A PRÁTICA DE NUTRICIONISTAS E AS PICS NO CUIDADO A PESSOAS COM OBESIDADE: UM ESTUDO QUALITATIVO
Cuidado; Obesidade; Práticas Integrativas e Complementares; Nutricionistas.
Objetivo: Compreender como as práticas desenvolvidas por nutricionistas que atuam com PICS se conformam no âmbito do cuidado a pessoas com sobrepeso e obesidade na atenção à saúde. Metodologia: Trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório e descritivo. Foram recrutados nutricionistas da rede privada de ambos os sexos, que utilizassem PICS no cuidado às pessoas com obesidade. Foram realizadas nove entrevistas semiestruturadas, entre os anos de 2019 a 2021. Após a transcrição, foram realizadas leituras recorrentes, que fizeram parte da apropriação e início das análises do material, sendo que esta última ocorreu em duas etapas. Uma matriz de análise foi adotada para inclusão dos dados advindos das entrevistas bem como o registro do movimento analítico-interpretativo realizado pela pesquisa. A categorização inicial foi inspirada na proposta de núcleos de significação. O processo de análise e de interpretação dos dados se inspirou na proposta de núcleos de significação de Aguiar e Ozella. Os indicadores foram divididos entre três categorias de análise. São elas: “O encontro com as PICS: a experiência, formação e a crítica à Nutrição”, “A prática do Nutricionista e as PICS” e “O cuidado a pessoas com obesidade utilizando as PICS”. As categorias foram construídas a partir da aglutinação de indicadores de acordo com similaridade, complementaridade ou contraposição entre eles. Resultados e Discussão: Para fins desta dissertação, os resultados serão apresentados em formato de artigo. O artigo objetiva compreender os sentidos atribuídos por nutricionistas que atuam com PICS à sua prática e descrever como essa se conforma no âmbito do cuidado às pessoas com obesidade. No que concerne aos participantes, a maioria era do sexo feminino, todos atuavam profissionalmente na rede privada e um deles também na rede pública. A fitoterapia foi a PICS mais incorporada pelos entrevistados e a que teve maior número de certificação via pós-graduação lato sensu, quando comparada às demais PICS. Foi observado que as primeiras experiências dos participantes com as práticas estavam associadas a contextos pessoais, inclusive de autocuidado e a influências familiares. Observou-se que a experiência pessoal e as críticas a uma perspectiva da nutrição pautada na ciência hegemônica, descrita como nutrição “cartesiana” e “na caixinha”, atuaram como propulsoras do uso das PICS e não a formação “formal”. A nutrição “na caixinha” foi caracterizada pelo foco no emagrecimento e pelo uso da avaliação antropométrica e da prescrição dietética como principais ferramentas. Porém, apesar de criticar a centralidade no peso, notou-se que os entrevistados não conseguiram se desvencilhar por completo desse parâmetro primordial. A ansiedade emergiu como tema central na discussão sobre o cuidado oferecido às pessoas com obesidade. Múltiplas práticas são usadas simultaneamente, impulsionando a criação de técnicas “próprias”. Considerações finais: Apesar da existência da PNPIC, as PICS ainda não terem encontrado espaço perene no âmbito do SUS no que se refere à prática de cuidado do nutricionista. De maneira oposta, a atenção privada revelou-se como um ambiente mais permeado por essas práticas. É sabido que a condição de obesidade reforça a necessidade de se repensar a hegemonia do discurso biomédico cristalizado como modelo explicativo e de enfrentamento, a fim de abrir caminho para inclusão de outras racionalidades presentes no campo da saúde, e de ordem biopsicossocial, contemplando aspectos da etiologia até ferramentas de cuidado endereçadas aos indivíduos e/ou coletividades. Nesse sentido, considerando as racionalidades médicas distintas das Práticas Integrativas e Complementares e a ciência da nutrição, os nutricionistas demonstraram que essas distintas formas de cuidado podem coexistir na atenção integral a indivíduos com sobrepeso e obesidade. Por fim, nota-se que as PICS não são aplicadas isoladamente, suplantando práticas nutricionais convencionais. Mas, ao contrário, surgem como parte de um todo desenvolvido para a promoção do cuidado.