A dissertação busca compreender elementos da história do urbanismo da cidade do Rio de Janeiro, com foco no projeto de urbanização da favela de Brás de Pina, ocorrida na década de 1960- 1970, pela aproximação dos registros e histórias narradas em diálogo com as trajetórias daquelas e daqueles que construíram e reivindicam esse território. Por meio dos arquivos pessoais das famílias, Oliveira e Pimentel, que ocupam historicamente a favela de Brás de Pina, pretendemos compreender os processos de transformações históricas desse território, evidenciados por outras(os) narradoras(es), suas moradoras(es). Desta forma, se busca ampliar a leitura sobre o projeto urbano de cidade, sobretudo de territórios favelados, normalmente narrados sem a participação daquelas e daqueles responsáveis pela construção material e simbólica desses espaços. Buscamos, por meio dos relatos e registros fotográficos familiares identificar as práticas e trajetórias desses protagonistas, que em movimento dentro de seus quintais ou pelas ruas do bairro, articularam suas redes em favor do processo participativo da urbanização. Com isso ampliamos o campo de estudo da historiografia urbana, que mantém foco nos projetos, como plataforma de análise, composição dos discursos e narrativas.

Esta dissertação aborda as movimentações históricas, socioespaciais e ambientais do bairro de Águas Claras, em Salvador, sob a perspectiva das narrativas e vivências de mulheres negras. Inspirado pela metodologia da "escrevivência", o trabalho trança histórias pessoais e coletivas com experimentações artísticas, para recontar as contribuições, os enfrentamentos e memórias invisibilizadas de populações marginalizadas. A pesquisa busca compreender como processos históricos, como a instalação de instituições de saúde e educação, as transformações urbanas, a exemplo do Pinicão e os movimentos comunitários, constituíram o território de Águas Claras, suas paisagens e as condições de vida de suas moradoras e moradores. Elementos como a memória da "Praia dos Pretos", a mobilização de mulheres lavadeiras e a luta pela permanência no território demonstram como a ocupação do espaço urbano reflete conflitos e enfrentamentos frente às dinâmicas de exclusão e racismo ambiental. Ao utilizar instrumentos como colagens, lambes, mapas e fotos, o estudo promove uma reinterpretação deste espaço urbano, evidenciando a relevância de práticas coletivas para a reconstituição das histórias, memórias e paisagens. Por fim, o trabalho apresenta a necessidade de criar e buscar novas epistemologias que integrem as narrativas marginalizadas ao campo do planejamento urbano e da paisagem, a fim de ampliar o debate acadêmico e estimular o pertencimento local.

A disstertação trata da infraestrutura social urbana, com a perspectiva de construir uma

abordagem teórico-metodológica que a explique conceitualmente e identifique a quais

escalas espaciais as unidades de serviço dos seus distintos sistemas sociais setoriais

podem ser associadas. Para tanto, parte da investigação dos fundamentos que

justificam a produção da infraestrutura social urbana e recorre as categorias da

economia política para explicar a sua produção. Faz uma revisão crítica da abordagem

que o urbanismo estabeleceu sobre essa infraestrutura na teoria da “unidade de

vizinhança”, procurando explicar as limitações identificadas a partir da consideração

de que esse campo de conhecimento nunca foi trabalhado como uma disciplina

autônoma – com objeto de conhecimento e método próprios – no Brasil. Por fim,

procura identificar as unidades de serviço e as escalas espaciais as quais elas podem

ser associadas, sistematizando uma abordagem que é aplicada no estudo de caso das

unidades integrantes da rede de atenção básica à saúde do município de Salvador-BA.

Esta dissertação investiga como o Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) atuou no estabelecimento de relações artísticas e culturais entre o Brasil e os Estados Unidos através da realização de exposições de arquitetura entre 1943 e 1955 que envolvem diretamente os dois países. “Brazil Builds” - já bastante conhecida, ocorreu em 1943, sendo seguida de From Le Corbusier to Niemeyer (1948) e Latin America Architecture Since 1945 (1955) também realizadas no MoMA, dentro do recorte temporal considerado. Além disso, o MoMA enviou ainda para
Bienal de Arte de São Paulo a exposição Built in USA: Postwar Architecture de 1953, originalmente montadas para o espaço em Nova York. Nossa pesquisa propõe analisar como se deu essa circulação de artefatos, que implicou uma circulação de pessoas e ideias, e em que medida esses deslocamentos contribuíram para a construção de visões canônicas sobre a arquitetura brasileira e. em um sentido mais amplo, de um imaginário em torno do Brasil,
enquanto território político em disputa.

Este trabalho tem como tema o estudo acerca da paisagem e do patrimônio cultural utilizando a teoria de Francisco de Gracia quanto a inserção de arquiteturas contemporâneas em contexto de preexistência de valor patrimonial, a partir da análise projetual do Novo Mercado São Miguel, localizado na Avenida José Joaquim Seabra, a Baixa dos Sapateiros, área de Centro Antigo da cidade de Salvador. Partindo da hipótese de que a incompatibilidade da intervenção realizada se dá pela desqualificação e desconsideração do conjunto edificado e de suas manifestações culturais a ponto de reconfigurar a paisagem do conjunto preexistente e destruir a dinâmica cultural do lugar, o trabalho caracteriza a Baixa e o Mercado a partir do contexto histórico, morfológico, regulamentação legislativa, atuação dos órgãos de preservação e dos fatores que resultaram na sua degradação/abandono. A partir da análise do projeto, foi possível mostrar o impacto da implantação do novo mercado na paisagem e no patrimônio cultural da Baixa dos Sapateiros. Dos procedimentos metodológicos utilizados nesta pesquisa se caracterizam nas técnicas no âmbito da abordagem qualitativa, de natureza básica, cujos objetivos foram de caráter exploratório e descritivo, seguindo os procedimentos adotados do tipo pesquisa bibliográfica, iconográfica e de campo, com análise de documentação (projeto e parecer técnico) e das entrevistas semiestruturadas com técnicos envolvidos no desenvolvimento do projeto e permissionários do mercado.

A presente dissertação tem como objetivo analisar e tornar conhecidas as escolas construídas no Rio Grande do Sul durante o governo de Leonel de Moura Brizola (1959-1963), com ênfase em suas características arquitetônicas. Essas edificações foram desenvolvidas a partir de um programa educacional cujo lema era "Nenhuma criança sem escola no RS" e tinham como principal característica a construção de unidades escolares por todo o território gaúcho, a fim de mitigar a crítica situação educacional da época. Nesse contexto, os estudos de Claudemir Quadros (2002) e Marques (2012) indicam que os prédios eram frequentemente construídos próximas a estradas, sendo considerados modernos e confortáveis, tornando-se marcos na paisagem (Revista Ensino nº 76, 2001, apud Quadros, 2002). As edificações seguiam uma organização pavilhonar, construídas ora em alvenaria, ora em madeira, dependendo da disponibilidade de materiais e mão de obra em cada região (Marques, 2012). Além disso, para uma compreensão mais ampla dos objetos de estudo, torna-se necessário explorar seus contextos, incluindo experiências preliminares, como as edificações feitas durante o mandato de Brizola como prefeito de Porto Alegre. Com base nesses elementos e no momento em que essas edificações foram implantadas, a pesquisa estruturou-se em três principais eixos de investigação, que serviram como referenciais teóricos. O primeiro eixo discute conceitos de tipo e tipologia, inserindo as unidades escolares no universo tipológico. O segundo aborda o recorte temporal estudado e as características das populares brizoletas, analisando sua relação com o Movimento Moderno, ao mesmo tempo em que dialoga com especificidades locais. Além dos aspectos formais, esse eixo também contempla questões ideológicas vinculadas ao modernismo. O terceiro e último referencial teórico trata da relação entre a arquitetura dessas escolas e o poder político, com ênfase nas políticas educacionais do governo Brizola. Para além do referencial teórico, a pesquisa incluiu revisões documentais e bibliográficas sobre o programa educacional e os contextos históricos, políticos e educacionais em âmbito nacional, estadual e municipal. Junto a isso, foram selecionadas cinco unidades para análises mais detalhadas, nas quais foram realizados levantamentos fotográficos e arquitetônicos, além de entrevistas com indivíduos que, de alguma forma, estiveram envolvidos com essas instituições. Por fim, ao longo da pesquisa, foram obtidas informações e análises que possibilitaram relacionar essas edificações aos referenciais teóricos estabelecidos, inserindo, assim, as brizoletas na história da arquitetura e contribuindo para a disseminação do conhecimento sobre sua relevância e significado.

Esta dissertação analisa a relação entre habitação e preservação do patrimônio no contexto das políticas, programas, projetos e planos voltados à reabilitação do Centro Histórico de Salvador (CHS), entre 1960 e 2010, com foco especial no Programa Rememorar (1999-2004). Parte-se do reconhecimento de que, historicamente, as intervenções no CHS priorizaram o turismo e a valorização econômica, negligenciando o uso habitacional como estratégia de preservação e reabilitação urbana. Nesta pesquisa, a habitação é tratada como elemento indutor de diversidade urbana e instrumento de articulação equilibrada entre valores tradicionalmente atribuídos ao patrimônio urbano – cultural, econômico, de uso. Nesse sentido, propõe-se uma ampliação do debate, incorporando o valor ambiental em prol de uma abordagem mais integrada e sustentável da reabilitação urbana. Desse modo, a análise se apoia em um panorama histórico das ações governamentais desenvolvidas nos planos federal e local, entre as décadas de 1960 e 2010, tendo como eixo principal a maneira como o uso residencial foi considerado (ou não) enquanto estratégia de atuação no CHS. Identificaram-se 360 unidades habitacionais produzidas entre 1986 e 2014, sendo 197 oriundas da reabilitação de 38 casarões históricos. Nesse contexto, o Programa Rememorar se destacou como a única iniciativa implementada que posicionou a habitação como elemento central da preservação, por meio de um arranjo financeiro-institucional inovador, composto por recursos oriundos de diferentes fontes, como o Governo do Estado da Bahia, a Lei Rouanet e o financiamento habitacional via Programa de Arrendamento Residencial (PAR). A experiência-piloto resultou na reabilitação de cinco imóveis e na entrega de 41 unidades habitacionais destinadas a servidores públicos estaduais, porém apesar dos resultados positivos iniciais, o programa não avançou para etapas subsequentes. A pesquisa foi conduzida a partir dos seguintes procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica; pesquisa de campo; pesquisa documental; entrevistas; e análise dos dados coletados nas fontes primárias e secundárias. Ao final, retomam-se questões conceituais e operacionais da habitação em centros históricos, reconhecendo os limites e apontando novas perspectivas. Assim, ao evidenciar o potencial da habitação como estratégia para integrar preservação, sustentabilidade e diversidade urbana, esta dissertação busca contribuir para o fortalecimento de uma agenda de preservação do CHS comprometida com a permanência dos sujeitos do patrimônio, a valorização das práticas culturais locais e a construção de cidades mais justas, inclusivas e sustentáveis.

A presente pesquisa se propõe a explorar as dinâmicas de formação da propriedade racializada no Baixo Centro de Vitória, Espírito Santo, a partir da articulação entre os processos fundiários históricos e as práticas urbanísticas contemporâneas. Embora a produção acadêmica sobre modernização urbana e segregação espacial nas cidades brasileiras seja vasta, observa-se uma lacuna quanto à análise das relações entre raça e direito à propriedade urbanização no contexto específico da capital capixaba. Observando essa lacuna, o trabalho propõe compreender como o Regime Racial da Propriedade se manifesta e se atualiza nesse território, evidenciando a articulação entre exclusão racial e concentração fundiária. Para tanto, foi empregada uma abordagem metodológica multifacetada que envolve pesquisa bibliográfica, levantamento documental, análise de cadeias dominiais e pesquisa censitária. Compreende-se que as políticas recentes de requalificação urbana aprofundam processos de financeirização do espaço e de expulsão de populações não-brancas, reafirmando estruturas históricas de desigualdade e expropriação. Ao revelar as continuidades entre os mecanismos coloniais de ordenamento da terra e as práticas urbanísticas atuais, o estudo procura contribuir para o entendimento das lógicas de produção da desigualdade racial urbana no Brasil.

Esta dissertação apresenta e discute a proposição de um fluxo de trabalho otimizado para mapeamento de danos através de métodos e técnicas aplicadas ao Heritage Building Information Modeling (HBIM). A pesquisa avalia as potencialidades e limitações dessa abordagem em relação aos métodos tradicionais que utilizam, predominantemente, editores de desenho CAD (recursos bidimensionais). A metodologia foi estruturada em três etapas: revisão bibliográfica, experimentações preliminares e estudo de caso. Realizou-se uma análise da bibliografia sobre conceitos e processos associados ao mapeamento de danos e, em seguida, uma revisão sistemática da literatura, para identificação e classificação de métodos e ferramentas aplicadas à documentação dos danos em edificações históricas através do HBIM. Foram conduzidos testes práticos com os softwares Edificius e Archicad, explorando suas capacidades de representação geométrica, enriquecimento semântico e visualização das lesões em superfícies complexas. Com o conhecimento adquirido, aplicou-se o método no estudo de caso da Igreja de Senhora Sant’Ana, em Rio de Contas (BA), desenvolvendo um modelo HBIM desde a aquisição de dados por fotogrametria até o mapeamento dos danos na fachada principal. Os resultados indicam que o HBIM apresenta diversas potencialidades para mapeamento de danos, integrando dados geométricos e descritivos em uma base de dados unificada, ampliando as possibilidades de análise, interpretação e gestão da informação nos processos de conservação e restauro. Apesar das limitações observadas na modelagem de superfícies complexas, o HBIM apresentou avanços significativos frente aos métodos tradicionais, especialmente no armazenamento, consulta e compartilhamento das informações. Como contribuição, propõe-se um fluxo de trabalho sistematizado para o mapeamento de danos, destacando suas potencialidades e apontando direções para futuras aplicações em projetos de preservação.

A presente dissertação propõe uma contribuição metodológica para a análise do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e Sustentável (PDDU-S) de 2023 do município de Camaçari, Bahia, sob a ótica das dimensões da sustentabilidade: ambiental, social, econômica, cultural, política e espacial/territorial. O objetivo principal da pesquisa é verificar em que medida o plano incorpora, de forma integrada e estratégica, os princípios da sustentabilidade no ordenamento do território municipal. Adotou-se uma abordagem metodológica qualitativa, baseada na análise documental do conteúdo do PDDU-S e Códigos Urbanístico e Ambiental por meio da aplicação de uma matriz analítica construída a partir de referenciais teóricos e normativos sobre sustentabilidade e planejamento urbano e ambiental. Cada dimensão da sustentabilidade foi desdobrada em critérios qualitativos específicos, permitindo uma leitura crítica e sistematizada do plano. Os resultados apontam para avanços nas dimensões ambiental e econômica, mas também revelam lacunas significativas na integração dos aspectos sociais, culturais e políticos. A pesquisa contribui para o debate sobre a efetividade dos planos diretores como instrumentos de planejamento orientados à sustentabilidade, ressaltando a importância da articulação entre teoria, técnica e participação social na formulação de políticas urbano-ambientais mais justas, inclusivas e sustentáveis.

O presente trabalho analisa o Projeto Via Expressa Linha Viva (LV) e os seus possíveis impactos com a sua eventual implantação. Apresenta a sua caraterização e a partir de leituras sobre os planos diretores de desenvolvimento urbano e da sedimentação teórica sobre ocupação socioespacial traz reflexões sobre os impactos na mobilidade e racismo. Nesse sentido, avaliar sua implantação e as implicações com segregação e racialização, posto que o projeto Linha Viva pretende cuidar de mobilidade viária urbana, com concepção estruturada na criação de via expressa, pedagiada, exclusiva para escoamento do trânsito de veículos automotivos.

A presente dissertação investigou a percepção ambiental dos usuários da Praça
João Thiago dos Santos, ou Praça Matriz, em Lauro de Freitas, Bahia, buscando
compreender seus usos e funções no contexto do espaço público
contemporâneo. Para tanto, a pesquisa estabeleceu como objetivos específicos
discutir as abordagens conceituais do espaço público e suas transformações,
refletir sobre as dimensões socioespaciais da percepção ambiental em praças
públicas no contexto brasileiro, e analisar empiricamente os usos e funções da
Praça Matriz a partir da percepção ambiental dos seus usuários. A metodologia
adotada foi qualitativa, com uma abordagem multimétodos ancorada nos
Estudos Pessoa-Ambiente (EPA), tendo a transversalidade dos estudos da
Psicologia Ambiental e da Arquitetura e Urbanismo como plano de fundo. Entre
os métodos utilizados estão as observações de campo, mapeamento
comportamental e entrevistas semiestruturadas com os usuários. Os resultados
empíricos da Praça Matriz revelaram sua intrínseca multifuncionalidade,
servindo como palco para eventos culturais, religiosos, sociais e de lazer. Foi
observada a coexistência de permanência e fluxo, com a formação de "bolsões
de uso" impulsionados por áreas sombreadas, equipamentos de lazer ativo
(parquinho infantil) e serviços, evidenciando usos específicos em horários
diversos e a capacidade de adaptação do espaço às demandas cotidianas. A
percepção dos usuários sobre segurança, conforto e acessibilidade mostrou-se
fundamental para a apropriação e o bem-estar no local, corroborando a
importância da percepção ambiental como ferramenta de compreensão do uso
e funções dos espaços públicos contemporâneos. Em suma, a Praça Matriz
exemplifica um espaço público utilizado e adaptado as necessidades dos seus
usuários a partir de apropriações cotidianas relacionados com as áreas de maior
conforto e disponibilidade de lazer, que oferece insights valiosos sobre a
complexa interação entre o relação pessoa-ambiente, abrindo caminhos para
futuras pesquisas longitudinais, comparativas e segmentadas que aprofundem a
compreensão deste espaço público

A busca por maior eficiência energética em edificações existentes torna-se cada vez mais urgente diante da crescente escassez de recursos energéticos. O retrofit da envoltória dos edifícios surge como uma estratégia eficaz para a redução do consumo de energia. Nesse contexto, o uso de simulações energéticas, especialmente com o auxílio de ferramentas baseadas na tecnologia Building Information Modeling (BIM), oferece suporte a decisões projetuais mais precisas. Este trabalho propõe um método de projeto para retrofit arquitetônico voltado à melhoria do desempenho energético da envoltória de edificações existentes, por meio de simulação computacional com o BIM. O método é estruturado em cinco etapas: coleta de dados, modelagem, simulação, proposta de retrofit e simulação da proposta. Como parte da pesquisa, é apresentada a aplicação prática do método em um edifício institucional da Universidade Federal da Bahia (UFBA), bem como um tutorial para a aplicação do método com o uso do software Revit® da Autodesk® e os plug-in Green Building Studio® e Insight®. Embora a coleta de dados fidedignos da edificação existente represente um desafio e o software apresente complexidades técnicas e limitações frente às condições brasileiras, a metodologia demonstrou potencial como ferramenta de apoio à definição de estratégias eficazes para o aumento da eficiência energética da envoltória.

Nas últimas décadas, as áreas centrais das metrópoles brasileiras vêm atravessando intensos processos de esvaziamento populacional e desvalorização, impulsionados por transformações econômicas e pelas mudanças nas dinâmicas urbanas. No Centro Antigo de Salvador, o bairro do Comércio configura-se como expressão emblemática desse processo, evidenciado pela subutilização de suas edificações e pela progressiva perda de sua função habitacional. Embora múltiplas propostas de requalificação tenham sido formuladas desde a década de 1970, a maioria delas priorizou o turismo e a requalificação estética dos espaços públicos, em consonância com estratégias de valorização fundiária e financeirização do território, mantendo a Habitação de Interesse Social (HIS) a um papel secundário. Este trabalho propõe colocar a habitação no centro da discussão sobre o Comércio, analisando as políticas habitacionais que incidiram sobre o bairro no período de 1970 a 2024, de modo a compreender como a dimensão habitacional tem sido considerada (ou negligenciada) nos planos, programas e propostas elaboradas pelos órgãos públicos municipais e estaduais para a área do Comércio. 

Esta prática de pesquisa articula reflexões a partir de práticas profissionais acadêmicas, artísticas e formativas, desenvolvidas no e junto ao território de Valéria, em Salvador–BA, co-construídas por mim — mulher negra, moradora-pesquisadora-urbanista-artista — em diálogo com as coletividades com as quais atuo. A partir dessas práticas, experimento pensar sobre a construção de ferramentas de disputa por pertencimento, autonomia e vida nos territórios negros urbanos. Entendo que tais disputas se expressam por meio das fugitividades cotidianas (Campt, 2017) inscritas pelas populações afrodiaspóricas (Gilroy, 2001), historicamente forjadas nas encruzilhadas (Martins, 2021) e nas margens (Hooks, 2017). Adotando a ideia de texto-collage, desenvolvo essa pesquisa no encontro entre fragmentos metodológicos e documentais das práticas profissionais analisadas — experiências ancoradas em atuações politicamente engajadas com os territórios negros, ou seja, em modos de afetar a estrutura social colonial e capitalista que sustenta desigualdades e injustiças. No acúmulo de saberes ativados pelos corpos-territórios negros que atuam e compõem essas práticas, reconheço, especialmente na prática formativa “Mostra Seu bairro: ciclo formativo em arte-educação com a juventude de Valéria”, a emergência de pedagogias territorializadas — encruzilhadas (Rufino, 2017) e engajadas (Hooks, 2017) — que evocam o pensamento crítico, as história e as artes, como ferramentas de disputa por autonomia, pertencimento e vida em Valéria. Além disso, o próprio texto-collage permite refletir sobre o mestrado enquanto prática profissional politicamente engajada e fonte para pensar a construção de ferramentas de disputa com e para os territórios negros desde a universidade e desde o território.

A dissertação analisa o racismo religioso e a intolerância religiosa no Brasil contemporâneo, com foco nas religiões de matriz africana, especialmente o Candomblé. A pesquisa parte da compreensão de que tais práticas religiosas enfrentam discriminação e marginalização sustentadas por estruturas históricas e epistemológicas de poder. Utilizando a cidade de Salvador como estudo de caso — por sua diversidade religiosa e histórica segregação racial —, o trabalho examina a trajetória de Mãe Gilda e o Terreiro Ylê Axé Abassá de Ogum como símbolos de resistência frente à agressão sofrida por mãe Gilda. O estudo investiga como os espaços urbanos e religiosos se tornam lugares de conflitos, especialmente entre o Candomblé e os cultos neopentecostais, revelando dinâmicas de violência, exclusão e estratégias de resistência do Povo de Santo. A dissertação busca compreender os processos de racialização do espaço urbano, as formas de violência simbólica e física, e os mecanismos de controle social presentes nessas disputas. Ao final, propõe reflexões e ações para a promoção da tolerância e do respeito às diversidades religiosas, como pilares fundamentais de uma sociedade democrática e inclusão.

Em um contexto mundial de produção de desigualdades, o Estado e questões de racialidade atuam conjuntamente na formação, perpetuação e fomento do sistema capitalista. Estando o Brasil inserido no contexto capitalista neoliberal global, as ações racistas do Estado acontecem quando diferentes tipos de racismos e operações de banimento racial podem ser identificados em políticas públicas, narrativas e concepções estatais em nosso país, essa dinâmica se manifesta por meio da "branquidade do Estado". Em Salvador, essa lógica se expressa em históricos processos de patologização e criminalização de espaços racializados como a Feira de São Joaquim. A Feira de São Joaquim, no entanto, constitui-se como território múltiplo de existência, resistência e produção de vida. Para além do comércio, a feira abriga relações sociais, religiosas, afetivas e de moradia, desafiando as narrativas hegemônicas impostas pelo Estado. A pesquisa toma como premissa que Salvador é uma cidade negra, embora a presença negra na conformação do espaço urbano tenha sido historicamente silenciada. Considera também a arquitetura como instrumento da branquidade do Estado na construção de discursos visuais e materiais sobre a feira. Como última premissa, a feira é reconhecida como espaço potente de existência, riqueza, vida e múltiplas possibilidades, especialmente através de registros fotográficos e históricos como os do fotógrafo Lázaro Roberto, fundador do Arquivo Afro-Fotográfico Zumvi. A pesquisa traça dois fios condutores: os projetos e planos de reforma promovidos pelo Estado e as noções de patrimônio. A partir das imagens de Lázaro, a luz negra – pautada por Denise Ferreira da Silva – aponta caminhos que vão além da branquidade do Estado. Emergindo outras perspectivas, investigam-se a centralidade negra da feira e sua produção de cultura e visualidades positivas. Assim, o estudo busca contribuir para a ampliação de narrativas sobre a Feira de São Joaquim como território de disputa, resistência e imaginação de outros futuros possíveis.

Esta dissertação investiga o papel do Estado brasileiro na (re)produção das desigualdades raciais nos processos contemporâneos de produção urbana em Salvador. A pesquisa tem como ponto de partida o Manifesto contra o PDDU Racista e Higienista, lido durante a 9ª audiência pública de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) de Salvador, em 2015. O manifesto denunciava o caráter racista do processo de formulação da política urbana em curso, sendo esse documento o catalisador para o aprofundamento da investigação aqui proposta. Considerado pelos movimentos sociais como uma renovação dos pactos político-institucionais que beneficiam os interesses da elite econômica, o PDDU de 2016 aprofundaria a segregação espacial racializada já existente na cidade. Com base no conceito de Racismo Institucional, esta dissertação busca compreender como tal lógica operou no processo de revisão do plano e de que forma foi contestada pelas mobilizações antirracistas analisadas. A pesquisa adota uma abordagem qualitativa, baseada na análise do discurso de atores sociais envolvidos no processo, articulando essas narrativas com registros oficiais (vídeos das audiências públicas da prefeitura, atas da Câmara de Vereadores), além de manifestos e propostas elaboradas pelas mobilizações. Elaborada inicialmente em 2017, quando o debate sobre raça e planejamento urbano ainda era incipiente no Brasil, a pesquisa foi interrompida em 2018 para o desenvolvimento de outro mestrado e retomada em 2021. Essa dilatação temporal, longe de reduzir a relevância da investigação, permitiu presenciar o amadurecimento das articulações entre planejamento urbano e enfrentamento antirracista no país, inclusive entre os próprios atores sociais envolvidos nas mobilizações contra o PDDU de Salvador — processo pioneiro no Brasil à época. Apesar dos limites impostos pelo caráter do instrumento de planejamento analisado, o estudo do processo de revisão do PDDU de Salvador e das reações antirracistas que o confrontaram revelou-se um campo frutífero para compreender a atuação do racismo institucional nas políticas urbanas. Assim, de forma inédita, a dissertação propõe a construção de indicadores de racismo institucional aplicáveis ao planejamento urbano e identifica repertórios de práticas de enfrentamento antirracista que reafirmam o direito à cidade e a luta pela efetivação da cidadania plena da população negra. 

Diante da crescente instrumentalização do medo enquanto mercadoria,  tecnologia de controle urbano e humano, e desencanto do mundo, essas palavras aqui arranjadas têm a intenção de jogar luz em gestos comunitários que insistentemente enfrentam a vulnerabilização de seus territórios para possibilitar existências. Combatendo a monocultura da insegurança que empobrece o enraizamento de futuros mais esperançosos, adota-se uma poética de feitura de uma agrofloresta urbana, ou ìlúfloresta - neologismo derivado da composição do termo iorubá ìlú (lugar de mistura/cidade) + floresta (sistema biodiverso, sustentável e equilibrado). Inspirada nas sementes de sabedoria de Joice Berth (2023), Luiz Rufino (2017), Luiz Simas (2020), Nego Bispo (2023), José Eduardo Ferreira (2003, 2021, 2023) e outras, a dissertação analisa duas experiências comunitárias de Salvador-Bahia: a Associação Pracatum Ação Social, no território do Candeal Pequeno, e o Acervo da Laje no território do Subúrbio Ferroviário. Por meio dacartografia histórica, análise documental, observação de campo, e escuta de narrativas locais são observados os ritos, encantos e belezas cultivados em histórias longevas de incidência territorial. É notável como espécies de territorialidades enraizadas em memória, estética e participação comunitária, associadas ao manejo de respostas rápidas e insistentes a episódios adversos e ao fortalecimento de vínculos, compõem um léxico de ações que desloca narrativas estigmatizantes e inaugura futuros.

O objetivo desta pesquisa é a proposição de um Metamodelo coparticipativo de barracas de venda de comida e bebida para as Festas de Largo de Salvador orientado pela Fabricação Digital (FD) e a Customização em Massa (CM) em coparticipação com os barraqueiros, com base em um conjunto de elementos estruturados característicos da sua comunidade. O trabalho doutoral compreende e experimenta a Fabricação Digital como um caminho democrático dentro de um contexto de desenvolvimento de tecnologia social com a inclusão da comunidade dos barraqueiros para a geração de um modelo alternativo para Barraca de Festa de Largo. Abordamos as discussões do campo da FD / CM sob a perspectiva da democratização do projeto como campo de pesquisa para atividades compartilhadas que encorajem a participação, a reflexão e a construção de significado nas propostas desenvolvidas. A pesquisa parte de uma abordagem qualitativa, com pressupostos filosóficos subjacentes interpretativistas, sendo a experimentação do modelo conduzida por meio da pesquisa-ação e o modo de análise hermenêutica. Reconhecer e identificar os atributos que dotaram as antigas barracas de Festa de Largo como elementos de significação cultural foi o propósito que constituiu a base de nossa reflexão para o enfrentamento do problema conceitual para a proposição de um modelo alternativo. Entendemos que os antigos modelos fazem parte de um período que não podem ser recuperados para a atualidade, porém possuem elementos simbólicos representativos dessa atividade. A proposição do Metamodelo reside no entendimento de que a barraca de Festa de Largo é um elemento cultural constituinte das Festas de Largo, tendo direito a participar de editais de cultura e inovação, sendo um produto dos barraqueiros, e que seja adaptável a diferentes espaços públicos da cidade, recebendo incentivos para sua elaboração, operação e manutenção. Compreender as Barracas de Festa de Largo como suporte utilitário funcional é um pressuposto a ser superado em abordagem e produção. A pesquisa desenvolve uma reflexão sobre a arte e a cultura de armar as barracas, sistematiza a memória destes elementos significantes e os reinterpreta, com vistas a valorizar a prática dos barraqueiros e ressignificá- las na cidade de Salvador, trazendo protagonismo aos barraqueiros no cenário das Festas. Como resultados, obtivemos a proposição em conjunto de um Metamodelo conceitual de barraca e as primeiras avaliações físicas dos sistemas estruturais do modelo, que responderam positivamente na fase preliminar, indicando viabilidade técnica inicial para a proposta, apesar de serem necessários mais investimentos em pesquisa e desenvolvimento.

Este trabalho trata da gestão de projetos aplicada ao patrimônio edificado e tem como objetivo principal propor um protocolo baseado na integração de tecnologias associadas ao Heritage Building Information Modeling - HBIM e orientado pelas diretrizes da série ISO 19650, metodologia ágil e nas boas práticas do PMBok®. A pesquisa utiliza o método Design Science Research (DSR), que combina investigação científica com aplicabilidade prática, estruturando o desenvolvimento do artefato central, resultando na elaboração do protocolo ProPatrimônio, como uma solução para os desafios específicos da conservação e restauro de edificações históricas. O estudo parte de uma análise teórica e prática que conecta o campo do projeto arquitetônico, a gestão de projetos e as inovações tecnológicas da Construção 4.0, integrando conceitos como requisitos de informação, gestão ágil e fluxos de processos específicos para o patrimônio. A validação do protocolo ocorreu por meio de uma sessão de grupo focal multidisciplinar, composta por especialistas atuantes em diversos segmentos e áreas do campo da preservação do patrimônio cultural. Os resultados foram analisados com ferramentas como a Análise PEST e a Matriz SWOT, permitindo ajustes e aprimoramentos no protocolo com base nas contribuições dos participantes. O ProPatrimônio é apresentado como um artefato estruturado em quatro pilares fundamentais: políticas, pessoas, processos e tecnologias, fornecendo uma abordagem sistematizada para a gestão de projetos no patrimônio edificado. Os apêndices complementam o estudo com materiais que detalham as etapas metodológicas, as dinâmicas realizadas e o documento final do protocolo, consolidando-o como uma ferramenta estratégica para intervenções no patrimônio.

Partindo da premissa de que crianças podem desafiar lógicas adultocêntricas
e oferecer novas formas de pensar e fazer cidades, o objetivo desta tese é
investigar como as crianças “sentipensam” a cidade, noção inspirada em Borda
(2009) e Escobar (2014) a partir da qual se leva em conta a integração de pensamento
e sentimento no processo de percepção e compreensão do mundo. Ao mesmo tempo,
a investigação, que deu origem ao trabalho, também buscou compreender como a
interação entre a pesquisadora e as crianças transforma a forma como a própria
pesquisadora percebe, pensa e atua na cidade. A pesquisa se estrutura através de um
percurso que incluiu a construção de tempos heterogêneos através da montagem
(Jacques, 2020), conectando a história da “pesquisadora criança” à da pesquisadora
atual, destacando a influência das experiências pessoais, acadêmicas e dos encontros
com as crianças na prática investigativa. A pesquisa adotou o método cartográfico,
que permite mapear as interações das crianças com a cidade para compreender
suas narrativas sobre o presente, além de imaginar futuros possíveis. As oficinas foram
realizadas nas cidades de João Pessoa (Brasil), Cidade do México e Cuernavaca
(México), sendo João Pessoa o principal campo de experimentação. Nessas oficinas,
as crianças de diferentes idades compartilharam suas percepções por meio de falas,
desenhos e movimentos corporais. O corpo surgiu como uma dimensão central desde
o início das oficinas, guiando as interações das crianças com o espaço e influenciando
suas percepções. Categorias analíticas como cidade, futuro e tecnologia foram
convocadas ao longo do processo, contribuindo para identificar pistas sobre como as
crianças constroem significados para os espaços que habitam e como os imaginam.
As falas, desenhos e movimentos corporais das crianças mostraram preocupações
com temas como poluição, trânsito e segurança, além de ideias especulativas, como
cidades flutuantes, máquinas que limpam o mundo e a coexistência entre natureza
e tecnologia. Os principais autores que fundamentaram os debates foram bell hooks
(2021), Haraway (2023) Hundertwasser, Kopenawa; Albert (2015), Passos; Kastrup; Da
Escóssia (2009).

O século XX foi um período muito importante para o desenvolvimento do edifício hospitalar no ocidente. O hospital passou por várias mudanças, principalmente em relação à sua forma física. Essas mudanças tiveram a influência do avanço das tecnologias e das diversas especialidades da saúde, bem como da institucionalização da assistência médica. No século XIX, as teorias higienistas contribuíram para a consolidação da tipologia pavilhonar no Brasil, se estendendo até o início do século XX. Durante o século XX, os hospitais passaram a se especializar, acompanhando o avanço tecnológico e o estilo moderno da época, transformando-se em verdadeiras “máquinas de curar”. Os tipos arquitetônicos acompanharam essa evolução e depois do pavilhonar, receberam a classificação de vertical monobloco e misto, pelos pesquisadores do tema, além do tipo sanatorial, para tratamento da tuberculose, que possuiu características específicas, agregando algumas características dos tipos anteriores.  Em Salvador, as políticas públicas foram muito importantes na construção da rede hospitalar. Entretanto, vale destacar o número reduzido de hospitais construídos e administrados com recursos públicos, principalmente na primeira metade do século. Nessa época, foi muito importante o papel da filantropia, que, com a ajuda dos médicos e da elite da sociedade, contribuiu para a construção de bens de saúde no município, preenchendo o vazio deixado pelo Estado. Por meio de pesquisa histórica, esse trabalho trata do tema da arquitetura hospitalar, evidenciando o contexto em que o hospital se adéqua aos avanços da medicina e da arquitetura e engenharia. Tem, como objeto de estudo, os hospitais públicos de Salvador construídos no século XX. O objetivo principal desta pesquisa é analisar a tipologia dos edifícios hospitalares públicos construídos na cidade de Salvador no século XX, destacando as influências internacionais que serviram de referência ao desenvolvimento dos projetos, em especial dos hospitais: Hospital Universitário Professor Edgard Santos (HUPES) e Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), que foram referência para os tipos “monobloco vertical’ e “misto”, respectivamente, na capital baiana. Para alcançar os resultados da pesquisa, foi feita uma revisão bibliográfica a partir de artigos, dissertações e teses, encontrados em bases de dados virtuais, além de levantamento dos hospitais construídos em Salvador no século XX, encontrados no Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES). Constatou-se que a arquitetura hospitalar soteropolitana acompanhou a tendência internacional, em relação à tipologia dos hospitais, e construiu exemplares de todos os tipos arquitetônicos pesquisados, entre o final do século XIX e final do século XX.

Esta pesquisa investiga as configurações da violência letal na Bahia, com ênfase na interiorização do crime e na emergência de cidades sub-regionais como novos epicentros da letalidade. A partir da constatação de que métricas convencionais — como número de homicídio — são insuficientes para explicar a complexidade territorial da criminalidade, propõe-se a construção de um Índice de Criminalidade Ponderada (ICP). Sua aplicação analítica resulta de um diálogo, que articula correntes teóricas das ciências sociais, da geografia crítica, da sociologia urbana, criminologia contemporânea e do urbanismo critico. Especialmente nos aportes de autores como Milton Santos, Henri Lefebvre, Loïc Wacquant, Teresa Caldeira, Alba Zaluar, Michel Misse, Marco Aurélio Saquet, Cristóvão Brito, Marcelo Lopes de Sousa e outros a tese transmite a preocupação com as formas de desigualdade territorializada, os mecanismos de estigmatização e a produção de centralidades informais. A geografia crítica contribui com a noção de território como campo de disputa e mediação de poder, enfatizando a materialidade do espaço como expressão e instrumento das lógicas sociais — elemento central para compreender a espacialização da violência e a seletividade da ação estatal. Da criminologia, sobretudo em suas vertentes crítica e ambiental, são incorporadas as discussões sobre governança criminal, presença faccional e clusterização espacial do crime. Já o campo do urbanismo crítico oferece instrumentos para pensar a relação entre morfologia urbana, infraestrutura e vulnerabilidade à violência, especialmente no que diz respeito à fragmentação das políticas públicas e à ausência de planejamento integrado. Ao articular essas correntes, a pesquisa constrói uma base teórica confiável e transversal, capaz de interpretar a violência letal como um fenômeno multidimensional — ao mesmo tempo territorial, político, institucional e urbano — e de propor caminhos analíticos e operacionais para sua leitura crítica e superação. A metodologia adotada combina análise estatística, modelagem espacial, entrevistas com especialistas e técnica Delphi para ponderação das variáveis. Os resultados revelam padrões espaciais estruturados de letalidade, associados à presença de facções, vulnerabilidades urbanas e redes logísticas de crime. A pesquisa contribui para o campo da segurança pública ao propor uma ferramenta analítica inovadora com potencial de aplicação em políticas públicas de prevenção, planejamento urbano e justiça territorial. Ao analisar o território como dimensão analítica central, este trabalho tensiona a lógica estatística tradicional e propõe uma leitura mais densa da criminalidade, contextualização geográfica, estruturas de poder e desigualdades históricas. O índice não apenas identifica áreas críticas de letalidade, mas revela como determinadas localidades são funcionalizadas por redes ilícitas e impactadas pela retirada estratégica do Estado.

Esta tese defende o álbum de família como um arquivo fundamental para o estudo das imagens do cotidiano, destacando o papel dos livros de artista na mobilização desse acervo para a complexificação das narrativas hegemônicas da historiografia urbana, frequentemente apaziguadas pelas lógicas do capitalismo e do Estado. Propõe-se o livro de artista como uma ferramenta crítica para a construção de contranarrativas que desafiam as representações oficiais, permitindo a emergência de vozes e histórias que tradicionalmente são marginalizadas ou estereotipadas. O objetivo da pesquisa é compreender como as cidades se manifestam em livros de artista produzidos a partir de imagens capturadas e preservadas por seus próprios habitantes em álbuns de família. Para tanto, levantamos aqui os conceitos elaborados no curso “Álbuns de Família: cidade, fotografia e memória”, dando foco na análise de três livros de artista que fazem parte do escopo do curso: travessia, Poço 115: Um álbum imaginário e Procurem Luísa no Mercado de Arte Popular. Esses trabalhos revelam modos de vida singulares, construídos ao longo do tempo e da ocupação de determinados espaços, que resistem às imposições da mercantilização urbana e evidenciam a autonomia dos sujeitos na construção de suas próprias imagens, contrapondo-se às representações oficiais que os reduzem a objetos estereotipados. A partir dessa análise, percebemos que os livros de artista não apenas documentam formas de resistência ao uso da cidade como mercadoria, mas também apontam para possibilidades futuras em que a cidade é valorizada como espaço de experiências, marcado por assimetrias, conflitos, mas também pela criação de laços afetivos e subjetividades plurais. 

Esta pesquisa parte da constatação de que vivemos bombardeados por imagens e submetidos a um superestímulo visual que teria afetado nossa capacidade individual de percepção contemplativa e gerado uma condição anestésica. A problemática ganha maiores contornos quando a predominância da experiência visual extrapola ao espaço urbano coletivo e estabelece outros modos de coexistir na cidade contemporânea. Nesse sentido, em um momento de um assombro tecnológico, em que se disputa produção de conhecimento com inteligência artificial, que se faz necessário checar a todo instante a veracidade dos fatos e das imagens partilhadas, a pesquisa se propõe a refletir sobre as reconfigurações da relação entre experiência, imagem e espaço urbano pautadas hoje. Para tal, se debruça sobre a história e a transformação urbana de um espaço construído para ser imagético e espetacularizado pela indústria do turismo, a Orla da Barra de Salvador, a partir de fotografias, cartões-postais, imagens publicitárias, filmes, memórias, histórias pessoais e relatos de campo nossos. Entre imagem, imaginário e imaginação, a pesquisa busca uma forma de fazer lampejante que volta ao passado para encontrar possíveis futuros ainda não dados. Utilizamos da imagem dialética benjaminiana para pensarmos um fazer pesquisa, um fazer história e um fazer cidade a partir de um movimento que é feito de saltos. É neste espaço intervalar aberto entre saltos anacrônicos que acreditamos ainda residir a possibilidade imaginativa da qual parece estarmos carentes. Nesta montagem de fragmentos da Orla, diante à primazia da experiência visual e à espetacularização dos espaços, perguntamos pelo que ainda é possível imaginar nas nossas cidades, quando a imaginação é, sobretudo, um ato político.

Esta tese investiga a atuação de coletivos formados por arquitetos na América do Sul, com foco na análise de seus métodos, ferramentas e impactos, tendo como estudos de caso os coletivos Escalar (em Salvador, Brasil) e Fundación Oasis Urbano (em Medellín, Colômbia), no período de 2010 a 2024. A tese parte do princípio de que os coletivos de arquitetos urbanistas contemporâneos articulam arquitetura e urbanismo em práticas, metodologias e ferramentas que rompem com os moldes tradicionais da prática profissional, sendo que, no Brasil, a assessoria técnica se destaca por articular de modo mais explícito suas práticas às disputas políticas e territoriais. A pesquisa analisa os contextos históricos, sociais e urbanos que influenciaram o surgimento dessas iniciativas no Brasil e na Colômbia, trazendo desde uma perspectiva histórica a uma consolidação do modelo neoliberal nas cidades latino-americanas. Os coletivos emergem como agentes críticos que atuam junto a territórios populares, propondo alternativas às práticas hegemônicas e colocando a participação como eixo central de transformação. A análise da trajetória e atuação dos dois coletivos, a partir de projetos desenvolvidos em Salvador e Medellín, revela metodologias pautadas pela escuta, mediação e construção coletiva. A pesquisa identifica aproximações e diferenças entre as experiências, apontando tanto o potencial transformador das práticas colaborativas quanto seus limites, como a incompatibilidade com os tempos institucionais, a apropriação neoliberal de iniciativas locais, a mercantilização do conhecimento e a fragilidade da representação comunitária. Ainda que essas ações estejam mais próximas das dinâmicas e necessidades locais, nem sempre produzem mudanças estruturais ou duradouras, especialmente quando absorvidas por lógicas mercadológicas. Assim, a tese propõe uma reflexão crítica sobre os caminhos e desafios da atuação coletiva na construção de uma cidade mais democrática e situada na realidade latino-americana.

Partindo dos pressupostos teóricos de correlação entre condições de mobilidade e segregação socioespacial e da participação do desenho modernista das vias de Salvador em processos urbanos excludentes, essa pesquisa tem como foco a investigação do impacto do desenho das avenidas de vale, construídas a partir da década de 1940, sobre a conexão entre vizinhanças, e o seu possível agravamento com o processo em curso de sua sobreposição pela estrutura do sistema BRT. Focando na mobilidade do pedestre e na integração entre bairros, essa investigação elenca como recorte o entorno da avenida Juracy Magalhães Júnior, caracterizada por fortes disparidades socioeconômicas, e onde, atualmente estão em curso obras de implantação do BRT. Como metodologia, por permitir uma análise da ocupação futura partir de plantas e material cartográfico bidimensional, foi utilizado o modelo da sintaxe espacial como forma de se compreender a ocupação do espaço pelo pedestre a partir da configuração da malha urbana e das relações topológicas entre espaços fechados e abertos. Em paralelo, foi investigada a relação entre a tipologia de espaços abertos na região e a sua caminhabilidade. Ambas as análises foram realizadas considerando a situação da avenida antes do início das obras do BRT e após a sua conclusão a partir das plantas apresentadas para o projeto. Os resultados revelam a avenida como uma barreira entre os bairros, com baixa integração, infraestrutura limitada para pedestres, e uma priorização desproporcional de espaços abertos dedicados ao tráfego de automóveis. Essa situação tende a ser exacerbada após o término da implementação do BRT.

A pesquisa aborda a integração entre tecnologias de Modelagem da Informação da Construção (Building Information Modeling – BIM) e Gerenciamento de Instalações (Facilities Management – FM), como suporte a atividades de manutenção em edificações históricas. Busca identificar pontos passíveis de melhorias no processo de gerenciamento de manutenção com o uso de softwares BIM-FM dentro de um workflow proposto e diretrizes para elaboração de requisitos de informação e os modelos entregáveis correspondentes. A metodologia apoia-se em pesquisa bibliográfica, estudo de caso e experimentação prática, envolvendo pesquisa documental, captura de dados geométricos e integração BIM-FM como suporte para serviços de manutenção e uma investigação sobre as boas práticas para o Heritage Building Information Modeling – HBIM. Estuda-se ainda, tecnologias para integração e ferramentas de apoio, com a discussão de formatos e arquivos para interoperabilidade de informações entre diferentes aplicações e formatos de padrão aberto como IFC e COBie. Tratam-se ainda de aspectos da organização da informação da construção para modelagem BIM como sistemas de classificação e o estudo de técnicas de apoio, como taxonomia e ontologia. Especificações HBIM, como o Protocolo LODIA (relacionado aos níveis de detalhe, informação e acurácia de um modelo BIM) são analisadas, junto com práticas e métodos para captura de dados geométricos. Ademais, exemplos de aplicação, como os projetos Inception, BIMLegacy e HeritageCare, são explorados para ilustrar a implementação de BIM-FM em contextos históricos. Por fim, apresentam-se o estudo de caso e a experimentação desenvolvidos, os quais abordam o processo de integração do modelo BIM para o gerenciamento de manutenção de edificações históricas. Utiliza-se o software Dalux FM visando estudar processos de integração de dados geométricos e semânticos do modelo BIM desenvolvido no Revit. A parte prática da pesquisa envolveu a realização de várias etapas, como levantamento de dados semânticos, captura da geometria da edificação, modelagem BIM, enriquecimento semântico e testes de interoperabilidade para a definição de um workflow com diretrizes para requisitos de informação. Comparam-se o sistema de gerenciamento de manutenção em uso na UFBA (Sistema Integrado de Patrimônio, Administração e Contratos – SIPAC) e o Dalux FM. Ao final do trabalho, conclui-se que a utilização das tecnologias BIM-FM integradas desponta como uma técnica importante para o gerenciamento de serviços de manutenção do patrimônio histórico. Contudo, alguns desafios são identificados, desde aspectos específicos como a falta de texturas no ambiente FM e a interface pouco intuitiva, até pontos mais abrangentes, como a necessidade de alimentação contínua de informações no sistema e investimento considerável em capacitação de pessoal.

A presente dissertação discorre sobre o bairro negro de Nova Ferradas na região cacaueira do sul da Bahia, e como o racismo antinegro afeta e contribui com a segregação territorial do bairro. É resultado do trabalho de pesquisa deste mestrado, realizado através do PPGAU-UFBA, no qual foram feitas revisões bibliográficas sobre a temática dos bairros negros, visitas ao bairro Nova Ferradas, e entrevistas com moradores do bairro e demais bairros da cidade de Itabuna. Nova Ferradas se diferencia dos bairros negros anteriormente estudados, e, portanto, contribui para o debate sobre a caracterização dos bairros negros. O trabalho inicia tratando da terminologia e definições sobre o bairro negro, tendo como principais referências os trabalhos de Henrique Cunha Junior e Maria Estela Ramos; ainda, conversa sobre o processo de segregação territorial no espaço urbano brasileiro. Em seguida, apresenta-se o bairro Nova Ferradas e o histórico da região em que está inserido, e a como a religiosidade se apresenta no bairro. É finalizado com observações sobre o olhar externo ao bairro – nova categoria de análise proposta para estudo dos bairros negros –, e as considerações finais sobre as temáticas e bairro estudado.

Esta dissertação busca explorar a relação entre sujeito, cidade e canção através de uma análise detalhada e multifacetada da obra de Tom Zé, no recorte temporal de 1968 a 1978. A pesquisa parte da compreensão de que a cidade, não se limita ao seu caráter técnico, de planejamento e disciplinar mas, à contrapelo do urbanismo moderno, se dá de forma singular-plural, uma vez que é atravessada por subjetividades e práticas que a modificam e provocam assim outras formas de experienciá-la, então, em constante movimento. Compreende, ainda, que a música, especialmente em sua forma canção, é expressão estética, poética e de forte inserção popular, a constituir imaginários urbanos. Por fim, o que tece e dá sentido a tais relações é o sujeito: aquele que é um devir, aberto às interferências e que se constitui nesse eterno devir-outros, portanto, também em constante movimento. Assim, acredita-se que a música-canção está presente no movimento de se entender em um lugar como marca constituinte do sujeito em um território, em uma morada. Ao dividir a pesquisa em Lado A e Lado B, foi possível abordar tanto os aspectos mais formais e acadêmicos quanto aqueles experimentais e subjetivos, refletindo a dualidade presente nas antigas mídias musicais como vinis e fitas cassetes. O Lado A apresenta os conceitos e contextos históricos fundamentais da pesquisa, o que dá base para o que será apresentado no lado B. Este, por sua vez, explora de forma inovadora e interativa as interseções entre sujeito-cidade-canção, sempre permeadas pelos aspectos: sotaque-corpo-repetição. Através de tópicos diversos que vão desde a experiência urbana até a des-canção e a construção de uma Irará fabulada, o trabalho mostra como Tom Zé se utiliza das questões e tensões urbanas e do cotidiano para compor suas canções e, com isso, ressignifica espaços e tempos, além de oferecer perspectivas outras para pensar cotidiano urbano de maneira mais instigante e poética.

Este trabalho tem como objetivo compreender de que formas os sistemas de opressão e exploração patriarcal e racista, através do dispositivo de racialidade, se materializam na produção do espaço urbano, e como o agenciamento das mulheres, sujeitas políticas ativas na construção e defesa de suas comunidades, têm interrogado esses processos e articulado redes de ação cotidiana, tecnologias sociais, o cuidado coletivo, e a luta por infraestruturas urbanas, como formas de fazer política que confrontam a lógica hegemônica da produção do espaço, e constroem outras relações de vida nas cidades. A pesquisa tem como caso situado o Centro Antigo de Salvador, território historicamente construído pela população negra, conectado por suas raízes ancestrais, e marcado por práticas coletivas e ações comunitárias, protagonizadas por mulheres negras, na linha de frente da reprodução da vida e do enfrentamento de processos de despossessão, em decorrência de políticas e projetos de intervenção urbana marcadamente excludentes e racistas que têm sido desenvolvidos pelo Estado e pela iniciativa privada nas últimas décadas. As histórias, memórias e vivências das mulheres que protagonizam esses movimentos, são referências para o desenvolvimento deste trabalho, com um sentido político e epistemológico fundamental, entendendo que as narrativas e atuações das principais agentes do fazer-cidade cotidiano, são centrais para o fortalecimento das potências transformadoras em curso nos territórios. Os saberes, fazeres e atuações protagonizados por essa rede de mulheres e suas ancestrais, exercem um papel fundamental em suas comunidades e nas disputas urbanas na cidade, e evidenciam como a luta pela defesa do território é inseparável da luta pela defesa dos corpos das mulheres, uma vez que suas vidas e corpos são intimamente conectados aos lugares onde vivem. O direito ao território, e o direito à cidade, representam a defesa de suas próprias vidas e existências.

Compreendendo a evolução do projeto urbano como uma ‘construção contextual’, percebese, ao longo da história, a busca por modelos ideais de cidade, que no começo do século 20, em virtude das transformações na Europa após as guerras mundiais, resultou na reconstrução de várias regiões urbanas, utilizando as premissas do Movimento Moderno. A partir das experiências com os planos urbanos propostos pelas premissas dos CIAM, por volta dos anos 1960, surgiu a demanda de se rever a ideia de forma urbana que se estava realizando, em
virtude dos resultados da experiência humana nas cidades afetadas pelo urbanismo modernista. A partir deste contexto, algumas teorias propostas trouxeram a necessidade de se pensar em uma ‘cidade compacta’ e sustentável, observando a eficiência da experiência urbana. Aliado a estas circunstâncias, a evolução das técnicas de simulação computacional dos ambientes urbanos construídos trouxe novas metodologias de abordagem para a morfologia urbana. Diante disso, os objetivos deste trabalho se basearam em relacionar
indicadores morfológicos de densidade construída, diversidade de usos e proximidade física com a qualidade da forma urbana, utilizando modelagem numérica amparada na lógica algoritmico-paramétrica, explorando as potencialidades da simulação e análise desses indicadores como suporte ao Projeto Urbano. Para isto, foi aplicada uma metodologia de simulação a partir de dados numéricos e vetoriais da forma edificada de dois trechos urbanos, utilizando uma ferramenta CAD, associada a uma interface visual de programação, identifcando indicadores que pudessem caracterizar essas áreas urbanas. Isto possibilitou propor cenários que trouxessem esses índices para faixas de valores aceitáveis pela literatura, de modo a promover bairros com maior vitalidade e autonomia. Com isso, foi demonstrada a aptidão do método, não só em caracterizar áreas urbanas, mas também atuar como instrumento efetivo de suporte à tomada de decisões, para projetos urbanos de bairros
mais eficientes e sustentáveis, alinhando resultados de densidade construtiva e proximidade física a serviços, ampliando, também, os níveis de uso misto. A metodologia resultante ampliou o potencial de intervenções em ambientes urbanos existentes, bem como atuar como ferramenta de suporte para a construção de um planejamento e uma legislação urbana com foco no crescimento sustentável das cidades, manipulando a forma física da cidade para alcançar esses objetivos.

Esta dissertação investiga a apropriação do patrimônio nacional pelo regime em Belarus, com ênfase na exploração do patrimônio que simboliza os períodos pré e pós-colonial. A pesquisa se baseia em um referencial teórico que inclui as obras de autores como Benedict Anderson, Anthony Smith, Laurajane Smith e José Gonçalves, além de intelectuais belarussos como Volha Davydzik, Tatsiana Vadalajskaya, Uladzimir Matskévitch e Stsiapan Stureika. O estudo analisa como o regime utiliza o patrimônio nacional, em especial os Castelos de Mir e Niasvij, para se legitimar no poder, apropriando-se de elementos do discurso nacionalista, apesar de seu alinhamento com a narrativa soviética e russificante. A dissertação também trata das três fases de edição da moeda nacional belarussa, analisando como as imagens e símbolos nela utilizados se vinculam à construção de uma ideia de identidade nacional e patrimonial do país, refletindo uma aproximação tímida com o Ocidente e um receio de anexação pela Rússia. Além disso, o trabalho inclui a análise da representação do patrimônio em produções audiovisuais realizadas pelo regime entre 2012 e 2019, com o objetivo de promover Belarus no mercado internacional. A pesquisa conclui que a apropriação do discurso nacionalista é uma parte essencial da estratégia do regime para se manter no poder, destacando a importância do patrimônio cultural e dos movimentos civis na preservação da identidade belarussa, especialmente em um cenário de possível mudança política.

Durante esta pesquisa pretendo apresentar um mergulho na rica e complexa história da
cidade de Santo Amaro, localizada no Recôncavo Baiano. Reconhecida por sua importância
histórica e cultural para o Brasil, Santo Amaro é um ponto de estudo com um vasto potencial
inesgotável. A cidade tem sido destaque em várias dissertações nacionais e internacionais, não
só por sua relevância histórica, mas também por eventos como desastres naturais, contaminação
por chumbo, incêndios e seus cidadãos ilustres. Santo Amaro tem sido inspiração para livros,
poemas e músicas.

Santo Amaro da Purificação, conforme documentado pelo IPHAN (2023), começou a
ganhar destaque no século XVII, quando foi fundada às margens do rio Subaé, tornando-se um
porto crucial para o escoamento dos produtos dos engenhos circundantes, conhecido como
Porto do Trapiche. A importância estratégica deste porto para o abastecimento de Salvador foi
destacada pelo vigário da Freguesia de Nossa Senhora da Purificação em 1726.

A pesquisa revela como os rios desempenharam um papel vital no desenvolvimento das
antigas civilizações, sustentando suas sociedades. No caso de Santo Amaro, a influência do rio
Subaé foi fundamental para o crescimento urbano e econômico da cidade, impulsionando uma
economia dinâmica através do comércio de mercadorias e transporte de produtos, incluindo
mão de obra escravizada. Instituições como o Ginásio Santamarense, estabelecido durante a
Primeira República, refletem essa dinâmica socioeconômica.

A região inicialmente habitada pelos povos tupinambá foi palco de conflitos com os
colonizadores portugueses, e a presença dos jesuítas resultou na construção de uma capela
dedicada a Nossa Senhora do Rosário como parte dos esforços de colonização e catequização.
O povoado que se desenvolveu na cidade de Santo Amaro entre 1557 e 1700 testemunhou a
construção de marcos como a Capela de Santo Amaro e o Solar Paraíso.

A cidade enfrentou diversos desafios ao longo de sua história, incluindo invasões
holandesas no século XVII e um declínio econômico após a abolição da escravatura e o fim do
apogeu da indústria açucareira. O Porto do Trapiche, principal ponto de ancoragem no século
XIX, desempenhou um papel crucial no transporte de mercadorias e pessoas.

Além de sua importância econômica, Santo Amaro é distinguida pela riqueza de sua
cultura, evidenciada por museus, teatros e eventos tradicionais como o Terno de Reis e a famosa
lavagem de Santo Amaro. A cidade abriga duas comunidades quilombolas ativas, São Braz e
Cambuta, que lutam pela preservação de suas culturas e territórios.

O estudo concentra-se especialmente no bairro negro do Trapiche, cuja história está
intimamente ligada ao antigo Porto do Trapiche. O bairro enfrentou desafios como inundações
periódicas, mas mantém infraestrutura pública essencial como escolas e postos de saúde,
mesmo não sendo o ideal, além de abrigar a comunidade quilombola do Cambuta. O Trapiche
é notável por sua arquitetura neoclássica, refletindo a influência europeia nas construções dos
engenhos do século XIX.

Atualmente, o antigo porto do Trapiche é marcado por um memorial de ferro,
simbolizando o ponto de partida do desenvolvimento da cidade e a ausência de memória da
população negra. A poluição do rio Subaé, causada pela atividade industrial, é uma questão
ambiental significativa na região.

A pesquisa no bairro do Trapiche envolveu a coleta de histórias e memórias de seus
moradores, destacando um forte senso comunitário e resiliência. Festividades como o São João
fortalecem os laços sociais e econômicos do bairro, evidenciando figuras locais que
desempenham papéis fundamentais na organização desses eventos. A análise das atividades
comerciais no bairro sublinha a predominância da venda de bebidas alcoólicas, refletindo a
economia local e os padrões de consumo.

As ruas do bairro, frequentemente animadas por crianças e caracterizadas pela
autoconstrução, refletem a apropriação do espaço urbano pela comunidade negra. As memórias
compartilhadas pelos moradores ilustram as transformações do bairro ao longo das décadas e a
luta contínua por melhorias na qualidade de vida.

Este estudo também aborda a formação dos bairros negros durante o período pós-
escravidão, que se tornaram centros de identidade cultural e coesão comunitária, promovendo

a preservação da identidade cultural afro-brasileira e enfrentando desafios como o racismo
estrutural e a segregação urbana.

Em resumo, a pesquisa evidência a importância histórica e cultural do bairro negro do
Trapiche, analisando as complexas dinâmicas de racismo e resistência que moldam a vida
cotidiana de seus residentes.

A presente dissertação propõe uma investigação abrangente sobre o rebatimento do Revivalismo Gótico em Salvador, concentrando-se na análise histórica e arquitetônica das principais obras religiosas que incorporam elementos característicos dessa linguagem. Para cumprir tal objetivo, temas e conceitos sobre o Gótico, o Ecletismo e Revivalismo são abordados para auxiliar no exame específico das obras neogóticas religiosas de Salvador, colaborando para identificar e analisar os elementos arquitetônicos que refletem a influência revivalista. Além disso, o trabalho explora o significado simbólico desses elementos dentro do contexto religioso e cultural da cidade e demonstra como as congregações religiosas europeias localizadas em Salvador exerceram grande influência na escolha do estilo para novas capelas e igrejas que refletia os anseios desses grupos não apenas de colaborar com as reformas urbanas, mas também de transmitir sua fé através da arquitetura.

O BIM, amplamente utilizado em edificações contemporâneas, também pode ser aplicado ao patrimônio arquitetônico. Essa aplicação é conhecida como Heritage Building Information Modeling (HBIM), que ainda enfrenta desafios relacionados ao processo de enriquecimento semântico e ao estabelecimento de diretrizes e métricas para o desenvolvimento do modelo adequado às suas finalidades. Nesse contexto, essa pesquisa teve como objetivo, o estudo, a experimentação e a sistematização de um método para modelagem geométrica e semântica voltada ao HBIM, baseando-se no conceito de Nível de Informação Necessária (Level of Information Need – LOIN) apresentado pelas normas NBR ISO 19650 e BS EN 17412. O trabalho foi desenvolvido a partir da fundamentação teórica sobre HBIM, formas de aquisição de dados, métodos para enriquecimento semântico, normas para gestão de informação e diferentes níveis de desenvolvimento em BIM e HBIM. Na parte experimental da pesquisa foram realizados os seguintes procedimentos, usando com objeto de estudo a Igreja da Ordem Primeira de Nossa Senhora do Carmo, em Cachoeira – BA: levantamento fotogramétrico aéreo, geração de nuvens de pontos e modelagem HBIM da fachada principal da igreja. Para subsidiar a modelagem geométrica e semântica da fachada da igreja foram estabelecidos dois marcos de criação da informação: (1) registro de informação e patologia, e (2) visualização. Os Níveis de Informação Necessária propostos (LOIN) apresentaram parâmetros similares relacionados à informação alfanumérica e de documentação, mas com um aumento do detalhamento geométrico para o marco visualização. A investigação abrangeu duas estratégias de modelagem geométrica e semântica: a abordagem chamada tradicional, que utiliza objetos paramétricos BIM, e a detalhada, baseada na importação de malhas triangulares texturizadas geradas por fotogrametria. No entanto, em ambas as situações foram usadas ferramentas para extração, alimentação e atualização bidirecional de informações semânticas das famílias paramétricas. Dessa forma, a pesquisa conclui que a escolha dos métodos de modelagem deve ser orientada pelos objetivos e marcos específicos do modelo, considerando um equilíbrio entre precisão geométrica, funcionalidade paramétrica e informações semânticas associadas, e que sejam adequados para a situação. Os métodos desenvolvidos contribuem para a sistematização de processos no HBIM, destacando a importância do LOIN para atender às demandas específicas de documentação e preservação do patrimônio arquitetônico.

No final da década de 80, a Companhia Vale do Rio Doce construiu o Núcleo Habitacional CVRD na cidade de Teofilândia/BA, visando abrigar seus trabalhadores no local. Apesar deste núcleo se configurar enquanto um importante estudo de caso de núcleos fabris construídos por empresas, não foram encontrados estudos mais aprofundados sobre sua história. Além disso, a busca por arquivos e documentos que trouxessem informações sobre sua conformação revelou a existência de uma significativa narrativa de progresso e desenvolvimento socioeconômico. Nesse contexto, a presente pesquisa visou investigar a história do núcleo fabril teofilandense, buscando, concomitantemente, fragilizar a narrativa de progresso existente utilizando as perspectivas dos trabalhadores que o habitaram. Para isso, empregou-se como base a tríade do espaço concebido, vivido e percebido de Henri Lefebvre, de forma a abarcar as complexidades e contradições da história deste núcleo fabril. O percurso metodológico envolveu a pesquisa documental e de campo, bem como a realização de entrevistas com importantes figuras que participaram do processo de formação e construção do núcleo fabril, e com 15 antigos moradores do núcleo fabril teofilandense. Após a categorização e análise dos dados, os resultados da pesquisa mostraram que o núcleo fabril da CVRD foi palco de um tensionamento entre alienação e apropriação e que, por isso, sua história não pode ser resumida apenas a uma narrativa de progresso e desenvolvimento. Como contribuição, este estudo traz a perspectiva de que os núcleos fabris foram espaços de constantes transformações e que estas se originaram, especialmente, no cotidiano e nas pequenas ações de seus moradores. 

Esta tese investiga a natureza do trabalho de rua, buscando explorar de que maneira ele pode ser compreendido e interpretado para contribuir com a concepção dos comuns urbanos. A pesquisa examina a atividade do(a) trabalhador(a) de rua como uma expressão permanente de uma sociedade desigual, focando em três instâncias: a visibilidade de pobres e negros, a incompatibilidade entre espaço público e trabalho, e as perspectivas relacionadas à constituição de comuns urbanos. A discussão é iniciada tratando sobre as raízes coloniais do trabalho de rua para avançar sobre sua concepção enquanto trabalho informal. Aqui, a teoria dos circuitos da economia proposta por Milton Santos compõe um importante lastro teórico que permite compreender a atividade estudada com maior complexidade, inclusive por facilitar seu entendimento enquanto um segmento da economia dos setores populares. Esses aportes teóricos são fundamentais para nos direcionarmos em uma nova perspectiva que considera a importância das táticas de vida criadas pelas classes populares, permitindo-nos afastar de uma concepção que as trata apenas como vítimas. No percurso desenvolvido, a discussão encaminha-se assim para a formação da esfera pública burguesa e suas derivações para concepção do espaço público, local onde a atividade se apresenta. As ruas que estudamos aqui, especificamente, guardam a singularidade de estarem inseridas na região central da cidade, onde se manifestam conflitos e ações políticas do estado. Deste modo, consideramos importante analisá-las sob a ótica da teoria dos espaços luminosos e homens lentos, a fim de conduzir criticamente a compreensão dessa atividade numa sociedade estruturalmente racista e segregadora. Como então podemos compreender o que a atividade do(a) trabalhador(a) de rua produz para além da ocupação das ruas, como frequentemente se trata? Buscamos então investigar uma abordagem do trabalho de rua em sua interface com a produção do comum, tendo a pragmática vitalista proposta por Verônica Gago como um importante suporte. A metodologia empregada inclui uma abordagem feminista do “pensar situado”, que reconhece a importância dos “saberes localizados” onde se integram as experiências de sujeitos marginalizados na produção de conhecimento. A pesquisa organiza e reúne duas etapas distintas: a primeira desenvolvida durante o mestrado da autora, que analisou a apropriação do espaço público pelos(as) trabalhadores(as) de rua em Salvador, e a segunda que se dá no desenvolvimento da presente tese, em seu processo de adaptação ao contexto pandêmico. Assim constroem-se narrativas sobre o trabalho de rua, fundamentais para dar relevo à compreensão da dinâmica estudada.

Os Sistemas de Informações Geográficas (SIG) são sistemas utilizados para monitoramento, operação, análise e planejamento. Recentemente estão ganhando destaque as aplicações que envolvem dados tridimensionais como por exemplo: cadastro 3D; planejamento urbano; resposta de emergência; prevenção de danos sísmicos; inundações, entre outros. Muitas pesquisas têm sido desenvolvidas com esta temática com o intuito de discutir os elementos relacionados à modelagem geométrica e semântica de acordo com o padrão CityGML. Neste padrão é necessário definir o Nível de Detalhe (Level of Detail - LOD), que indica os elementos e as classes a serem representados. Assim, esta pesquisa propõe uma aplicação SIG 3D a partir da modelagem geométrica e semântica do campus universitário Federação/Ondina da UFBA, baseada no padrão CityGML, para a otimização dos usos dos espaços visando auxiliar a gestão do campus. Para isso, foi utilizado o método Design Science Research (DSR) que busca construir e avaliar artefatos a partir de um problema, buscando soluções para o mesmo. A metodologia utilizada envolve: a aquisição de dados geométricos provenientes do último levantamento aerofotogramétrico oficial do município de Salvador, de 2017, para compor a base de dados geométricos da área de estudo; a modelagem geométrica e semântica, no padrão CityGML, das categorias terreno, sistema viário e edificações do campus universitário utilizando o software SketchUp e seu plugin CityEditor; o armazenamento do modelo geométrico resultante no banco de dados  bem como a inserção de novos dados e criação de novas tabelas conforme a modelagem conceitual da aplicação (utilizando os softwares PostgreSQL/PostGIS, PgAdmim  e 3DCityDB); por fim é demonstrada a viabilidade da proposta de aplicação SIG 3D a partir das consultas aos usos e funções dos espaços bem como análises espaciais que contemplam a identificação de possíveis rotas (dos percursos realizados pelos alunos no campus) e rotas de evacuação, criadas para simular áreas suscetíveis ao risco de incêndio de alguns laboratórios da Escola Politécnica.

Escrever uma tese sobre as cidades contemporâneas e suas relações com transformações tecnológicas, é como tentar fotografar uma paisagem estando dentro de um automóvel em movimento. Em razão das aceleradas mudanças que atravessam as sociedades, muitas delas associadas a tecnologias da informação e comunicação (TIC) e ao neoliberalismo como fenômeno socioeconômico e cognitivo, as miradas para a atualidade tornam-se obsoletas muito rapidamente. Neste contexto, a presente pesquisa explora as relações tecnopolíticas entre alguns aspectos das cidades brasileiras – como a desigualdade socioespacial, a privatização da gestão e de espaços públicos, assim como a diminuição do direito à cidade –, e a disseminação de tecnologias, sobretudo as baseadas em dados, algoritmos e inteligências artificiais (IA). O trabalho se afasta, tanto de posturas nostálgicas de um mundo sem TIC, quanto de posições eufóricas em relação às mesmas, apoiando-se em referências acadêmicas e ficcionais para construir um conjunto de textos que aborda temas atuais, filosóficos, sociológicos, arquitetônicos, urbanísticos e urbanos. Experiências práticas, como visitas técnicas, entrevistas, palestras, oficinas e outras atividades que envolveram variados agentes sociais, também compõem as reflexões do trabalho. Por fim, a pesquisa reflete sobre uma noção ampliada de urbanidade, que compreende a ideia de espaço para além de suas proporções físicas-materiais,e contempla a dimensão digital da cidade como um dos princípios estruturantes da vida urbana contemporânea. O trabalho, por miradas distintas, discute as tecnopolíticas, problematizando implicações éticas, morfológicas e socioespaciais das novas tecnologias.

O tema desta pesquisa versa sobre a arquitetura para emergências de saúde, com a análise das tipologias utilizadas nas situações de desastres, essencialmente de natureza biológica, causadas pelo coronavírus SARS-CoV 2, denominado de COVID-19. Em março de 2020, fase de grande criticidade da doença, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretou o estado de pandemia, provocado por este vírus. Esse fenômeno atingiu todos os continentes do planeta, causando inúmeras vítimas. Os efeitos deste problema sanitário afetaram os sistemas de saúde globais, bem como, os aspectos socioeconômicos das populações dos seus respectivos países. O objetivo principal desta investigação é avaliar o planejamento da rede de equipamentos assistenciais, representadas pelas arquiteturas para emergências de saúde, sobretudo, o dimensionamento das unidades que compõem a Rede de Urgência e Emergência (RUE), utilizadas no enfrentamento da fase inicial de contágio da COVID-19, no primeiro semestre de 2020, em Salvador, Bahia. A metodologia adotada é de caráter exploratório, com o levantamento de informações. Entre os procedimentos técnicos utilizados adotou-se as pesquisas bibliográfica, documental e experimental, por meio do estudo de casos das unidades de saúde da Rede de Urgência e Emergência de Salvador, que contribuíram para o enfrentamento da pandemia. Nesta forma de sistematização do conhecimento, houve uma estreita relação entre a Arquitetura, o Urbanismo e os Sistemas de Saúde, interligando os campos das ciências sociais aplicadas e da saúde ou ciências médicas. O método comparativo foi aplicado para a obtenção dos resultados, essencialmente, no sentido da conferência dos dados sobre os indicadores levantados, como o Socioeconômico, o Índice de Desenvolvimento Humano e Moradia (IDHM), a Infraestrutura de Saúde e a Assistência à COVID-19. Os resultados apontam que Salvador concentra, no recorte temporal da pesquisa, a maior parte dos equipamentos de saúde da Bahia e conseguiu adequar a sua rede de EAS, das gestões Municipal e Estadual, para o enfrentamento da pandemia, com a destinação de 64 exemplares no total. Além disso, esta cidade teve o melhor desempenho no enfrentamento da pandemia da COVID-19 entre as capitais do Nordeste, na comparação de diversos parâmetros. A pesquisa foi realizada entre as demais amostras análogas da região, como Recife e Fortaleza, em 2020. Salvador, ocupou a segunda posição do Nordeste sob o aspecto da oferta de leitos de UTI, com 795 unidades (Costa; Lago, 2020, p. 7), e em relação aos equipamentos biomédicos, teve 1.954 unidades aplicadas (Brasil, 2024). Como conclusão, atribui-se que os Governos da Bahia e de Salvador tiveram uma atuação em conjunto que, por sua vez, beneficiaram a população desta capital, mesmo em contradição com o movimento “negacionista” do Governo Federal. As ações de enfrentamento da pandemia neste território ocorreram de forma célere, no recorte temporal analisado, primeiro semestre de 2020, contribuindo para a minimização dos problemas de saúde, por meio das iniciativas consideradas adequadas. Entre elas, pode ser mencionada a implantação das soluções das arquiteturas para emergências de saúde.

À medida que as economias capitalistas continuam a concentrar recursos e poder de

decisão em um grupo cada vez menor de pessoas, suas consequências em forma

de múltiplas crises de saúde, segurança e meio ambiente afetam

desproporcionalmente os habitantes das crescentes favelas e assentamentos

informais de muitas cidades do mundo. Enfrentando várias privações, grandes

segmentos da população urbana se veem cada vez mais impedidos de escapar da

morbidade evitável, de viver em comunidades livres de crimes e de realizar todo

seus potenciais humanos. Para garantir um desenvolvimento urbano sustentável que

não deixa ninguém para trás, precisam-se intervenções que abordem efetivamente

os desafios socioambientais para alcançar equidade na promoção do bem-estar

humano. No entanto, estratégias e conceitos existentes para a promoção de cidades

justas não tem se mostrado eficaz em equilibrar as relações de poder existentes e

tem levantado dúvidas sobre a capacidade de profissionais e políticos de fazer

escolhas éticas para uma distribuição justa de bens em correspondência com as

demandas priorizadas de diferentes pessoas.

A autora desta tese argumenta que há necessidade para processos democráticos

que aumentem a autonomia de pessoas tradicionalmente marginalizadas, para que

elas possam autodeterminar suas demandas prioritárias, criar estratégias que

desafiem as relações de poder locais e a escassez de recursos criada pela injustiça

sistêmica, e implementar soluções que superam obstáculos para o bem-estar de

diferentes pessoas. A tese sugere que os planejadores podem apoiar esses

processos e fortalecer seu caráter democrático se se orientarem pela ideia de

capacitações, definida por Amartya Sen como as oportunidades de uma pessoa

realizar atividades ou estados de ser valorizados. Isso se baseia na percepção de

que a abordagem das capacidades, com sua sensibilidade as circunstâncias

especificas da pessoa e seu foco no avanço da justiça por meio de melhorias

incrementais em situações injustas, e uma orientação teórica pragmática para

orientar processos de planejamento que desafiam as injustiças sistêmicas e

implementam estratégias para remover sucessivamente os obstáculos as

oportunidades valorizadas para, apesar das condições de escassez, satisfazer

demandas plurais.

Para operacionalizar a abordagem de capacitações para o planejamento urbano, a

autora desta tese dialoga com Sen e outros autores e autoras para desenvolver um

quadro conceitual aberto de “fatores de conversão” ou determinantes que limitam ou

possibilitam o acesso das pessoas as oportunidades. Para garantir a relevância local

e a aplicabilidade pratica do quadro conceitual, a tese especifica e adapta as

categorias teoricamente desenvolvidas as variações culturais particulares de um

local específico. Para isso, analisa dados empíricos de uma prática de planejamento

participativo, realizada em 2018-2019 no âmbito institucional da “Residencia

Profissional em Arquitetura, Urbanismo e Engenharia” da Universidade Federal da

Bahia (RAU+E/UFBA), Brasil. Como resultado, identifica categorias com maior

incidência de obstáculos relatados, bem como aspectos de oportunidades para

avaliar e desenvolver propostas de intervenções urbanas que potencialmente

aumentam as capacidades localmente valorizadas. Com isso, fornece um quadro

teórico e um procedimento pratico exemplar para práticas de planejamento

participativo que fortalecem autonomia local para possibilitar um desenvolvimento

humano autodeterminado e combater as desigualdades sistêmicas.

Esta dissertação tem o objetivo de caracterizar o processo de expansão urbana da cidade de Salvador, capital do Estado da Bahia, a partir da implantação de loteamentos urbanos na década de 1950. A cidade de Salvador experimentou um crescimento populacional intenso na primeira metade do século XX, em especial nos anos 1940, momento que coincide com a chegada de grandes fluxos migratórios atraídos pela instalação dos primeiros parques industriais na cidade. O rápido crescimento urbano e populacional, acarretou várias transformações no tecido urbano, no que tange à modernização da infraestrutura existente e a aquisição de novas áreas para habitação, atendendo à demanda por moradia do novo contingente populacional. Com base nisso, este trabalho analisa o processo de ocupação e desenvolvimento físico e territorial da cidade, compreendendo a nova dinâmica urbana, suas transformações, os agentes e os fatores que culminaram no movimento de expansão urbana decorrente da implantação de loteamentos, principal forma de ocupação do território e alternativa à questão habitacional. Por meio da revisão de literatura discute-se o processo de expansão urbana e a sua relação com a legislação urbanística que regulava o parcelamento do solo da cidade. Para a descrição e análise desse processo e da sua relação com os instrumentos de planejamento existentes, a análise de documentos oficiais permitiu a construção de um panorama geral da experiência local ao dispor sobre as dinâmicas da cidade que impliquem em seu crescimento, seja físico, populacional, econômico e outros.

O trabalho intitulado “Narrativas contra-colonialistas em espacialidades Ocidente-mundo de mulheres negras”, visa, através de escreviências produzidas a partir de histórias vividas e contadas por mulheres negras da família da autora, expresssar espacialidades, estratégias de resistência e ciência na invenção de tecnologias para lidar com o meio face os desafios vivenciados por pessoas negras na sociedade brasileira advindos de uma estrutural racista, classista e cis-hétero-patriarcal. Nessas histórias, criadas a partir da investigação dos registros fotográficos familiares, memórias, contação de histórias e ficção, são evidenciadas percepeções de mundo que extrapolam o modus operandi ocidental e, portanto, trazem à tona elementos como ancestralidade e tecnologias de cura no bojo de sua construção. São, então, construídas narrativas contra-colonialistas sobre experiências negras a partir das vivências de familiares e ancestrais, estabelecendo um panorama através do eixo familiar sobre experiências similares entre famílias negras brasileiras. São evidenciadas histórias sobre deslocamentos, êxodo rural, relação com a natureza e o lar, cosmopercepções ancestrais e meios de cura em relação aos desafios cotidianamente vivenciados. Nas narrativas são identificadas também espacialidades, evocadas através das lembranças que permitem encontrar diferentes relações com o meio, estabelecidas seja pelo trânsito, pelo pertencimento, permanência, ancestralidade ou de relações outras com o tempo. São impressões espaciais marcadas por ícones que formam arranjos de diferentes naturezas espaciais e representam uma ferramenta a mais de leitura das escrevivências que podem ser utlizadas como base para cartografias e a idealização de diretrizes urbanísticas.

Os campos de preservação do patrimônio edificado e da arquitetura para estabelecimentos assistenciais de saúde possuem suas normativas específicas que, muitas vezes, não dialogam entre si. Considerando os movimentos recentes de valorização e preservação da arquitetura moderna, intensificados mundialmente nas últimas décadas, é possível observar inúmeros hospitais construídos durante este período que possuem valores culturais singulares, muitas vezes sequer identificados. Dentre os poucos exemplares inventariados e salvaguardados, destacam-se bens da arquitetura antituberculose, que com seus princípios higiênicos e terapêuticos, contribuiu para o estabelecimento e difusão da linguagem moderna em todo o mundo, e recentemente tem sido valorizada, apesar dos diversos desafios e conflitos enfrentados na preservação dos seus valores culturais. Sendo assim, o objetivo geral do presente estudo de caso é analisar, a partir da compreensão da sua trajetória histórica, as transformações físico-espaciais decorrentes das necessidades de atualização funcional do Hospital-Sanatório Santa Terezinha, o único exemplar deste tipo construído na Bahia, considerando os desafios e conflitos para a preservação dos seus valores culturais. Para tanto, utilizou-se como metodologia o levantamento bibliográfico, a pesquisa de campo, além da análise documental sobre o projeto original, sua construção, reformas e novas propostas projetuais até o presente momento. A discussão dos dados e o estudo comparativo foram desenvolvidos com base na análise histórica e arquitetônica do edifício. Por fim, foi realizado um acompanhamento dos processos recentes de luta pela preservação dos valores do antigo hospital-sanatório. Como resultado, foram identificados e analisados os valores culturais do objeto vinculados à produção da arquitetura antituberculose, sintetizados e distribuídos em cinco categorias: 1) valor histórico-social; 2) valor estético-projetual-funcional; 3) valor técnico-científico; 4) valor de notoriedade-exemplaridade; 5) e valor de autenticidade-integridade / preservação. O Hospital-Sanatório Santa Terezinha, atual Hospital Especializado Octávio Mangabeira, inaugurado em 1942, foi a obra pioneira da arquitetura moderna em Salvador, tendo notoriedade internacional e uma estética emblemática. Em oitenta anos, vivenciou momentos de degradação e reformas para conservar o seu uso hospitalar, incorporando novas atividades que demandaram adaptações na sua espacialidade. A despeito da falta de proteção patrimonial e das recentes ameaças de descaracterização, nota-se a permanência da tipologia sanatorial, com uma leitura da volumetria, da forma e das soluções arquitetônicas antituberculose que marcaram a primeira fase da arquitetura moderna em Salvador. Diante disso, é possível concluir que o edifício dotado de valores culturais e prestes a ser tombado não é um objeto que deve ser mumificado para ser preservado; ao contrário, ele deve se manter em uso, servindo à sociedade, e pode ser ajustado às novas funções sem necessariamente sofrer alterações que desconfigurem sua essência primordial. 

A pesquisa intitulada “Arquitetura religiosa protestante: relações entre imaginário, simbologia e o espaço celebrativo/litúrgico nas igrejas de confissão calvinista na Bahia”, possui como principal eixo temático o estudo entre procedimento litúrgico, expressão cultural e linguagem arquitetônica, abordando a análise da religiosidade protestante a partir de sua compreensão do sagrado, através da relação que se estabelece entre o indivíduo e a constituição do espaço destinado às práticas litúrgicas. A pesquisa busca analisar os aspectos constitutivos e identitários do espaço religioso protestante; objetivando compreender como se configura o espaço destinado às práticas celebrativas e como se dão as aferições de conteúdo simbólico no lugar litúrgico protestante. Bem como compreender, de que maneira as expressões materiais dessa cultura refletem o imaginário protestante tal como ele é entendido por suas vertentes do cristianismo? O estudo contempla a natureza histórica do processo de inserção do protestantismo no Brasil, tomando por objeto as igrejas construídas entre o século XIX e início do século XX, em especial as Igrejas Presbiterianas do interior baiano, oriundas da Missão Brasil Central da Presbyterian Church of United States; relacionando imaginário, simbologia e a arquitetura religiosa protestante; a espiritualidade e a estética dos templos, a mística com a arquitetura.

O terreiro é local múltiplo de religião, mas também de cultura, de passar conhecimento através da vivência do dia a dia, do culto a ancestralidade, da reverência aos orixás. Uma quantidade significativa de fatores que se faz necessários ser entendidos. Desconhecimento entre outros que fortifica o racismo e a exclusão contra o negro, demonializa e o torna invisível, neste interim mais especificamente o brasileiro. Este trabalho de dissertação tem a finalidade de analisar a patrimonialização do terreiro de candomblé Axé Ilê Obá, mais especificamente no período da gestão de Mãe Sylvia de Oxalá entre os anos de 1986 a 2014, época em que local foi reconhecido como primeiro espaço de Candomblé tombado pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico no estado de São Paulo. Grupo negro e candomblecista que devido a toda a complexidade sistêmica existente em sua vivência, se faz necessário se entender a sua estrutura e história; trajetória dos africanos e afrodescendentes, existentes há mais de 6.000 anos com toda a cultura e estratégia de viver que se perpetua na diáspora. Através deste trabalho, também se pretende gerar material que amplie possibilidades dentro da Lei 10.639, a qual estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira, e ampliar o entendimento e equilíbrio social através do conhecimento. O terreiro é um espaço de múltiplas funções, da pratica de religião, do aprendizado da cultura, da realização da vida de uma comunidade. O terreiro pode ser compreendido em escalas da sua materialidade, entre os objetos, as edificações e sua inserção num território urbano. Nessa dissertação realizamos uma pesquisa de natureza transdiciplinar, com enfoque da complexidade sistêmica dentro do terreiro de candomblé Axé Ilê Obá, localizado no Bairro do Jabaquara na cidade de São Paulo. A pesquisa envolveu desde a história do candomblé ao significado e representação dos Orixás. Trabalha com a memória e com as representações expressas nesse terreiro e problematiza as questões relativa aos símbolos da cidade de São Paulo, cidade estruturada de maneira ampla por africanos e seus descendentes, sem contudo, tal fato ser evidenciado pelos meios de informação e divulgação da cidade. Os candomblés da cidade são pouco conhecidos e a sua inserção na produção da cidade pouco discutido e pouco problematizado. Essa dissertação faz uma explanação sobre os diversos aspectos desse terreiro e problematiza a sua inserção urbana. Aborda-se diversos fatores que se fazem necessários para o entendimento do candomblé e do terreiro em questão. Destaca-se que o desconhecimento do candomblé e dos terreiros operam na fortificação do racismo e a exclusão da população negra e da nossa cultura. Existe devido ao racismo a demonialização do terreiro e do candomblé como também a invisibilidade desse. Este trabalho de dissertação tem a finalidade de analisar a patrimonialização do terreiro de candomblé Axé Ilê Obá, mais especificamente no período da gestão de Mãe Sylvia de Oxalá entre os anos de 1986 a 2014, época em que local foi reconhecido como primeiro espaço de Candomblé tombado pelo CONDEPHAAT - Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico no estado de São Paulo. Grupo negro e candomblecista que devido a toda a complexidade sistêmica existente em sua vivência, se faz necessário se entender a sua estrutura e história; trajetória dos africanos e afrodescendentes, existentes há mais de 6.000 anos com toda a cultura e estratégia de viver que se perpetua na diáspora. Através deste trabalho, também se pretende gerar material que amplie possibilidades dentro da Lei 10.639, a qual estabelece a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira, e ampliar o entendimento e equilíbrio social através do conhecimento. Trata-se de um trabalho original quanto ao estudo conjunto e articulado do design, da arte, da arquitetura e do urbanismo desse terreiro.

O presente estudo tem como escopo a análise da produção arquitetônica do escritório Berbert & Peixoto Arquitetos Associados, fundado através da parceria dos arquitetos Emmanuel de Nascimento Berbert (1929-2016) e José Álvaro Peixoto (1925-1993). O principal objetivo consiste na realização de um levantamento e sistematização das obras concebidas por este profícuo escritório, que figura entre os mais duradouros da sua época. Ademais, objetiva-se proceder a uma análise pautada por um enfoque panorâmico, segmentando as obras em categorias distintas, a fim de discernir a forma
pela qual referida contribuição se manifestou no âmbito do desenvolvimento urbano e no caráter intrínseco à urbe de Salvador. O período de investigação tem recorte na década de 1950 até o encerramento das atividades do escritório. Embora os profissionais em questão mantenham suas origens formativas na Escola de Belas Artes, é válido ressaltar que integram a vanguarda da primeira geração de arquitetos formados pela Universidade Federal da Bahia. A federalização coloca o curso em outro patamar, quando o curso ganha maior visibilidade perante a sociedade baiana. Influenciados pelo EPUCS (Escritório do Plano de Urbanismo de Salvador) e consequentemente pela escola carioca. O escritório desenvolveu mais de uma centena de projetos, muitos deles marcantes na arquitetura do seu tempo, que contribuiu para o desenvolvimento urbano e paisagem da cidade. Incorporou premissas legadas da escola carioca com materialidade e condicionantes próprias do lugar e soube aproveitar as oportunidades que as condições econômicas, culturais e sociais lhes foram impostas, o resultado é uma diversidade de usos e abrangência geográfica no seu catálogo, quiçá uma das razões da longevidade do escritório. Para analisar sua produção, foi necessário, utilizar fundamentos que facilitassem a análise gráfica, pois plantas técnicas, croquis, perspectivas e fotos são matéria-prima desta pesquisa, somada a inserção em determinados contextos do tempo e lugar, permitiu estabelecer parâmetros qualitativos com base em quantitativos na busca de identificar algumas obras dignas de estudo de caso, com uma metodologia que busca entender a obra a partir de análise por meio de diagramas como ferramenta auxiliar. Para isso, se fez necessário apresentar um particular capítulo que busca autores que utilizam a mesma forma de análise de obras arquitetônicas, principalmente por conta da escassez de publicações a respeito de suas obras ou acesso a dados textuais sobre o escritório, os arquitetos e sua arquitetura. Para além das bases teóricas exploradas com o intuito de discernir a essência das intenções projetuais, emergiram agrupamentos por usos, tempo, posição geográfica, o que permitiu a obtenção de uma aproximação ao partido arquitetônico. A investigação fundamentada e as classificações segmentadas por categorias desempenharam um papel crucial ao direcionar a seleção de obras para análises de casos específicos. Tais estudos de caso propiciaram um aprofundamento substancial, viabilizando uma compreensão mais acurada da essência subjacente às obras projetadas e/ou edificadas sob a égide do mencionado escritório, o que resultou em um verdadeiro panorama de toda a produção e deu indicativos de necessários desdobramentos que poderão ser aprofundados através de algunsrecortes indicados.

A partir da teoria decolonial, essa dissertação se propõe em pensar como os dispositivos de dominação e hierarquização social advindos da relação modernidade/colonialidade, a partir a invasão das Américas, relegaram a determinados territórios e corpos um lugar periférico dentro das concepções de modos de vida modernos. Isto é, a partir do giro decolonial, pode-se entender como os territórios ribeirinhos, de beira de rio, são vistos sob uma ótica de estigmatização e primitividade, entendendo, também, a fundamental importância que a ideia de raça tem na relação de superiorização e inferioração de culturas, sobretudo na região amazônica, que ainda é vista como uma terra a ser explorada. A partir de uma abordagem teórica, vinculada à pesquisa de campo, entrevista e análises imagéticas, foi possível compreender e conhecer melhor o território a ser estudado: a Vila Elesbão. Localizado no município de Santana, no Amapá, o bairro do Elesbão traduz as reflexões tidas pelo aporte teórico, demonstrando a vivência de um território permeado por água, de modo pouco discutido pelo campo da Arquitetura e do Urbanismo. Foi possível compreender, assim, um cotidiano palafítico-ribeirinho que, em suas minúcias e singularidades, demonstram a pertinência de pensar as urbanidades que surgem das beiras dos rios na Amazônia.

Esta tese aborda a proscrição dos motoboys ao longo da cidade dromológica, o quão a dromologia lhes é, tanto um imperativo hipotético quanto, já em termos antikantianos, um imperativo categórico. Ou seja, o quão ela os subjuga e o quão ela os exponencializa a uma propensão quase que inata. Para tanto, parte-se da situação urbana de um motoboy em particular (Dos Santos), lançando mão da noção de “mônada”; pois assim tão logo poder-se-ia dizer que a cidade de cada um está imbricada na cidade de todos, sendo que, ao mesmo tempo, na cidade de todos a cidade de cada um está também imbricada. A ideia é, então, para além de abordar os motoboys enquanto os proscritos contemporâneos ao longo de uma tal cidade monádica, afinal de contas, uma cidade impossível, ainda evidenciar as potencialidades disruptivas desta imbricação urbana não apenas ante o urbanismo, mas também ante o estado de coisas por meio do qual o urbanismo consolidou a sua episteme.

A evolução das tecnologias digitais e os episódios recentes de destruição de bens da herança cultural estão sendo determinantes para a larga produção de modelos de reconstrução digital de monumentos, sítios e artefatos históricos. Também a própria condição da contemporaneidade, híbrida do material e do digital, tem demandado a digitalização do mundo físico e a construção de modelos digitais aplicáveis aos mais diversos usos. O posicionamento dos órgãos de proteção do patrimônio, muitas vezes, tem encorajado a reconstrução como forma de reafirmação política contra extremistas e de fortalecimento da resiliência das comunidades. Menos polêmica e reversível, a reconstrução digital tem como objetivo representar monumentos e objetos desaparecidos, restaurando-os visualmente a um dado momento da sua história, sendo também amplamente utilizados como documentos científicos na arqueologia virtual, como promoção da divulgação turística e museográfica, bem como forma de resiliência, na superação da perda de um patrimônio destruído. Esta pesquisa parte da hipótese de que o entendimento dos modelos digitais de reconstrução são componentes das narrativas históricas e arqueológicas, construídas por um narrador-modelador que faz escolhas, prioriza aspectos e define a história a ser contada. Desta forma, tem como objetivos compreender e demonstrar a dimensão da reconstrução digital como método e produto digital, bem como propor uma ampliação do conceito de reconstrução digital, na perspectiva da compreensão desta como um processo interpretativo e dependente daquele que a interpreta e cria. Para alcançar estes objetivos, esta tese se propôs a executar um projeto prático de reconstrução digital e elaborar modelos de reconstrução digital das edificações do sítio histórico do Convento de Santo Antônio do Paraguaçu, propondo uma forma de registro e acesso aos paradados e elaborando narrativas virtuais para contemplar as construções teóricas suscitadas. A partir das elaborações propostas, foi possível identificar que existe uma simplificação conceitual da reconstrução digital, uma vez que esta não compreende todos os seus aspectos. Foi evidenciado que uma reconstrução digital decorre de uma série de interpretações e decisões, caracterizando o modelo digital produzido como um objeto cognitivo, síntese de um processo intelectual baseado em referências sobre o objeto físico que representa sendo, ao mesmo tempo, um repositório de conhecimento e síntese deste conhecimento, por trazer consigo o conhecimento de fontes heterogêneas. Não obstante, a importância do registro deste processo intelectual como garantia de transparência e confiabilidade científica, tornou-se um requerimento das instituições de patrimônio, e a despeito do que muitos autores têm proposto, verificou-se a viabilidade de soluções simples destes registros (paradados), uma vez constatado que o cerne desta questão reside mais na postura ética do pesquisador-modelador do que na tecnologia em si. Na conclusão desta pesquisa, verificou-se que as narrativas virtuais elaboradas, servem de arena para a constituição de diferentes versões da história e que estas têm se configurado como o principal suporte de disseminação do patrimônio e do trabalho intelectual investigativo, interpretativo e decisório, que produz o conhecimento, não restringe, mas abre nova possibilidades de interpretação da história.

Qual é a escrita da cidade que se faz coerente às suas múltiplas temporalidades, suas múltiplas espacialidades, sua diversidade? Qual é a escrita da cidade que se faz coerente à sua espacialidade fragmentada e dispersa, suas diferentes tramas?

Na busca por compreender e escrever um espaço, uma rua em transformação, onde tratores, picaretas e pás reviram seu solo, deixando emergir pedaços, estilhaços diversos, optamos por olhar para a materialidade que compõe a Chile – seus prédios, suas pedras, seus tijolos – de uma outra maneira. Um dos desafios que essa rua nos coloca, dentre outros tantos, é o de pensar a matéria diante de um mundo globalizado e dominado por produções imateriais de valor, como o capital financeiro, que opera sobre a materialidade do mundo, como se essa fosse apenas um produto a ser consumido e descartado. Lidar com a vitalidade da matéria no espaço, e aqui focamos em uma rua do Centro Histórico de uma das cidades mais turísticas do Brasil, é, também, uma busca por entender o papel da materialidade em um mundo cada vez mais impalpável, convertido em imagens prontas para serem consumidas o mais rápido possível.

O movimento constante de olhar para a rua e por ela ser olhada foi e ainda continua sendo o de recolher e colecionar caquinhos, estilhaços, fragmentos e junta-los em momentâneas configurações. Configurações essas, abertas a quem se dispõe a jogar a brincadeira, a brincar o jogo. A história da Rua Chile, não é uma só e pode a qualquer momento ser contada sob outra ou outras perspectivas geradoras de novas e/ou possíveis outras Ruas Chiles.

Esta tese se propõe tensionar os discursos e práticas da preservação do patrimônio paisagístico na Costa Rica, a partir de uma crítica à paisagem cultural tal qual tem sido definida pela Convenção sobre o Patrimônio Mundial Cultural e Natural de 1972. Se buscou, a partir da análise crítica do discurso, argumentar a condição colonial do selo Unesco como referente centralizado y universalizado, desde o qual se produzem noções doutrinais sobre o patrimônio e a paisagem. Esta conversação aberta, de base autocrítica, colocou a possibilidade e a necessidade de descentrar a paisagem cultural, o cenário do desenvolvimento sustentável e o aparato político internacional e regional que reproduz os princípios do sistema-mundo, sobre o quais, a Teoria da Preservação ainda se ancora. Esta dependência é demonstrada no conjunto da norma relativa ao ambiente, ao planejamento urbano e ao patrimônio, no qual a paisagem se dilui entre sua dimensão ecológica e cenográfica. Foi na paisagem da cidade de Golfito, localizada no Pacífico Sul da Costa Rica, onde se atravessaram essas miradas, desde a revisão sobre a marca do Enclave Bananeiro da United Fruit Company, estabelecido entre 1938 e até 1985, a identificação das marcas de longa duração presentes, as ativações patrimoniais evidentes nos tombamentos e os relatos sobre a paisagem tropical exuberante emoldurada entre a montanha e o mar, reconstruídos pelo progresso, que romantizam as violências exercidas sobre o território, corpos e memórias. A partir de Golfito, o processo de imaginação sociológica e diálogo multidisciplinar permitiu problematizar o patrimônio paisagístico como dimensão que, carregada de valores próprios da complexidade social, envolve a mudança, manifesta o conflito e as estratégias do uso do território, e que, além das práticas seculares da preservação, serviria como lugar de trabalho participativo para superar a enunciações a respeito da ideia pictórica da paisagem e do patrimônio enquanto dispositivo de poder determinado exclusivamente pela prática, altamente tecnocrática e secular, a maioria das vezes, do tombamento. Finalmente, se discute esta noção, enquanto totalizadora, que permitiria reconhecer, a partir das estruturas locais da administração institucional e das formas de organização da vida cotidiana, as práticas que compõem esse patrimônio paisagístico enquanto imagem heterogénea, em movimento, cheia de disputas e sobre a qual haveria múltiplas versões.

A partir do estudo sobre diferentes métodos que buscam a construção de conhecimentos pouco convencionais de apreensão de cidades, esta tese propõe um método interpretativista para compreender territórios urbanos que são percebidos como opacos, abandonados socialmente e marginalizados pelo Estado. Este método, intitulado Situação de Arte, usa a arte para construir contextos micropolíticos e plurais de interpretação, com foco nos modos como os praticantes desses territórios interpretam a cidade, em condições de alta vulnerabilidade social. Assumindo a parcialidade dos conhecimentos que busca produzir, os quais são vistos como argumentos que se apresentam ou se lançam a conformações discursivas territoriais específicas, o método se desenvolve em cinco momentos de investigação: catabolismo urbano, ativação interpretativista, disputa por reconhecimento, ação própria de arte e ação coletiva de arte, e interpretação reflexiva.

A tese foi estruturada em cinco capítulos. No primeiro, introdução, busquei apresentar os contornos e a natureza do problema de pesquisa e dos objetivos da tese. Continuando, apresentei o mapeamento analítico de um conjunto que considerei como expressivo de métodos interpretativistas de apreensão da cidade, organizando-os entre aqueles mais centrados no campo da arte, no campo do urbanismo e planejamento e no campo da sociologia e antropologia (capítulo 2); para, em seguida, apresentar o método em si (capítulo 3), no qual procurei também explicar suas principais ancoragens e sua dinâmica de construção (capítulo 4); e detalhar seu uso em uma experiência recente em Roma, chamada “Umano, disumano, Roma Capitale - Situação de Arte” (capítulo 5). Finalizei com as conclusões (capítulo 6), no qual apresentei algumas reflexões finais, incluindo os limites deste trabalho, bem como uma nova agenda de pesquisa.

Nas sociedades africanas e na filosofia africana a formação de tudo que existe é
regido pela existência da energia vital. O mundo, incluso a humanidade, é representada
pela existência de energias visíveis e invisíveis, que devem estar em harmonia e
equilíbrio. Os seres possuem mente, espírito e alma, de forma conjunta e harmônica. Os
seres invisíveis, os espíritos fazem parte de um mundo em interação com o mundo visível.
Dentro desse universo africano de conhecimento, religião e vida é que se apresenta o
conceito de Governança Espiritual. Em grande oposição a hegemonia ocidental, as visões
do mundo eurocêntrico, os conceitos de energia vital e de Governança Espiritual são
postulados da religiões e das filosofias africanas e afrodescendentes que afastam a
dicotomia entre os seres humanos e a natureza. A Governança Espiritual dos sítios
naturais sagrados, também, faz parte das culturas indígenas. Através dos seus rituais e do
seu modo de viver, pensar e sentir a vida, os povos originários protegem e defendem a
biodiversidade no mundo. As religiões de matriz africanas e afro-brasileiras sempre
partiram da crença de divindades pluriversais e pluripresentes materializadas e
representadas pelos elementos da natureza. Assim, a principal fonte teórica da tese é a
Governança Espiritual Afro-brasileira, ou seja, o conceito contido no Candomblé e o que
se conhece sobre. O Candomblé como teoria de concepção de vida. Além do fator
religioso, a concepção de como opera o mundo. Paradigma da ciência africana, a
Governança Espiritual Afro-brasileira é a energia do Axé (energia vital), a energia das
divindades no processo de decisão, no caso em estudo, de (Ori) entações de ações
urbanísticas e arquitetônicas. Perante essas significações, o escopo da tese é compreender
a importância da Governança Espiritual Afro-brasileira enquanto elemento fundante para
a edificação do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô. Quantos aos objetivos
específicos consistem em: I- investigar como Xangô inspirou e convenceu o poder
público, técnicos e acadêmicos envolvidos na concepção do projeto arquitetônico para a
implantação do equipamento de apoio do Parque Pedra de Xangô a executarem as suas
ordens; II - identificar as estratégias utilizadas pelos adeptos das religiões de matrizes
afro-brasileiras para viabilizar a construção de um parque prospectado a partir de sua
cosmopercepção de mundo, com ênfase nas histórias, culturas e valores do povo negro na
diáspora; III - descrever os diferenciais do projeto, explicando os significados e razões dos vários elementos que compõem a arquitetura das edificações. Metodologicamente, o percurso foi tecido, de modo conjugado, e trilhou os seguintes caminhos: metodologia da pesquisa afrodescendente, sistema observante (inspirada no pensamento sistêmico); técnica da cartografia das controvérsias (com base nas formulações teórico-metodológicas da Teoria Ator-Rede — ANT); pesquisa bibliográfica e documental; diário de campo virtual; entrevistas; sistematização, análises dos discursos e conteúdos. Os resultados? É o que foi edificado e o que está por vir. Elemento fundante, morada dos orixás, voduns, inquices, caboclos e encantados, a Pedra de Xangô, natureza encantada pelo fluxo do axé, através das festas e rituais, na relação território e terreiro, teceu e concebeu uma arquitetura contemporânea própria, a arquitetura da Justiça de Xangô, proporcionando que os terreiros, caminhos e encruzilhadas tornem-se lugares sagrados em rede. (In)conclusões: O Parque Pedra de Xangô é uma arquitetura fluída, circular, em transe, itinerante, em movimento, em constante transformação. Em síntese, uma arquitetura de reencantamento, sagrada, contra-hegemônica que questiona a hermenêutica ocidental, as narrativas eurocêntricas e elege como estética da ambiência as normas do poder do Axé.

A arquitetura antituberculose configurou-se como uma rede terapêutica articulada para combater a doença em escala global. Salvador, com uma alta incidência de tuberculose, construiu edifícios alinhados ao movimento internacional, inovando na composição da sua rede. A presente pesquisa aborda a influência da arquitetura no apoio ao combate à tuberculose em Salvador, Bahia, ao longo da primeira metade do século XX, considerando ter sido uma doença de alta mortalidade na região. A pesquisa parte da hipótese de que a arquitetura desenvolvida para apoiar o combate da epidemia na capital baiana, desempenhou um papel estratégico e particular no controle e prevenção da disseminação da doença. Dessa forma, o estudo proposto buscou compreender a arquitetura como uma ferramenta de apoio ao combate da doença nesse contexto, aprofundando tanto influências internacionais quanto as características regionais que influenciaram na concepção e construção dos edifícios dedicados a combater o contágio da doença. A metodologia incluiu pesquisa documental, revisão bibliográfica, visitas às unidades estudadas e análise tipológica dos edifícios projetados para o controle da epidemia. Ao analisar a construção historiográfica da arquitetura antituberculose na região, destaca-se o papel relevante desempenhado pela cidade no contexto nacional. Por meio da análise das produções científicas e arquitetônicas internacionais, a pesquisa revela a importância de Salvador nesse cenário e a contribuição da sua rede de edifícios para a contenção do contágio da doença. O estudo destaca a singularidade da rede antituberculose em Salvador, abrangendo sanatórios, dispensários, preventório, hospital-escola e instituto de pesquisa. Ao mesmo tempo, salienta a escassez de registros abrangentes que documentem a história da tuberculose na perspectiva da cidade e amplia essa abordagem. A principal ênfase da pesquisa, consiste na construção historiográfica da arquitetura dos edifícios antituberculose que constituíram a rede de assistência ao tuberculoso, na cidade, e suas particularidades regionais. Estes incluem o Dispensário Ramiro de Azevedo, o Preventório Santa Terezinha, o Conjunto Sanatorial Santa Terezinha (com destaque para o Hospital Sanatório Santa Terezinha), Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose e Hospital de Clínica Tisiológica. Destaca-se a concepção e adaptação dessas estruturas para atender às necessidades específicas no combate à tuberculose. Esta pesquisa não apenas constrói uma compreensão da historiografia da arquitetura antituberculose em Salvador, mas destaca a importância de abordagens interdisciplinares, de modo a integrar as complexas interações entre saúde, arquitetura e sociedade. O estudo contribui para salvaguarda da história, memória cultural e reconhecimento historiográfico da rede antituberculose construída em Salvador no século XX. Além disso, ao reconhecer o legado deixado por essas estratégias de combate ao contágio da tuberculose, estabelecem-se bases para abordar os desafios contemporâneos da saúde pública e de arquiteturas voltadas para o enfrentamento de doenças epidêmicas. 

Construída a partir da rua, da observação, do encontro e do diálogo, esta pesquisa buscou apreender as dinâmicas estabelecidas nas relações mulher-trabalho-cidade, enfocando o trabalho de rua praticado por mulheres negras nas ruas do centro de Salvador/BA, com o intuito de discutir os processos do “fazer-cidade” cotidiano, as ocupações, os usos e dinâmicas urbanas, as disputas e tensões, as relações urbanas, bem como os modos de vida que atravessam as trajetórias dessas mulheres, tais como: trabalho, moradia, família. A pesquisa contou com três principais interlocutoras, e foi a partir da pesquisa de campo de caráter etnográfico que houve a aproximação com a cidade, as trabalhadoras e as práticas de trabalho de rua. Adotou-se os “encontros de pesquisa” e a “pesquisa implicada” como ferramentas teórico-metodológicas, epistêmicas, éticas e políticas, na perspectiva de produzir conhecimento junto, desde e com as trabalhadoras de rua. As trajetórias e narrativas das interlocutoras foram as guias para a construção das reflexões aqui delineadas, bem como as imagens e os fragmentos - textuais, documentais e empíricos - foram ferramentas para pensar e narrar a cidade por outros meios de linguagem que não apenas a escrita. A partir destas trocas cotidianas e subjetivas, a dissertação caminha por três eixos de discussão: ocupação e disputa; redes de relações e políticas da rua; e gestão da vida cotidiana, abordando as complexidades e ambiguidades existentes nessas discussões. Por fim, desloco a percepção adotada por algumas abordagens referentes ao trabalho de rua, que o determinam unicamente pelo viés da falta e da precariedade, buscando, assim - sem desconsiderar que também se trata de um trabalho precarizado, criminalizado e privado de direitos sociais -, analisar a partir e junto a essas dimensões, as trajetórias e narrativas das interlocutoras no “fazer-cidade”, que enfatizam a importância destas práticas de trabalho na vida urbana e em suas próprias vidas. Trabalhar na rua possibilita a estas mulheres, desde as margens, planejar e imaginar um futuro, ter perspectivas de mudanças e de acesso à cidade, tendo sua “guia” como elemento fundamental não apenas do trabalho de rua, mas de um modo de vida destas mulheres na cidade.

Os feminismos, em sua pluralidade, têm contribuído com o avanço dos estudos urbanos ao introduzir novos olhares sobre o território, a luta urbana e as diversas experiências na cidade, posicionando as mulheres no centro dos processos urbanos e as visibilizando como produtoras e transformadoras do espaço. O pensamento e as ações engendradas pelas prostitutas em diálogo com outros grupos de mulheres são mote para as reflexões sobre os feminismos e o urbano desenvolvidas nesta pesquisa, que tem como enfoque de estudo as dinâmicas espaciais da prostituição no centro de Salvador ao longo dos séculos XX e XXI, e principalmente no contexto de recuperação de sua área histórica tombada, iniciado a partir do final da década de 1960. Foram realizados levantamentos de dados de origens diversas, através de revisão bibliográfica, pesquisa arquivística de notícias de jornal, documentos oficiais e fotografias, observações de campo, conversas informais e entrevistas, cujos fragmentos de narrativas das mulheres do centro de Salvador foram reunidos e costurados, em um exercício reflexivo interessado em introduzir novas visões e caminhos possíveis de investigação. Desde o contexto de
predominância de zonas de tolerância delimitadas para a concentração da prostituição em meados do século XX, localizadas no perímetro de tombamento do patrimônio histórico, até a sua posterior dissolução e prevalência da prostituição de rua, com a ocupação das prostitutas em pontos específicos de ruas e praças do centro histórico transformado em zona turística, a discussão conduzida em torno das dinâmicas espaciais da prostituição no centro de Salvador contribui para novos apontamentos sobre como a cidade é “zoneada” em distintos momentos históricos, tanto por processos ordenadores que muitas vezes resultam na exclusão e segregação das mulheres na cidade, quanto pelo protagonismo das mesmas na organização de formas coletivas de resistência frente aos processos espaciais excludentes, que guarda a potência de bagunçar as formas válidas de construção do pensamento e da cidade e abrir possibilidades para novos olhares e abordagens.

Este trabalho apresenta um estudo sobre uso, aplicações e etapas de criação de Ambientes Virtuais Interativos tridimensionais (AVI 3D), relacionados à Realidade Virtual (RV), como foco no processo de geração dos modelos geométricos para a visualização e difusão do patrimônio arquitetônico. A partir de uma ampla revisão bibliográfica e embasamento teórico, são discutidas e estabelecidas as definições das terminologias realidade virtual e ambientes virtuais, e apresentados exemplos de AVI 3D no campo do patrimônio edificado. Em seguida, apresenta-se um panorama das etapas de desenvolvimento de um ambiente virtual interativo 3D, indicando as possibilidades de métodos, técnicas e ferramentas para a execução de cada uma dessas etapas. Realizou-se também uma investigação aprofundada sobre a fase de geração dos modelos geométricos para o processamento em tempo real incluindo o mapeamento de fluxos de trabalho, a fundamentação teórica sobre modelagem geométrica, modelos de nuvem de pontos e de malha poligonal, topologia e retopologia, mapeamento de textura UV, entre outros conceitos, abordando diferentes tipos de modelos geométricos, suas características e métodos de geração dessas geometrias. Por fim, descreve-se e discute-se um estudo de caso realizado no Centro Histórico da cidade de Laguna — SC para experimentação prática das etapas de desenvolvimento de AVI 3D propostas e da geração de modelos geométricos fotorrealistas a partir de uma aquisição de dados com fotogrametria digital. O estudo de caso consistiu no desenvolvimento parcial de um ambiente virtual interativo no motor de jogo Unreal Engine 4, com o teste de variadas técnicas e ferramentas para a obtenção de modelos em diferentes níveis de detalhe. Este trabalho contribuiu com a elucidação do desenvolvimento de aplicações de RV, a definição de um workflow base para a geração de modelos geométricos de edificações históricas para uso em AVI 3D e a apresentação de possibilidades de uso e interação com esses modelos em um game engine.

O território de Itapuã é atravessado pelas práticas cotidianas herdadas da população indígena e negra que habitaram este local em períodos anteriores e que vem sendo reformuladas por seus descendentes ao longo dos tempos. A intensificação do surgimento de novas ocupações e as intervenções urbanas promovidas pelos órgãos governamentais, ocorridas a partir da segunda metade do século XX, gerou mudanças significativas na paisagem e consequentemente nas relações socioespaciais que os moradores tinham neste território. Sendo assim, esta dissertação tem como objetivo contribuir com o debate urbano, por meio da investigação sobre a presença dos afro-indígenas e seus descendentes na formação e na organização espacial de Itapuã. A elaboração deste trabalho, tem como inspiração para a realização da coleta e análise de dados os fundamentos da Metodologia Afrodescendente em Pesquisa e emprega na sistematização das informações a junção dos princípios das Ficções Visionárias e das Afrofabulações. Esta investigação possibilitou reconhecer em meio as diversas transformações, como os moradores geraram possibilidades para construção deste espaço urbano e formas de permanência da vida.

A proposta desta pesquisa de mestrado é estudar a expansão urbana com relação às situações de vulnerabilidade socioambiental, associada ao risco de inundação, a qual se apresenta no tecido urbano de Gonaïves e pode ser entendida nas relações histórico-políticas e na desigualdade econômica incessante no Haiti, o que torna mais vulnerável o ambiente e a população da área urbana gonaïviana durante os desastres naturais. São elas: (i) estudar a configuração urbana e a urbanização haitiana na qual encaixa-se a cidade de Gonaïves; (ii) caracterizar a expansão urbana, através da análise do processo histórico e de fatores; (iii) caracterizar a expansão urbana, através da análise da relação de centro e periferia; (iv) caracterizar a vulnerabilidade socioambiental, através de análise de fatores; (v) mapear a expansão urbana, de forma a obter as áreas de risco à inundação e zonas de destino da população urbana particularmente a partir das grandes catástrofes mortíferas de 2004 e 2008 na cidade e; (vi) identificar variáveis e indicadores importantes para analisar as situações de vulnerabilidades socioambientais no processo de expansão urbana da cidade de Gonaïves. As importantes ocupações urbanas aceleradas nas partes mais altas da cidade, depois das inundações de 2004 e 2008, em Gonaïves, onde essa expansão urbana vem criando e ampliando espaços desiguais, sendo uns privilegiados quanto às características geográficas e topográficas (terrenos altos), enquanto outros são desfavoráveis, ocupando os relevos planos e abaixo do nível do mar. Ambos os espaços sofrem, constantemente, com um déficit em infraestrutura urbana e em sistemas de drenagem, dispondo cada vez mais de edifícios residenciais densos e irregulares quanto à sua construção, além de impermeabilizar o solo. Muitas vezes, essas construções ficam sujeitas aos desastres naturais, principalmente, por fortes precipitações, contribuindo para a degradação socioambiental da cidade. A compreensão sobre essa expansão urbana, em Gonaïves, com relação às inundações frequentes, às vulnerabilidades socioambientais e às desigualdades econômicas, se torna mais do que necessária para planejar uma cidade mais resiliente e sustentável para a população urbana.

Essa dissertação investiga – guiada pelas fotografias do francês Marcel Gautherot agenciadas ao longo dos primeiros 40 volumes da Revista do Patrimônio, publicada pelo IPHAN – o uso da imagem fotográfica como instrumento de construção, renovação e instauração de visualidades para o patrimônio cultural brasileiro. Em especial, três edições funcionam como disparadoras da reflexão: n.19 (1984), n.26 (1997) e n.27 (1998). Ao enfrentá-las, fez-se necessário o uso de conceitos como guias de análise, como seleção, exclusão, repetição e projeto gráfico, além dos próprios conceitos presentes no título: editoria, fotografia e patrimônio. Com o auxílio destes termos, foi possível orbitar em torno das motivações institucionais e editoriais que montaram uma plataforma visual comum para nossa herança nacional, passando pelas condições de produção editorial e pelo desenvolvimento dos campos da fotografia e do patrimônio no Brasil. Para além do que as revistas apresentam enquanto objeto finalizado, busca-se entender os bastidores – por meio de documentos e de fontes orais – dado que o que precede o produto-revista é o que efetivamente resulta em visualidades oficiais, sua recepção e instauração. A interseção entre os campos editorial, fotográfico e patrimonial, portanto, é o local metafórico onde esse novo objeto, essa re-montagem em forma de dissertação, se desenvolve.

Esta investig.ação discute sobre as violações de direitos e engajamentos comunitários nos processos de reestruturação urbana do Centro Antigo de Salvador. Por meio de uma abordagem que relaciona a formação socioespacial e as relações assimétricas de poder baseadas no racismo e na discriminação social, buscamos refletir sobre como têm sido moldado um tipo neoliberal de planejamento e gestão urbana que segue atualizando processos históricos de vulnerabilização de territórios negros e populares. Articulando as noções de dispositivo de racialidade (CARNEIRO), pensamento composicional (FERREIRA da SILVA) e ativismos cartográficos (SANTOS), cartografamos as diversas atuações de gestores públicos e iniciativas privadas em torno de uma produção urbana corporativa e notadamente racista, como também as atuações sociais protagonizadas por comunidades e movimentos organizados em torno das lutas pela permanência, por moradia popular, pelas infraestruturas e pela garantia de amplos direitos. Para isso identificamos, dentro de um recorte temporal entre 2010 e 2020, um conjunto heterogêneo de leis, ações de ordenamento urbano, intervenções arquitetônicas e urbanísticas, enunciados discursivos, violações de direitos, lançamentos imobiliários e outras práticas institucionais no âmbito do planejamento e gestão do Centro Antigo. Atuações estas entendidas aqui como procedimentos de controle que atualizam uma matriz colonial e racial de poder. Concomitantemente, colocamos em relação as atuações sociais de mobilização com, intervenções em espaços institucionalizados da participação, atos públicos, notas, manifestos, postagens e ações de cuidado coletivo desenvolvidas por uma rede de colaborações comunitária que mantêm e sustentam a vida destes territórios. Em busca de compreender os complexos jogos de força constituintes destes territórios permeados por violências, ordenamentos, resistências, cooperações, negociações e disputas, acionamos metodologicamente a prática cartográfica como modo de pensar-atuar em situações conflitivas-colaborativas. Além de ferramenta visual de fabulação crítica e análise territorial, utilizamos das cartografias multilinguagens como instrumento de ação social e política. Numa perspectiva de um engajamento prático, de viés extensionista, as investig.ações cartográficas visam contribuir com o alargamento das compreensões públicas sobre as realidades socioespaciais do Centro Antigo e colaborar com as estratégias de lutas de comunidades e movimentos locais. Para isso apostamos na construção de uma plataforma virtual colaborativa como possibilidade de compartilhamento e acesso ao banco de dados e às cartografias realizadas neste fazer gráfico-dissertativo.

A tese procura investigar os processos de transformação urbana contemporânea da cidade da periferia do capitalismo segundo práticas, discursos e agendas neoliberais que levam a produtos urbanos ilusórios e a artificialidades urbanas. Para isso a investigação se embasou na literatura acadêmica específica nacional e internacional, na análise documental, em entrevistas e em dados primários, tomando por objeto específico a cidade de Salvador (Bahia, Brasil), em especial parte do Centro Histórico de Salvador (CHS), como a Rua Chile e entorno. A estrutura do trabalho parte da análise do contexto mais amplo, identificando lógicas e fenômenos que dialogam e ajudam a compreender a realidade local. Assim, o primeiro capítulo analisa a realidade das cidades latino-americanas e, dentro delas, algumas especificidades brasileiras, marcadas por questões urbanas crônicas e por soluções pouco assertivas. O segundo capítulo apresenta como a urbanização capitalista pode ser disfuncional, e ainda mais para as cidades em desenvolvimento, produzindo milhões de metros cúbicos de concreto e aço em projetos caros, pouco equilibrados entre o poder público e o poder privado, e mesmo desnecessários. O terceiro capítulo estreita a investigação à realidade dos distritos culturais localizados nos centros tradicionais ou históricos, sinalizando como são mescladas as lógicas do turismo, do patrimônio e da economia criativa muitas vezes em função da gentrificação e da economia imobiliária. O quarto capítulo analisa o CHS da história recente até sua realidade contemporânea, marcado por projetos públicos e projetos privados como o Bahia Creative District na Rua Chile, constatando a reprodução das lógicas apresentadas ao longo da tese e evidenciando a incompatibilidade entre as práticas e os discursos de “revitalização” com o que seria de fato mais importante para o CHS. Por fim, a tese aporta uma série de questões e reflexões novas pertinentes ao papel contemporâneo da urbanização no âmbito do capitalismo, evidenciando como a agenda das “boas práticas urbanas” ofusca problemas centrais; como o fisiologismo público-privado se baseia em frágeis “verdades presumidas” e tem gerado “pseudo-soluções” e; como a ideia da “produção de artificialidade urbana” permitiu não apenas conciliar, mas ir além da análise pelo viés da gentrificação.

Na primeira década deste milênio, no Brasil, a noção de mobilidade emergiu como promessa de transformação das cidades, do trabalho, da economia e da vida urbana apoiada no imaginário de cidades mais humanas orientadas para o pedestre e para o ciclista. Um novo consenso ali se formou entre Estado, setores econômicos e movimento social ao mesmo tempo em que as classes médias voltaram a pedalar no meio urbano. Esta tese propõe entender como a necessidade de construção de um “novo espaço” para uma “nova fase do capitalismo” propiciou a interação entre diferentes agentes (do movimento social ao sistema financeiro) sob o mesmo contrato da defesa da noção de mobilidade. Tomando o cicloativismo paulistano como recorte e as proposições de Boltanski e Chiapello sobre a constituição de um “novo espírito do capitalismo”, levantou-se a hipótese de que o boom do cicloativismo e do uso da bicicleta por parte das classes médias teria sido a expressão de superfície de uma conjuntura que associou racionalidades e subjetividades que se articularam na determinação dos sentidos da produção de uma “nova cidade” mais sintonizada com o “novo espírito” que se instalava. A mobilidade foi assim analisada dentro do contexto de uma história mais longa enquanto uma instância da noção mais abrangente de movimento. Chegou-se a conclusão que se no segundo espírito do capitalismo a bicicleta teria emergido enquanto um dos símbolos da crítica ao mundo industrial e da crítica à noção moderna de transporte, esta mesma bicicleta e suas lutas foram ressignificadas na emergência do terceiro espírito, podendo assim figurar como base do novo sistema de justificativas do novo mundo por projeto. No Brasil, o ativismo da bicicleta se constituiu ainda enquanto instrumento de mobilização, de engajamento de jovens e de sua adaptação às novas regras de funcionamento do mundo por projeto.

Nos últimos 50 anos o Brasil passou por uma série de transformações na forma de produzir o
espaço urbano. Com o declínio do período autoritário e com o processo de reabertura política,
iniciou-se um momento diferenciado de construção da política urbana na qual as lutas dos
movimentos sociais passaram a ser incorporadas de diversas formas em diversas partes do
território nacional. Uma dessas experiências, que emergiu nesse contexto, é a aplicação das
ZEIS (Zonas Especiais de Interesse Social) nos zoneamentos municipais reconhecendo
territórios populares e buscando proteger os mesmos das consequências negativas da atuação
do mercado imobiliário. Uma das primeiras experiências deste instrumento ocorreu no Recife
(PE), na década de 1980, e tem como especificidade a construção de um sistema de gestão
participativa conhecido como o PREZEIS (Plano de Regularização das ZEIS). Ao longo de quatro
décadas, essa política pública se consolidou, garantiu conquistas, mas atravessou por altos e
baixos. Tendo em vista as "recentes" transformações da política brasileira. que atravessa por
um momento de desmonte e retrocesso desde a escala nacional até os governos locais,
cumpre avaliar os impactos que isso tem causado na política de ZEIS do Recife. Desta forma,
esta pesquisa teve como objetivo investigar como, ao longo do tempo, os conflitos e disputas
(em suas dimensões física, legal e simbólica), entre os diversos agentes (organizados nas
categorias Estado, mercado e movimentos sociais), interferem na produção da política urbana,
em especial a de ZEIS. Para trazer mais profundidade às análises, a ZEIS Entra Apulso foi
tomada como estudo de caso para guiar a investigação ao longo de três períodos: momentos
finais da ditadura (1970-1980), construção e implementação do PREZEIS (1980-2000) e o
período mais recente (2000-2019). Para cumprir com o que foi dito, realizou-se revisão
bibliográfica e análise de documentos oficiais, que foram confrontados com entrevistas de
personagens importantes, tanto no caso de Entra Apulso, como no contexto geral da cidade.
Com resultados, observou-se que as ZEIS são disputadas em quatro aspectos: i) na sua
existência; ii) na definição do seu perímetro; iii) nas perspectivas de urbanização e
regularização fundiária; e iv) na aplicação e gestão de parâmetros e demais instrumentos
urbanísticos. Observa-se também que, no período mais recente, o Estado tem cada vez mais
perdido o protagonismo da gestão da política pública, dando espaço para que os agentes do
mercado imobiliário assumam esse papel. Por parte dos movimentos sociais, a tônica é de
tentar recuperar o prestígio do PREZEIS e, sobretudo atualizá-lo para as novas demandas que
tem surgido.

Este trabalho tem como objetivo relatar uma pesquisa sobre as técnicas de restauração de azulejos portugueses antigos, aplicadas em obras do conjunto arquitetônico do Estado da Bahia. Foram investigadas e descritas as técnicas restaurativas e conservativas aplicadas em casos de intervenções executadas, avaliando o tipo de técnica utilizada. Para isso, foram identificados critérios, que permitiram descrever a trajetória das diversas metodologias empregadas, apontando o que se tem realizado, nos últimos tempos, nessa área. O estudo incluiu visitas a fundações e centros documentais e consultas a acervos particulares e a instituições públicas e privadas para acesso a documentos originais. A pesquisa bibliográfica sobre os azulejos portugueses antigos, dada a escassez de informações escritas sobre esse tema, foi aprofundada e ampliada com a identificação de diferentes aspectos envolvendo a restauração das peças azulejares, o que resultou em novas análises e interpretações da importância da restauração do bem artístico, cultural e histórico do azulejo português.

Esta pesquisa busca apresentar possibilidades para uma prática expandida do urbanismo através do seu cruzamento com processos experimentais e coletivos do campo da arte e do design gráfico-editorial. Para isso, coloca em movimento um conjunto de ideias, práticas e imagens (técnicas e metafóricas), tendo como principal inspiração metodológica e epistemológica o modo de pensar proposto pelo historiador da arte alemão Aby Warburg em seu Atlas Mnemosyne (1924-1929), recentemente explorado em profundidade por teóricos como Georges Didi-Huberman (2013) e Paola Berenstein Jacques (2020). Compreendido não só (mas também) como gênero editorial e científico, o atlas é apresentado a partir de múltiplas perspectivas, numa tentativa de escavar alguns pontos do amplo território de sentidos e migrações que se constituiu ao longo de cinco séculos no entorno deste vocábulo. Longe de tentar compor um panorama histórico ou teórico exaustivo, essa sondagem busca antes encontrar pontos em que se possam tecer relações, expandidas a partir do cruzamento com processos artísticos, antropológicos e urbanísticos contemporâneos, além de processos de experimentação realizados paralelamente ao desenvolvimento da pesquisa. A coleção de fragmentos, em constante recombinação através da experimentação com diferentes suportes, ajuda a pensar ainda as coimplicações entre formas, processos e maneiras de espacialização do conhecimento. A imagem fugidia e multifacetada que se compõe nesse processo, apresenta uma forma de pensar o espaço urbano que, impura, múltipla, imprecisa e sempre inacabada como é a própria cidade, recusa a rigidez dos modelos científicos e técnicos em prol da experimentação crítica e coletiva guiada pela mobilização da imaginação.

Esta Dissertação de Mestrado desenvolvida no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal da Bahia, traz à tona a relação entre a segregação socioespacial e a mobilidade urbana na periferia de Salvador, com recorte espacial para o bairro de Cajazeiras XI. Inicialmente, são feitas reflexões conceituais sobre os temas abordados com vistas a embasar toda os temas que permeiam a discussão.
Foi utilizado o método de aproximação na intenção de conhecer as particularidades do bairro, para então realizar a pesquisa empírica, ressaltando as narrativas dos moradores do bairro, tanto na análise da infraestrutura do bairro, quanto nos deslocamentos por transporte coletivo.
O estudo busca relacionar a questão da periferização socioespacial, com foco sobre a cidade de Salvador, seus projetos urbanísticos e quais os reflexos em relação aos deslocamentos de pessoas em situação de segregação socioespacial.
O caráter sociopolítico da discussão permitiu que fosse realizado o estudo através de percursos reais dos moradores, que nos permitiu a realização de material documentado para fins de produção do trabalho. Esta etapa só foi possível graças às pessoas que aceitaram narrar seu cotidiano durante deslocamentos, o que nos permitiu evidenciar o caráter segregador e excludente dos bairros periféricos e da infraestrutura oferecida.

A produção do espaço urbano nas cidades brasileiras ainda remonta à forma pela qual se deu a distribuição de terras no país desde sua conquista. Contexto este em que uma pequena parcela da população goza desde então de amplo acesso à propriedade privada – terra/ moradia, em detrimento da camada mais densa e menos abastada, colocada à margem e ceifada de tais direitos ao longo da história. Tal fator permanece corroborando para o cenário de disparidade social e se reflete na configuração dos espaços urbanos até os dias atuais, sobretudo em áreas litorâneas, cujo apelo da vilegiatura se coloca como atrativo primaz para o capital imobiliário, o qual norteia a produção do espaço de acordo com os interesses e estratégias dos agentes que promovem essa produção, determinando assim onde e como serão ocupados determinados trechos urbanos. Desta feita, o trabalho se volta para o estudo da produção do espaço urbano em áreas de vilegiatura, tendo como estudo de caso Ponta de Campina, bairro do município de Cabedelo, cidade da Região Metropolitana de João Pessoa – PB, com vistas à interferência do capital imobiliário no processo de ocupação do bairro, em que pese a disseminação dos empreendimentos residenciais em suas glebas – sobremaneira à beira-mar – enquanto remanescentes de terras não loteadas do litoral norte da Grande João Pessoa.

Esta tese tem como ponto de partida a constatação do distanciamento existente entre as práticas de ensino, majoritariamente realizadas nas escolas de arquitetura e urbanismo, e as diversas realidades populares coexistentes no país. Tal distanciamento é aqui entendido como parte significativa de um sistema mais amplo, que tem no ensino algumas de suas engrenagens que atuam na conformação de um campo de atuação elitizado, que se desenvolve a despeito das desigualdades que caracterizam historicamente a sociedade e as cidades brasileiras. Esse entendimento orienta o escrutínio de perspectivas de aproximação entre o ensino de arquitetura e urbanismo e as realidades populares, na intencionalidade de complexificá-lo, através da multiplicidade de questões que emanam dessa aproximação.

O campo da pesquisa se configurou como um conjunto de iniciativas de extensão e ensino, que confluíram nas interações projetivas que envolveram professoras e estudantes da FAUFBA, e moradores e suas casas autoconstruídas no bairro popular da Gamboa de Baixo, em Salvador-BA. As interações analisadas ocorreram através de ciclos de diferentes intensidades, tendo sua maior concentração nos anos de 2018 e 2019. Este conjunto de iniciativas de interação entre universidade e comunidade, nos levou a conceituar o Arranjo Extensionista, como uma articulação entre diferentes possibilidades disponíveis nas estruturas universitárias, envolvendo formas adaptáveis de lidar, por um lado, com as assincronias temporais existentes entre os processos comunitários e os processos acadêmicos, e por outro, com as lacunas e limitações características de cada iniciativa universitária envolvida no arranjo.

A análise dos indícios e aprendizados que afloraram nas interações com a Gamboa, nos levou a observar as dimensões da política, da cultura e da tecnologia como chaves de leitura fundamentais para a compreensão das mazelas do ensino, que se mostraram diretamente conectadas ao afastamento existente entre o ensino e as realidades populares. A observação dos dados sobre o prisma destas três dimensões, explicitou que os aprendizados com que interagimos eram bastante distintos daqueles com que as(os) estudantes estavam mais acostumados nos ambientes de formação. Esses diferentes aprendizados compõem um matiz de tensionamentos, gerando o que entendemos ser as zonas de tensão que convivem no ensino de arquitetura e urbanismo.

A interação com a realidade da Gamboa de Baixo nos informou sobre outras formas de ensinar e aprender, que extrapolam os espaços das salas de aula e os agentes universitários, permitindo a abordagem de uma variedade de outros temas e questões que enriqueceram as atividades de ensino pesquisadas, ao mesmo tempo que indicaram a necessidade de superação de formas de pensar estruturadas institucionalmente ao longo de décadas. A partir da experiência da Gamboa, utilizando metodologias de prototipagem e experimentação que se baseiam nos princípios do código aberto, destacamos caminhos e apontamentos para a maior aproximação entre o ensino e as realidades populares, através de práticas de ensino que apontam outras formas do ofício para arquitetas(os) e urbanistas.

Palavras Chave: ensino e extensão, arquitetura e urbanismo, arranjo extensionista, zonas de tensão, pedagogia da extensão.

A presente tese traz tensionamentos do ensino-aprendizagem de Arquitetura e Urbanismo nas graduações a partir de problematizações cognitivas do próprio corpo – enquanto sentir-pensar-agir sujeitados ao sistema ou desviando dele em emancipação e autonomia – e das experiências de uma professora-arquiteta. Percorrendo caminhos metodológicos construídos com base na pesquisa-intervenção, a tese vai sendo tecida sensivelmente como uma teia, território existencial no qual a pesquisadora-professora-aranha, em conversações com outros professores de Arquitetura e Urbanismo e estudantes do mesmo curso busca, através de movimentos de abertura para as múltiplas realidades do mundo, incorporar saberes e aprimorar habilidades para aprender a aprender e para investigar experiências de outros a fim de possibilitar novas invenções de si mesma e também desse mundo em sua pluralidade. Atravessam esses movimentos a educação pela atenção consciente, as improvisações emergidas de agenciamentos em devir, os processos de cognição inventiva e a pedagogia ludo-sensível. A tese traz ainda alguns resultados sobre a reverberação dos estudos, das reflexões e das criações desenvolvidos no decorrer da tese-teia quando levados para a construção didático-pedagógica de três componentes curriculares do curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Juiz de Fora: Fundamentos de Arquitetura e Urbanismo, História e Teoria em Arquitetura e Urbanismo 7 e Projeto de Arquitetura e Urbanismo 7.

Partindo do pressuposto de que o Patrimônio Cultural é de todas as pessoas, moradores, turistas e frequentadores em geral, entende-se que, para garantir sua apropriação com segurança, conforto e autonomia, o espaço precisa ser acessível. A acessibilidade espacial compreende quatro dimensões: deslocamento, uso, comunicação e orientação espacial, contemplada a partir das características formais da arquitetura e do meio urbano e de diferentes formatos e tipos de sinalização. Diante da dificuldade de adaptação de áreas históricas à acessibilidade, justificada pelas características físicas e restrições legais, recomenda-se a implantação de Rotas Acessíveis – trajetos contínuos, desobstruídos e sinalizados – que conectem espaços livres e edificações. Nesse sentido, a tese trata da importância da instalação de sinalização urbana acessível nos sítios históricos urbanos, considerando as deficiências e habilidades da população, as especificidades locais e os elementos referenciais da paisagem. Para verificar a relação entre o contexto urbano e a sinalização urbana existente nas rotas acessíveis implantadas em sítios históricos, analisou-se as experiências de Olinda e Salvador. A metodologia da pesquisa incluiu levantamento bibliográfico, levantamento documental, pesquisa de campo e análise dos resultados. Em campo, realizou-se visitas exploratórias para reconhecimento das rotas, mapeamento dos signos e elementos referenciais da paisagem, levantamento e caracterização da sinalização existente. Após tabulação e análise dos resultados, constatou-se a insuficiência de placas e mapas, a degradação e falta de manutenção da sinalização existente e a falta de integração entre contexto urbano e recursos para orientação implantados.

Analisar a questão da moradia, no sentido mais amplo do habitar, vai além do acesso a unidades habitacionais entendidas simplesmente como abrigo. A moradia é constituída por um conjunto de elementos essenciais, supondo a existência de infraestrutura urbana, serviços urbanos, além da inserção urbana e atributos para a vida comunitária. Considerando a moradia como um direito fundamental, assegurado pela Constituição Federal de 1988, e importante na composição socioespacial da cidade, os espaços livres e as áreas de uso comum, próximos às habitações, possuem uma dimensão relevante para o bem-estar dos seus habitantes e fortalecimento do coletivo. Nessa última década mais de quatro milhões de novas habitações foram construídas pelo programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) no Brasil, sem que os espaços livres fossem objeto de atenção nos projetos executados, com fortes críticas sobre a inserção urbana desses empreendimentos e também na omissão no trato das suas áreas de uso comum. Nesse sentido, a presente dissertação tem como objetivo realizar uma análise qualitativa da inserção urbana, dos espaços livres e das áreas de uso comum em empreendimentos provenientes de duas modalidades distintas do PMCMV, denominados Empresa e Entidade Urbana, à luz das legislações federais, municipais e das normativas do PMCMV. Busca-se avaliar como foram normatizadas e abordadas a criação desses espaços, nas diferentes fases e modalidade do Programa, verificando se as normas adotadas direcionaram para a criação de lugares de moradia com a qualidade necessária para se viver em comunidade. Para isso, toma-se como estudo de caso os empreendimentos: Residencial Fazenda Grande 8B (Empresa) e o Condomínio das Mangueiras (Entidade), implantados em Salvador, Bahia, ambos inseridos na Faixa 1 e implementados na 1ª e 2ª Fase do PMCMV. A metodologia adotada nesta dissertação baseia-se na utilização de três escalas de análise: Escala Macro: cidade; Escala Meso: entorno; e Escala Micro: empreendimento e seus espaços livres e áreas comuns. Os resultados alcançados apontam a falta de atributos para uma boa moradia com a implantação dos empreendimentos no município de Salvador. Apesar da consolidação de uma legislação que traz indícios de como produzir adequadamente as moradias, estas não foram plenamente concretizadas na implantação dos empreendimentos na cidade. Nesse panorama considere-se urgente não apenas a análise crítica ao Programa e às suas normativas, pois, “nunca é demais repetir que não é por falta de planos e nem de legislação urbanística que as cidades brasileiras crescem de modo predatório” (MARICATO, 2000, p. 147). Deve-se pensar em programas de pósocupação que viabilizem uma maior urbanidade para os moradores desses empreendimentos que já se encontram implantados no município de Salvador.

Nesta dissertação refletiu-se sobre o Conjunto Residencial Salvador, o qual foi produzido no
final da década de 1940 pelo Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários – IAPI
na capital baiana. As análises que resultaram neste trabalho, foram desenvolvidas partindo
da relação deste conjunto habitacional com as diferentes categorias de “modernidades” e
da aplicação de distintos conceitos de “habitações mínimas”. Amparado por procedimentos
metodológicos que englobaram discussões teóricas, estudos de casos e análises de dados,
buscou-se alcançar os propósitos da pesquisa a partir das seguintes etapas: identificação dos
conceitos e questionamentos de modernidade(s) dominantes a partir de publicações Latino-
Americanas, com o propósito de expor algumas categorias de análise do objeto da pesquisa;
reflexões sobre os debates a respeito da habitação mínima, principalmente aqueles
relacionados com o segundo Congresso Internacional de Arquitetura Moderna (CIAM) e com
os primeiros Congressos Pan-Americano de Arquitetos (CPA), os possíveis ecos desses
debates em território nacional no início do século XX, marcados sobretudo pelas atuações
habitacionais do IAPI, assim como aqueles ocorridos em solos baianos, promovidos
principalmente pelo Escritório do Plano de Urbanismo da cidade do Salvador (EPUCS);
desenvolvimento de análises a respeito do Conjunto Residencial Salvador (CRS), abordando
desde a escolha do sítio, passando por seus aspectos arquitetônicos que apontaram
aproximações com determinados conceitos da habitação mínima, assim como apresentação
de possíveis relações com outros conjuntos produzidos pelo IAPI, seguida por explorações a
respeito das apropriações e transformações contemporâneas; por fim, reflexões finais do
autor sobre o CRS, apoiadas nas bases teóricas previamente apresentadas.

A presente pesquisa investiga a relação entre a adaptação do patrimônio arquitetônico brasileiro a um novo uso museológico e a preservação dos valores culturais desses bens. São analisadas 23 intervenções de implantação de museus com acervo próprio, no território nacional, em sedes construídas originalmente para abrigar outros usos e adaptadas ao uso museológico a partir da década de 1990, e protegidas legalmente e individualmente como bem cultural. Os impactos identificados das adaptações na arquitetura preexistente são agrupados em impactos externos, destacando-se situações de alterações pontuais, ampliações externas e construção de anexos; impactos internos, tratando do tamponamento de vãos, alterações na compartimentação, alterações no tratamento de superfícies e inserção de novos elementos, assim como da sobreposição da expografia à arquitetura; e os impactos nos fluxos de circulação, consistindo ora em alterações pontuais, ora em modificações mais expressivas. A análise de cada impacto é feita à luz de quatro princípios da corrente teórica do restauro crítico-conservativo: a preservação da imagem da obra, a mínima intervenção, a distinguibilidade e a unidade monumento e ambiente. Como resultado, evidenciam-se sejam os impactos que mais frequentemente prejudicam a preservação dos valores culturais do nosso patrimônio arquitetônico na adaptação a novos usos, sejam estratégias positivas de conciliação das novas demandas com a preexistência. Coloca-se em discussão, por fim, a aplicação rígida e literal de princípios teóricos ao se conceber uma intervenção sobre o patrimônio arquitetônico, apontando-se a necessidade de interpretação de tais princípios, conforme os condicionantes apresentados em cada situação

A presente dissertação teve por objetivo analisar hortas urbanas em Salvador, sendo elas localizadas nos bairros de Saramandaia, Pituba e Parque São Bartolomeu, explorando as relações que os processos que as subjazem possam ter com dimensões do conceito do direito à cidade, introduzido por Lefebvre e dimensões do conceito da sustentabilidade, posteriormente introduzido por Sachs.  Os objetivos específicos foram: observar os diferentes tipos de hortas urbanas a partir de exemplos internacionais e nacionais, de forma a obter maior compreensão do objeto de estudo indicado no presente trabalho; compreender as complexas e diferentes finalidades e modos de fazer que envolvem a prática das hortas no território urbano; e analisar os aspectos socioeconômicos e território-ambientais, nos três recortes empíricos, produzidos a partir das transversalidades entre os conceitos citados, nas hortas estudadas. Consideramos importante compreender as realidades vividas pelos agricultores, contextualizando-as em Salvador, onde as aplicações de investimentos, projetos e programas ocorrem de forma diferenciada no espaço, acentuando as desigualdades sociais, territoriais, econômicas e ambientais.  O uso e ocupação do solo, bem como a disponibilidade de recursos e incentivos públicos tornaram-se eixos de partida para a construção do trabalho, gerando diferentes apropriações da atividade e do espaço urbano e diferentes necessidades e demandas dos grupos envolvidos, o que acarretou aspectos específicos dos conceitos utilizados como embasamento teórico. Os resultados evidenciaram que a prática de hortas urbanas num território social e econômico tão distinto tem fins diferenciados: enquanto uma prática da população de baixa renda, as hortas vivem em territórios urbanística e ambientalmente vulneráveis, tornam-se resistência, em conflito com as necessidades de outros atores sociais ou os usos estabelecidos institucionalmente; e, enquanto prática “inovadora”, realizada pela classe média e alta, é um modelo a ser implantado, recebendo incentivos e visibilidade. Reforça-se que o processo de exclusão e desigualdades existentes ao longo do território soteropolitano afetam mais que diretamente a fragilidade ambiental de populações e a prática da sustentabilidade. A busca de um modelo local, guiado por princípios do direito à cidade se torna importante ferramenta de liberdade de práticas e invenções de direitos, em busca de uma cidade mais plural, justa e democrática.

A autoconstrução é um fato no território brasileiro, um fato de dimensões oceânicas. As

pessoas autoconstroem suas casas a partir das condições vividas, impostas e/ ou escolhidas

quase sempre sem a participação de arquitetos. Os modos de fazer e seus processos ainda

são poucos compreendidos, e essa incompreensão dificulta que os saberes dos arquitetos

urbanistas se estabeleçam com maior êxito nos territórios autoconstruídos. Esta tese

considera que os processos da autoconstrução são atravessados por uma “outra lógica” do

fazer, pois a condição de vida é outra, em relação ao que se considera para pensar a lógica

dos modos de fazer arquitetônico. A reflexão construída indica um caminho para se

compreender essa lógica. Argumenta que a autoconstrução é uma obra aberta dentro da

condição que lhe é característica, que permeia a escassez. Aberta a múltiplos diagramas. Onde

diagrama é uma exposição de relações de forças, conceito desenvolvido por Deleuze.

Entende-se que essas forças, são advindas do consenso da macropolítica que atravessam os

indivíduos e/ ou coletivo de indivíduos que autoconstroem. As relações dessas forças podem

ser explicitadas por múltiplos diagramas, pois são múltiplas também as forças que atravessam

a condição de vida. Discussão desenvolvida no capitulo Sementes. No capitulo Campo a partir

das trajetórias da autora são atualizadas oito casas autoconstruídas em dois tempos: em 2006,

a partir de uma pesquisa-ação de assistência técnica e, em 2014, no momento de investigação

do doutorado, são elas: Casa Paciência, Casa Frida, Casa Sonho, Casa Menina, Casa Anjo, Casa

Ampla, Casa Filhos e Casa Dona Flor. Do atravessamento das Sementes escolhidas com o

Campo delimitado têm-se os Frutos. São representados seis diagramas dentro de uma

multiplicidade possível. Três diagramas expõem as relações das forças que caracterizam a

condição de que partem essas pessoas que autoconstroem: o diagrama econômico, o

diagrama solo e o diagrama saberes. E três diagramas conceituais: Paciência, Frida e Sonho,

que representam semelhanças dos processos e da materialidade das casas investigadas.

A tese parte do fenômeno atual da urbanização de espaços litorâneos em uma sociedade do lazer, ubíquo em todo o Ocidente e importante no Brasil das últimas décadas. Trata-se de investigar seus primórdios em Salvador, a partir da premissa de que foram aproximações distintas e convergentes, à maneira de uma polifonia, com linhas melódicas próprias. Por isso a investigação se inicia com a identificação das atividades que modelaram o litoral oitocentista de Salvador. Para depois compreender como funcionava o mundo dos pescadores, fundamental no abastecimento da cidade e na colonização da beira-mar oceânica, cerne dos festejos religiosos marítimos e lastro do futuro uso balnear. A linha de pesquisa seguinte é a toada das sensibilidades. Primeiro, a dos estrangeiros, residentes e visitantes, em seu apreço ao ambiente costeiro por meio da contemplação, do interesse científico, da escolha como sítio de moradia e de um lazer mais ativo, como excursões e garden parties. Em contraponto, estava a sensibilidade dos luso-brasileiros, nos perguntando se havia algum tipo de apreço paisagístico, como se dava, quais elementos e quais valores mobilizava. E dentro do conjunto do lazer oitocentista em Salvador, enfocando o ócio e lazer das mulheres das classes médias e altas, e a amálgama das formas modernas de entretenimento com aquelas tradicionais. À continuação se investiga o deslocamento estival, base para o veraneio moderno, e o caráter particular das festas populares em Salvador e sua relação com o mar, em romarias e procissões náuticas, e como o “passar as festas” constituiu a forma prévia do veraneio nos arrabaldes litorâneos. Com especial atenção à Península de Itapagipe, principal destino de veraneio na primeira metade do século XIX, onde as festas, em especial o ciclo dedicado ao Nosso Senhor do Bonfim, foi fator crucial na urbanização. Destacada foi a toada dos banhos de mar, reconhecendo os hábitos e habilidades indígenas e dos trabalhadores do mar, questionando se houve um banho lúdico propriamente popular e identificando o banho de mar moderno de cunho mais terapêutico. E a apresentação do discurso médico local, com certa defasagem ao enquadrar em seu corpo teórico próprio os casos empiricamente vividos de sanatórios naturais, e o papel do beribéri na vilegiatura de Itaparica e de sítios de veraneio tradicionais. A pesquisa se encerra por volta de 1860, delineando o que esses primórdios estudados precederam e fundamentaram: uma constelação de localidades, em torno da cidade, porém com maior pujança naquelas litorâneas, e suas atividades durante o verão. Dentro desse quadro, o mar apareceria como parte de um espectro de atividades possíveis, enriquecendo-se com o advento do esporte.

A pesquisa propõe um olhar sobre o patrimônio cultural por meio do modo de pensar rizomático, tensionando o conceito identidade nesse campo e no que se relaciona a disputas territoriais no Brasil. O termo “patrimoniologia”, portanto, se refere a essa outra lógica (logia) de pensar o patrimônio cultural, pela aplicação dos princípios do rizoma, elaborados por Deleuze e Guattari. Esses princípios também guiaram a estrutura da tese, configurando-a como um mapa conectável, com várias entradas e saídas de pensamentos: embasamentos teóricos sobre territorialidade, raça e etnicidade; bases conceituais também da antropologia, em especial a chamada “antropologia do político”; aportes decoloniais; apontamentos sobre os conceitos de memória, narração e história; uso de montagens como forma de pensar e conectar, entre outros fluxos. Tais atravessamentos teóricos compuseram este “rizoma de afetos”, a partir de três eventos disparadores: o tombamento do Terreiro Casa Branca, em Salvador/BA, ocorrido nos anos 1980; a desapropriação territorial a favor do Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba/SP, em 2006; e o anúncio de resistência até a morte, feito pelos Guarani-Kaiowá, em 2012, contra o despejo que se pretendia executar em seus territórios no Mato Grosso do Sul. Como vínculo entre esses acontecimentos, está a relação identidade-território, explícita na Constituição brasileira de 1988, que discorre sobre os “grupos formadores da Nação” e seus direitos territoriais inerentes a esta condição. Assim, a pesquisa trata de territorialidades negras e indígenas, destacando o valor político da identidade: identidades assumidas na luta por territórios. Nesse sentido, ao problematizar a controversa noção de identidade, pelo pensamento da multiplicidade (o pensamento rizomático), a tese vê a diferença como um devir, na perspectiva da micropolítica de subjetivações. Todavia, valida a identidade como tática de resistência (ou existência) na macropolítica coexistente. Além disso, coloca em evidência as questões e os agenciamentos trazidos, enfatizando a potência da criação ao deixar pontas soltas que possam se conectar a outras subjetividades. Faz, então, um convite a outras montagens e mapas. “É preciso resistir, criando!”

Tendo em vista a recente produção pelo Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), esta dissertação propõe-se a analisar a produção de habitação de interesse social em áreas legalmente protegidas e com problemas ambientais, assim como os conflitos urbano-ambientais eventualmente surgidos e as mobilizações dos principais agentes envolvidos. Para tanto, definiu-se como estudo de caso o Residencial Coração de Maria e seu entorno, que se encontram dentro da faixa de domínio da Área de Proteção Ambiental (APA) Joanes/Ipitanga e próximos à represa Ipitanga II. Além de, no entorno, estarem instaladaspedreiras, o Aterro Metropolitano Centro (AMC) e uma empresa de abate de animais e fabricação de ração de osso. Para alcançar o objetivo, realizou-se uma revisão das avalições sobre o PMCMV e inserção urbana de seus empreendimentos, enfatizando-se a implementação deste no município de Salvador. Nesse âmbito, contextualizou-se o processo de urbanização brasileiro e discutiu-se a segregação socioespacial e a degradação ambiental por esta fomentada. De modo a avaliar as consequências ambientais da implantação e ocupação desse empreendimento, discutiu-se o conceito de impacto ambiental urbano. Por outro lado, discutiu-se a questão ambiental, o paradigma da sustentabilidade e a noção de justiça ambiental, refletindo-se sobre as condições impostas pelo entorno do empreendimento aos seus moradores. Além disso, discutiu-se as dimensões urbanas e ambientais dos conflitos sociais, depreendendo-se, então, a noção de conflitos urbano-ambientais, de modo a identificar a emergência de conflitostanto em razão da implementação quanto da ocupação do Residencial Coração de Maria. O percurso metodológico realizado contou com coletada de dados secundários, com o objetivo de tanto particularizar a produção do PMCMV no Brasil e em Salvador quanto caracterizar o entorno e o Residencial Coração de Maria; levantamento documental, incluindo os Autos do Inquérito Civil n° 003.0.92269/2013 do Ministério Público da Bahia, que tinha o objetivo de apurar a possível violação à ordem urbanística e ambiental em razão da implementação do Residencial Coração de Maria; entrevistas com moradores do empreendimento, técnicos de órgão envolvidos e movimento social; visitas a campo e observação direta. Em razão da convergência de interesses em implementar o PMCMV, houve, no caso do Residencial Coração de Maria, a inobservância dos zoneamentos urbano e ambiental, foram ocasionados impacto ambientais, além de se supor, caso de injustiça ambiental. As contradições trazidas à tona com a implantação do Residencial Coração de Maria fizeram com que os moradores do entorno se mobilizassem e fomentassem a emergência de conflito urbano-ambiental por sua construção. No seu pós-ocupação, os mecanismos adotados no Programa acabaram por desarticular os moradores do Residencial e esses, por conseguinte, não conseguiram fomentar conflitos, mas continuaram a pautar suas reivindicações

O presente estudo tem como objetivo compreender como a gestão das águas pluviais está inserida no processo de urbanização de Teresina, capital do Piauí. Tal proposito justifica-se pelas características físicas e climáticas da Cidade. Teresina, encontra-se inserida nas bacias hidrográficas Difusa do Médio Parnaíba e do Rio Poti, logo, apresenta por todo seu território riachos, afluentes dos rios principais das bacias, e lagoas naturais, localizadas nos leitos maiores desses rios. Em decorrência do processo de urbanização vivenciado pela capital piauiense, muitos riachos e lagoas foram aterrados, o que tem contribuído para o agravamento dos problemas relacionados a drenagem urbana, como inundações ribeirinhas, enxurradas, deslizamento de encostas e abertura de voçorocas. O desenvolvimento do presente estudo ocorreu por meio de uma pesquisa empírica de caráter qualitativo, focada nas relações que o processo de urbanização estabeleceu com a gestão das águas pluviais. Para o estudo dessas relações foi necessário analisar os agentes produtores do espaço urbano, demarcando as principais intervenções que impactaram no tecido urbano criado e como esse tecido se relaciona com os corpos hídricos existentes no território. O estudo constatou que o processo de urbanização da Cidade, desde a sua fundação, tem ocorrido negando as características naturais do território, em que a mesma encontra-se inserida. Portanto, torna-se evidente a necessidade de uma mudança de abordagem, a começar pela legislação municipal, que devido as contradições entre suas normativas tem permitido ações inadequadas de determinados agentes produtores. Ressalta-se que, essa mudança de abordagem em relação a gestão das águas pluviais não deve ficar restrita somente uma mudança legal, faz-se necessário fomentar a construção de um novo olhar de todos os agentes produtores do espaço urbano em relação as águas urbanas.

Las ciudades a lo largo del tiempo han tenido diferentes tipos de asentamientos, en alguno de los casos tuvieron que cambiar mucho para adaptarse a los cambios sociales; sin embargo, otros se mantuvieron. Existe una tipología urbana que ha sido poco estudiada y hasta algún punto estigmatizada, al que se llamará “Urbes Palafíticas”. Estas urbes, constituidas por palafitas, están ubicadas sobre superficies liquidas (mar, rio, lagunas) pero cercanas a las riberas; desarrollan su día a día entre ambas superficies. En las dos últimas décadas la atención dada a estas comunidades fue creciendo, esto puede deberse a que los proyectos de reasentamiento, generalmente impuestos por el poder público, han sido asociados a la fragmentación y la violencia. El siguiente trabajo busca analizar por qué estos proyectos de reasentamientos y/o saneamiento planteados para dichas urbes, en su mayoría, han fracasado, tomando como caso de estudio el Barrio de Belén (Iquitos-Perú) y apoyados en la triada conceptual del espacio de Lefebvre (Vivido, Concebido y Percibido). Del mismo modo se busca profundizar sobre las características particulares de estas urbes y como estas podrían influir en las futuras proyecciones. La presente investigación se ha estructurado en 5 sesiones. La primera sesión es la introductoria en la que explicará el objeto de estudio, los objetivos, además del marco teórico y metodológico. En la segunda sesión llamada, “La producción del espacio anfibio”, se abordará el surgimiento de estas urbes en perspectiva histórica, lo que ayudará en las siguientes sesiones para términos comparativos. En la tercera sesión, “Urbes Palafíticas en la actualidad”, estudia algunas de estas urbes, que han sido resaltantes, ya sea por su conservación o su reasentamiento. En la cuarta sesión, se analiza el caso del Barrio de Belén y los proyectos de saneamiento y reasentamiento elaborados desde 2012 hasta la actualidad. Por último, en las consideraciones finales, se mostrará que las soluciones planteadas por el poder público para esta urbe incrementaron los problemas sociales y urbanos.

Duas figuras são tensionadas ao longo dessa pesquisa transdisciplinar, representadas pelo louco e pelo turista. Em ambas há um caráter desviante em relação ao comportamento, as normas e ao planejamento urbanos, pois ultrapassam os limiares que enquadram maneiras de fazer, existir e se relacionar com a cidade. Muitas vezes incômodos e fora de lugar, o louco e o turista mobilizam sensações quando a alteridade é possível, permitindo flexionar o olhar no sentido de uma cidadesubjetividade, constitutivas mutuamente. Nessa pesquisa, o que interessa ao criar e perceber conexões entre os campos da Psicologia Social, Urbanismo e Turismo, é investigar como se dão diferentes processos de alienação na produção do espaço e como se faz acolhimento nesse contexto. Acolher e alienar, por essa perspectiva, são ações simultâneas e coexistentes em um mesmo lugar de Salvador, o Centro Antigo. Dois equipamentos de acolhimento são definidos, o Fera Palace Hotel e o Centro de Atenção Psicossocial – CAPS II Jardim Baiano. Usando do método cartográfico para liga-los, e também as figuras que dão sentido a eles, a metodologia reúne diferentes modos de apreensão da cidade (mesclando caminhar, parar, insistir - percorrendo diferentes ruas entre o hotel e o CAPS). Outro instrumento de que se vale a cartografia nessa pesquisa, é a análise de discursos políticos por onde aparecem pistas indicando entendimentos sobre o tema em questão. As possibilidades do método escolhido são muitas e, dentro disso, o corpo vibrátil ativo, de Suely Rolnik, atento e disponível é indispensável para pensar cidade. Por fim, a proposta é abrir espaço e convidar a Amaciar Dureza, lugar da pesquisa em que a narrativa ficcional ajuda a adentrar no texto e permite que um personagem conduza os interessados por uma Salvador múltipla, acolhedora e alienante ao mesmo tempo.

Resumo

Esta dissertação apresenta uma análise do plano diretor da Ilha de Itaparica, aprovado em 2004, a partir das matrizes discursivas da sustentabilidade urbana.  A crise urbana, agravada nas últimas décadas pelo crescimento acelerado e ocupações desordenadas do espaço urbano, acirrou o processo desigualdade social e de degradação ambiental, principalmente em países como Brasil. Todo o processo de transformação urbana refletiu nas formas de pensar e gerir as cidades. Questões relacionadas ao ambiente natural entraram na pauta das políticas urbanas. Surge então, no final da década de oitenta, o conceito de “desenvolvimento sustentável”. Os debates relacionados a esse tema, apesar de apresentarem em comum a idealização de um futuro desejável para os espaços urbanos, possuem diferentes enfoques e representações de cidade, que influenciam o planejamento urbano atual. O desafio em planejar cidades mais sustentáveis engloba as diversas escalas urbanas, porém sua implementação extrapola o âmbito técnico e aponta para uma necessidade de mudança na ordem política e econômica. Equacionar soluções que envolvem preservação do patrimônio ambiental e problemas sociais (desemprego, renda, infraestrutura, moradia, etc.) colocam em cheque postulados do desenvolvimento sustentável como: equilíbrio social, econômico e ambiental. Nesse contexto urbano complexo, conflituoso, marcado por contradições e desigualdades sociais que caracterizam as cidades brasileiras, é possível identificar uma ampla variedade de matrizes discursivas da sustentabilidade urbana. A análise do plano diretor da ilha de Itaparica busca assim, identificar quais matrizes discursivas da sustentabilidade urbana presentes no plano e, consequentemente quais ações previstas, concorrem para uma cidade mais sustentável.