RELAÇÕES DE PODER NO FAZER-CIDADE: ARTICULAÇÕES EM TORNO DA REFORMA DA ORLA DO RIO VERMELHO EM SALVADOR – BA (2015-2019)
fazer-cidade; relações de poder; urbanismo neoliberal; direito à cidade; espaço público; Rio Vermelho; Salvador.
Neste trabalho, investiguei como os diversos atores da cidade articularam-se, por vezes
estabelecendo relações de poder, para ter seus interesses contemplados no fazer-cidade em
torno e a partir da primeira etapa das reformas executadas pela Prefeitura Municipal de
Salvador na orla do Rio Vermelho, iniciadas em julho de 2015. Busquei, com esta análise,
identificar possibilidades de caminhos na direção de cidades mais equalitárias e democráticas.
Compreendo fazer-cidade como os movimentos e os resultados dos movimentos dos diversos
atores urbanos, humanos e não-humanos, que vão continuamente (re)conformando os
espaços da cidade. Proponho que relações de poder no fazer-cidade correspondem às ações
(movimentos) de atores que visam a inibir movimentos de outros atores nos espaços urbanos
bem como às constantes (re)conformações dos espaços urbanos que também inibem
movimentos de alguns atores. Utilizei, principalmente, as proposições de Agier, Ingold,
Foucault, Latour, Esposito e Lefebvre para refletir sobre o fazer-cidade e as relações de poder
que aí são estabelecidas. Para melhor situar os dados obtidos no campo empírico da
pesquisa, tracei um panorama do fazer-cidade transcorrido em espaços públicos
contemporâneos, que me permitiu verificar, nestes, a utilização dos princípios neoliberais
orientando o fazer-cidade para e pelo mercado e as resistências firmadas contra esta
orientação e que tentam ampliar o direito à cidade. Para realizar o trabalho de campo, utilizei
técnicas e instrumentos comumente empregados na etnografia – tais como contato direto com
o campo, observação participante, anotações em caderno de campo, conversas gravadas,
fotografias, leitura de notícias de jornal e outros documentos, de modo que compus, no texto,
uma descrição de inspiração etnográfica de transformações urbanas – no caso, a reforma da
orla do Rio Vermelho e alguns episódios que lhe sucederam. Segui coletivos que se
mobilizaram em torno da reforma da orla da Barra, que antecedeu a reforma da orla do Rio
Vermelho e a influenciou significativamente. Acompanhei coletivos que se mobilizaram em
torno da reforma da orla do Rio Vermelho e as negociações estabelecidas para modificar os
projetos da reforma a fim de contemplar interesses de alguns atores. Analisei o fazer-cidade
instituído nas reconfigurações dos aspectos formais e da materialidade dos ambientes após
a inauguração da primeira etapa da reforma, com eventuais estabelecimentos de relações de
poder. Observei coletivos que se mobilizaram após a inauguração da primeira etapa da
reforma, trazendo novos contornos ao fazer-cidade, com ocasionais instaurações de relações
de poder. A pesquisa permitiu-me sugerir algumas atitudes a serem mantidas, no que diz
respeito ao trabalho de arquitetos, urbanistas, gestores públicos, bem como no que se refere
às ações de coletivos e outros movimentos urbanos, para seguir na direção de cidades
melhores para todos. A pesquisa também permitiu-me verificar que o projeto urbanístico
neoliberal nunca se realizará por completo – o que não diminui o seu caráter perverso – e que
tampouco o direito à cidade é possível de forma plena e abrangente na cidade que
conhecemos; tal verificação deve não enfraquecer, mas sim revigorar a necessidade de
inventar novas cidades nas quais a democracia e a equidade sejam a regra.