AS PRÁTICAS DISCURSIVAS DA EDUCAÇÃO CORPORATIVA NO CAMPO ACADÊMICO BRASILEIRO
Discurso. Educação Corporativa. Campo Acadêmico. Análise Crítica do Discurso. Estudos Organizacionais Críticos
Esta tese versa acerca do fenômeno da educação corporativa (EC) como um problema sociodiscursivo. Delimita-se o campo acadêmico brasileiro como campo social de investigação. A questão central é: como o campo acadêmico brasileiro age, representa e identifica(-se) discursivamente (com) a EC? O objetivo geral é investigar as práticas discursivas acerca da EC no campo acadêmico brasileiro, buscando compreender potenciais práticas sociais, (redes de) ordens de discurso e tendências de mudanças discursivas. Para tanto, define-se como objetivos específicos, analisar neste campo: (1) representações e identificações discursivas acerca da EC no gênero literário; (2) representações e identificações discursivas acerca da EC no gênero evento social; (3) representações e identificações discursivas acerca da EC no gênero ator social docente; (4) convergências, divergências e silêncios que emergem das formações discursivas analisadas. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, com base interpretativista e crítico-discursiva, situada no entrecruzamento teórico e onto-epistêmico-metodológico da Análise Crítica do discurso (ACD), nos termos em que é formulada por Norman Fairclough, e dos Estudos Organizacionais Críticos (EORC). No escopo de um diálogo tecido entre essas duas abordagens, que propõem as noções de discurso e de poder em perspectivas críticas, o estudo assume a linguagem como parte irredutível das práticas sociais. Os métodos utilizados foram pesquisa documental, entrevista qualitativa e observação não participante, definidos em investigações com corpus de dados coletados e gerados em três gêneros discursivos (GD) acadêmicos: literário (livros), evento social (congresso) e ator social (docente). As principais categorias da ACD para a análise dos dados foram interdiscursividade, intertextualidade, metáfora, estrutura genérica, representação de eventos e atores sociais, avaliação e modalidade. Elas foram articuladas a categorias sociais de estratégias ideológicas e de tendências abrangentes de mudanças em progresso nas ordens de discurso (OD): comoditização, tecnologização e democratização. Os resultados apontam a construção de três OD centrais: (1) as práticas discursivas da EC como modelo de colonização unilinear do mainstream epistêmico do conhecimento das teorias pós-modernas de gestão do campo da administração; (2) as práticas discursivas da EC como modelo de educação profissional sob a lógica da construção de uma hibridização discursiva para formação do “cidadão-empregado”; e, (3) as práticas discursivas da EC como modelo de sinergia de parcerias universidade e empresa (U-E) para mudanças de uma educação “negociada”. Estas OD assinalam como as práticas discursivas da EC neste campo é fragmentado por estratégias ideológicas, ressignificadas em tendências de mudanças discursivas contemporâneas de OD locais, por um lado, ao vincularmos estas ao campo das teorias pós-modernas da gestão de negócios, mas, de outro lado, como parte de um discurso hegemônico macrossocial a partir da relação entre empresa, educação e mercado. No entanto, afirma-se ainda que a partir das confluências contradiscursivas que moldam o campo acadêmico-científico é possível novas formações e transformações dessas práticas sociodiscursivas.