REPERCUSSÕES DA COVID-19 JUNTO A AGRICULTORES FAMILIARES: UM ESTUDO NA CADEIA PRODUTIVA DA FARINHA DE MANDIOCA NO RECÔNCAVO BAIANO
pandemia, agricultura familiar, saúde coletiva, economia rural, mandioca.
A pandemia da COVID-19 gerou uma das maiores crises mundiais, com redução do poder aquisitivo da população, dificuldades no acesso aos alimentos e, registrou, no âmbito nacional, aumento da pobreza e da insegurança alimentar. O Brasil se destacou entre os países mais afetados, com impactos em diversos segmentos, sobretudo, na agricultura familiar, setor essencial para o abastecimento alimentar, mas marcado por perdas nas políticas públicas. Assim, este buscou avaliar as repercussões da pandemia da COVID-19 nas condições de vida, saúde e trabalho de produtores de farinha de mandioca do Recôncavo baiano. Realizou-se
estudo transversal, descritivo, por meio da aplicação de questionário, junto a 96 agricultores, de 11 municípios, sendo a coleta de dados realizada por meio de preenchimento online e entrevista por telefone, durante o distanciamento social, e presencialmente, após a liberação do distanciamento. Os dados foram tratados por estatística descritiva e testes de associação (Chiquadrado, p valor=0,05). Do total de participantes, 26,9% constituíam grupo de risco de agravamento da COVID-19, 36,6% tiveram sintomas desta doença e 19,4% testaram positivo; entre os respondentes, 12,9% relataram óbitos nas suas comunidades. O acesso dos produtores à informação sobre a doença, por meio de mídias de comunicação, foi crucial para limitar o número de casos. Apesar de insuficiências de ações governamentais e do quadro de insegurança hídrica local, verificou-se adesão às medidas de prevenção da doença, especialmente o uso de máscaras e a higienização das mãos - contudo, sem diferenças significativas quanto às características sociodemográficas. Ainda, 84,9 % informaram boa distribuição da vacina. Na análise das repercussões da COVID-19 sobre o trabalho, 86 agricultores foram considerados na amostra, dos quais 64% indicaram alterações no volume de produção de farinha e na renda. Registrou-se redução na produção mensal, no número de trabalhadores e nas horas trabalhadas nas casas de farinha, além da redução nos canais de comercialização. O aumento na renda advinda da produção de farinha foi associado a um pequeno número de produtores, mais experientes (p=0,047). Apesar da manutenção das feiras nos municípios, houve alterações no comportamento dos clientes. O comércio online e por delivery foram pouco representativos. Dos entrevistados, 50% relataram preocupação de que os alimentos acabassem. As medidas governamentais voltadas aos agricultores familiares não tiveram alcance satisfatório junto aos participantes. A maior parte recebeu auxílio emergencial, sendo também beneficiários de programas sociais, o que evidencia vulnerabilidades no setor. O estudo sinaliza a necessidade de ações e investimentos, que possam dignificar as condições de vida dos agricultores e melhorar a infraestrutura das casas de farinha, promovendo o desenvolvimento e a inovação nesta cadeia produtiva. Espera-se que o estudo possa subsidiar a tomada de decisão, no âmbito das políticas públicas de saúde e de agricultura voltadas à essa categoria social. Outrossim, busca-se alcançar uma melhor orientação dos produtores sobre a importância da adoção às Boas Práticas na produção da farinha e dos cuidados em saúde, para a prevenção de doenças.