A guia como modo de vida: trabalho de rua e cidade por mulheres negras no centro de Salvador
trabalhadoras de rua; encontros de pesquisa; margens; fazer-cidade.
Construída a partir da rua, da observação, do encontro e do diálogo, esta pesquisa buscou apreender as dinâmicas estabelecidas nas relações mulher-trabalho-cidade, enfocando o trabalho de rua praticado por mulheres negras nas ruas do centro de Salvador/BA, com o intuito de discutir os processos do “fazer-cidade” cotidiano, as ocupações, os usos e dinâmicas urbanas, as disputas e tensões, as relações urbanas, bem como os modos de vida que atravessam as trajetórias dessas mulheres, tais como: trabalho, moradia, família. A pesquisa contou com três principais interlocutoras, e foi a partir da pesquisa de campo de caráter etnográfico que houve a aproximação com a cidade, as trabalhadoras e as práticas de trabalho de rua. Adotou-se os “encontros de pesquisa” e a “pesquisa implicada” como ferramentas teórico-metodológicas, epistêmicas, éticas e políticas, na perspectiva de produzir conhecimento junto, desde e com as trabalhadoras de rua. As trajetórias e narrativas das interlocutoras foram as guias para a construção das reflexões aqui delineadas, bem como as imagens e os fragmentos - textuais, documentais e empíricos - foram ferramentas para pensar e narrar a cidade por outros meios de linguagem que não apenas a escrita. A partir destas trocas cotidianas e subjetivas, a dissertação caminha por três eixos de discussão: ocupação e disputa; redes de relações e políticas da rua; e gestão da vida cotidiana, abordando as complexidades e ambiguidades existentes nessas discussões. Por fim, desloco a percepção adotada por algumas abordagens referentes ao trabalho de rua, que o determinam unicamente pelo viés da falta e da precariedade, buscando, assim - sem desconsiderar que também se trata de um trabalho precarizado, criminalizado e privado de direitos sociais -, analisar a partir e junto a essas dimensões, as trajetórias e narrativas das interlocutoras no “fazer-cidade”, que enfatizam a importância destas práticas de trabalho na vida urbana e em suas próprias vidas. Trabalhar na rua possibilita a estas mulheres, desde as margens, planejar e imaginar um futuro, ter perspectivas de mudanças e de acesso à cidade, tendo sua “guia” como elemento fundamental não apenas do trabalho de rua, mas de um modo de vida destas mulheres na cidade.