A FARINHA DE COPIOBA COMO PATRIMÔNIO ALIMENTAR: UMA ANÁLISE NA PERSPECTIVA DA ECOGASTRONOMIA
E DO TURISMO RURAL
farinha de mandioca, agricultura familiar, patrimônio alimentar, ecogastronomia, turismo Rural
No Recôncavo baiano, dentre os alimentos da tradição, têm-se a farinha de Copioba: produto artesanal e de origem indígena, obtido em casas de farinha, a partir da mandioca não fermentada, e com registros desde os séculos XVI, cuja notoriedade é dada por suas características de crocância, textura e sabor. Embora parte essencial da cultura alimentar regional, essa farinha tem sido pouco valorizada na perspectiva social e econômica, especialmente no mercado turístico rural. Em adição, seu processamento tem apresentado modificações, havendo movimentos que destacam a necessidade de proteção dessa farinha e seu sistema produtivo. Assim, este estudo buscou analisar o patrimônio alimentar do complexo produtivo das casas de farinha de Copioba no Recôncavo Baiano e seu processo produtivo, na perspectiva da Ecogastronomia e das práticas de turismo rural na agricultura familiar. Realizou-se uma pesquisa exploratória, conduzida em três etapas: revisão de literatura, estudo comparativo de múltiplos casos e estudo de diagnóstico ecogastronômico. A revisão de literatura contemplou os fundamentos conceituais, caracterizações e interrelações para construção do quadro teórico. O estudo comparativo de múltiplos casos, por sua vez, abordou as técnicas de produção e as modificações operacionais relativas ao processo de torração da farinha, considerando a manutenção do método manual e mais antigo, em alguidar de barro, e o mais recente, em sistema semimecanizado elétrico com forno de inox. Para tanto, foram realizadas entrevistas semi estruturadas e observações in loco em casas de farinha de Copioba do território, escolhidas por seleção racional, para o levantamento das características socioeconômicas, laborais, similaridades e diferenciações dos seus sistemas produtivos. Quanto ao estudo diagnóstico turístico ecogastronômico, foram analisadas as mesmas produções tradicionais anteriores, com entrevistas semiestruturadas aos produtores e produtoras rurais, 2 técnicos da gestão municipal de Nazaré, 2 especialistas em Ecogastronomia e Turismo do Slow Food Brasil e 1 técnico da assistência técnica rural do território. A análise do ambiente de marketing desses estabelecimentos rurais foi feita através da Matriz SWOT. Os resultados demonstraram que a utilização do patrimônio alimentar das casas de farinha de Copioba do Recôncavo baiano, no contexto do turismo ecogastronômico e do turismo rural na agricultura familiar, pode ser considerada tanto viável e como possível. Ademais, suas características de notoriedade enquanto alimento tradicional, seus sistemas produtivos específicos e saberes e fazeres patrimoniais são únicos. Tanto a produção manual como a semimecanizada produzem a farinha de Copioba tradicional, com suas características distintivas de crocância, textura e sabor, na perspectiva dos agricultores, sendo o saber fazer do mestre farinheiro o elemento chave na salvaguarda destas. No que tange ao estudo diagnóstico turístico ecogastronômico, a viabilidade deste patrimônio alimentar é satisfatória: apesar das fragilidades quanto à acessibilidade e hospedagem nos estabelecimentos rurais, sua notoriedade, beleza cênica e o patrimônio histórico arquitetônico deste território se destacam e é possível realizar atividades turísticas neste meio rural de qualidade, mesmo sem a hospedagem. Portanto, o patrimônio alimentar destas casas de farinha de Copioba e seu processo produtivo, pode ser satisfatoriamente a base para o desenvolvimento do socioeconômico do Recôncavo Baiano, sob a perspectiva da Ecogastronomia e das práticas de turismo rural na agricultura familiar.