entre
divergência entre peso medido e percebido estratificado por estado antropométrico e os
padrões alimentares. Além disso, análises de redes de correlações foram empregadas para
realizar descrição detalhada do perfil de consumo de alimentos e sua relação com o estado
antropométrico e divergência entre peso medido e percebido. Para as análises estatísticas,
foram utilizados os programas SPSS 24, GraphPad Prism 7.0 e pacotes estatísticos do
programa R.
Resultados: Prevalência de 31,7% de divergência do peso medido e o percebido foi
identificada em escolares do município de Salvador. Quatro padrões alimentares foram
identificados por meio da análise de cluster hierárquico e k-means: 1) Padrão 1, composto por
feijão, cereais, bebidas açucaradas e açúcar e doces; 2) Padrão 2, caracterizado pelo consumo
de cereais, feijão, café e bebidas açucaradas; Padrão 3, composto por bebidas açucaradas,
cereais, frutas, café, feijão e pratos típicos baianos e Padrão 4, constituído por bebidas
açucaradas e feijão. Para os adolescentes de ambos os sexos com magreza/eutrofia, os
resultados indicaram associação negativa entre superestimação do peso atual e adesão aos
padrões alimentares 1 e 4 (sexo feminino: Padrão 1- odds ratio [OR] 0,5; intervalo de
confiança [IC]95%: 0,4-0,9; Padrão 4 OR 0,3; IC95%: 0,2-0,9; sexo masculino: Padrão 1-
OR 0,8; IC95%: 0,6-0,9; Padrão 4 OR 0,5; IC95%: 0,1-0,9). Ainda, nesse grupo, adolescentes
que subestimaram tiveram maior chance em consumir o Padrão 2 (sexo feminino OR 1,3; IC
95%: 1,1-1,3; sexo masculino: OR 1,2; IC 95%: 1,1-2,1). Em adolescentes com
sobrepeso/obesidade que superestimaram o peso corporal, observou-se menor chance de
adesão ao Padrão alimentar 1 (OR 0,4; IC95%: 0,1-0,6 para o sexo feminino e OR 0,5
IC95%: 0,2-0,8 para o sexo masculino), e maior chance de aderir ao Padrão 4 (OR 1,8
IC95%: 1,1-2,8 e OR 2,0; IC95%: 1,1-3,5, feminino e masculino respectivamente). E, aqueles
do sexo masculino com sobrepeso/obesidade tiveram menor adesão em consumir os
alimentos do Padrão 3 (OR 0,8; IC 95%: 0,6-1,0). As análises de redes de correlações
mostraram que na presença de sobrepeso e obesidade existiram correlações negativas na
ingestão de determinados grupos alimentares. Assim, adolescentes com obesidade
registraram ter maior número dessas correlações, ou seja, quando havia ingestão dos
alimentos do grupo legumes e verduras, o adolescente consumia menos os alimentos dos
grupos fast-food, embutidos, cereais e café, ou então quando era consumido alimentos do
grupo feijão consumia menos alimentos dos grupos leite e derivados, açúcar e doces, bebidas
açucaradas e café. Quando essas correlações foram avaliadas nos grupos segundo a
divergência entre peso medido e percebido, os indivíduos que superestimaram o peso,
comparados com aqueles que concordaram ou subestimaram o peso corporal, tiveram
maiores correlações negativas de consumo de grupos alimentares, ou seja, quando
consumiam alimentos do grupo raízes ingeriam menos alimentos dos grupos embutidos, óleos
e gorduras, café.
Conclusões: O presente estudo identificou elevada prevalência de divergência entre peso
medido e percebido entre escolares. Associações negativas e positivas foram identificadas
entre indivíduos com magreza/eutrofia ou excesso de peso, que subestimaram ou
superestimaram o peso corporal, e padrões alimentares caracterizados principalmente por
alimentos com elevado índice glicêmico (cereais, bebidas açucaradas, açúcar e doces). As
análises de rede de correlações permitiram observar que a escolhas alimentares inadequadas
podem ser determinadas pela presença de sobrepeso, obesidade e entre os indivíduos que
superestimaram o peso corporal. O conjunto de análises que compõem a dissertação
acrescenta importantes informações sobre o consumo alimentar de escolares na cidade de
Salvador e suas relações com o estado antropométrico e com a divergência entre o peso
medido e o percebido. Tais conhecimentos poderão servir para fundamentar investimentos
futuros na área de epidemiologia nutricional no Brasil.