Patrimoniologia: lusco-fusco entre identidade tática e diferença em devir
patrimônio cultural; pensamento rizomático; identidade; território; resistência.
A pesquisa propõe um olhar sobre o patrimônio cultural por meio do modo de pensar rizomático, tensionando o conceito identidade nesse campo e no que se relaciona a disputas territoriais no Brasil. O termo “patrimoniologia”, portanto, se refere a essa outra lógica (logia) de pensar o patrimônio cultural, pela aplicação dos princípios do rizoma, elaborados por Deleuze e Guattari. Esses princípios também guiaram a estrutura da tese, configurando-a como um mapa conectável, com várias entradas e saídas de pensamentos: embasamentos teóricos sobre territorialidade, raça e etnicidade; bases conceituais também da antropologia, em especial a chamada “antropologia do político”; aportes decoloniais; apontamentos sobre os conceitos de memória, narração e história; uso de montagens como forma de pensar e conectar, entre outros fluxos. Tais atravessamentos teóricos compuseram este “rizoma de afetos”, a partir de três eventos disparadores: o tombamento do Terreiro Casa Branca, em Salvador/BA, ocorrido nos anos 1980; a desapropriação territorial a favor do Quilombo da Caçandoca, em Ubatuba/SP, em 2006; e o anúncio de resistência até a morte, feito pelos Guarani-Kaiowá, em 2012, contra o despejo que se pretendia executar em seus territórios no Mato Grosso do Sul. Como vínculo entre esses acontecimentos, está a relação identidade-território, explícita na Constituição brasileira de 1988, que discorre sobre os “grupos formadores da Nação” e seus direitos territoriais inerentes a esta condição. Assim, a pesquisa trata de territorialidades negras e indígenas, destacando o valor político da identidade: identidades assumidas na luta por territórios. Nesse sentido, ao problematizar a controversa noção de identidade, pelo pensamento da multiplicidade (o pensamento rizomático), a tese vê a diferença como um devir, na perspectiva da micropolítica de subjetivações. Todavia, valida a identidade como tática de resistência (ou existência) na macropolítica coexistente. Além disso, coloca em evidência as questões e os agenciamentos trazidos, enfatizando a potência da criação ao deixar pontas soltas que possam se conectar a outras subjetividades. Faz, então, um convite a outras montagens e mapas. “É preciso resistir, criando!”